Cidades

Maternidade real: felicidade sim, sacrifício também

Mesmo apaixonadas pela experiência materna, mulheres relatam lado menos romântico que ninguém costuma contar

Por Tribuna Independente com Emanuelle Vanderlei - Colaboradora 11/05/2019 11h09
Maternidade real: felicidade sim, sacrifício também
Reprodução - Foto: Assessoria
Falar sobre a experiência da maternidade quase sempre é sempre falar de felicidade. Momentos de encantamento, de magia, amor incondicional e realização pessoal. Essa visão mais romântica é quase consenso entre mães. Mas tem alguns detalhes que quase ninguém fala. Noites sem dormir, mudanças no corpo, dedicação integral, perdas no mercado de trabalho, cansaço, e muita cobrança. A “maternidade real”, expressão utilizada por algumas pessoas, é uma tentativa de humanizar a experiência e mostrar que sim, é maravilhoso ser mãe, mas que nem sempre é fácil chegar ao final do dia. “É uma experiência solitária”. Mães de primeira viagem relatam que se surpreenderam com momentos que não imaginavam que passariam. “Apesar das pessoas estarem presentes, do pai [do bebê] e da família estarem próximos, têm coisas que não dá para eles ajudarem. Nas madrugadas quando você tá amamentando, por exemplo, ninguém vai ajudar. Não dá para você descansar enquanto alguém fica com a sua filha. Você tem que amamentar e às vezes é de meia em meia hora, de hora em hora... As madrugadas são muito difíceis”, disse Carolina Albuquerque mãe da Júlia há 1 ano e 9 meses. Na gravidez, há mudanças no corpo. Depois, uma mudança total de rotina. Carolina lembra os primeiros momentos que percebeu isso. “A vida de todo mundo continua igual. A vida do pai da Júlia, que era meu marido na época, continuou igual. Ele tirou 15 dias de licença, depois voltou. Ele voltou para academia, voltou a trabalhar, voltou para o futebol, conseguia acordar na mesma hora e dormir na mesma hora que sempre dormiu. Até ficar no celular ele podia. Ele me ajudava, mas a vida dele continua igual e a vida de todo mundo continua igual e a sua muda completamente”. Mariana Lopes, mãe de Maria Flor há quase 1 ano, concorda que é difícil. “Ao mesmo tempo que você ama, você sente muito medo e acha que não é capaz, que não vai dar conta. É solitário. Você tem que vestir, você tem que dar banho, você tem que amamentar, você é você. E é só você. Por mais que minha mãe e meu marido estivessem aqui do meu lado para tudo, quem acordava de madrugada era eu para dar de mamar, para trocar fralda. As amizades somem. Ninguém me disse isso, mas as amizades elas somem”. Com tanta diferença entre o que escuta de outras mães e o que vivem, é comum a mãe desenvolver um sentimento de fracasso, ou culpa. “Você esperou tanto, planejou tanto, quis tanto esse bebê e agora não está feliz e realizada. Eu tô reclamando que eu tô cansada, tô reclamando que eu quero a minha vida de antes, eu quero dormir. Você acha que você tá sendo egoísta demais e não tá aproveitando aquele romance da maternidade. Dizem que filho realiza, toda mulher deveria ter um filho porque ela vai se sentir completa e você não sente nada disso. E aí você diz ‘tem alguma coisa errada comigo porque ninguém se sente assim’”, desabafa Carolina. Depois do susto inicial, elas entendem que tudo se resolve. “É cansaço físico mesmo. Você tá ali sem dormir sei lá quantas horas. Então você tá fisicamente esgotada. Não tem nada a ver com amor, não tem nada a ver com arrependimento, não é isso. Você tá vivendo uma coisa nova e não tem experiência”.