Cidades

Viagem turística pelo bairro do Riacho Doce

Passado histórico com cabanas de pescadores, igrejinha secular, casa de farinha e petróleo inspiraram o escritor José Lins do Rego

Por Tribuna Independente com Claudio Bulgarelli – Sucursal Região Norte 30/03/2019 13h15
Viagem turística pelo bairro do Riacho Doce
Reprodução - Foto: Assessoria
Imagine um cenário paradisíaco, um riacho de água doce se misturando com o mar, as cabanas dos pescadores, uma igrejinha secular, uma casa de farinha e um subsolo rico em petróleo. Pois nesse cenário, na década de 1930, o escritor paraibano, José Lins do Rego, encantado com toda beleza, escreveu Riacho Doce, um dos maiores best sellers do país, que levou a TV Globo a produzir um seriado, ainda hoje na memória de milhares de brasileiros. Muita coisa mudou de 60 anos para cá. O cenário já não é mais tão paradisíaco, o riacho está totalmente poluído, cabanas de pescadores quase já não existem mais. Mas e igrejinha de Nossa Senhora da Conceição continua preservada. A casa grande de Edson de Carvalho, o descobridor do petróleo, ainda está lá, intacta, embelezando a paisagem e a casa da farinha das boleiras é outra atração à parte. Riacho Doce nasceu de um arraial de pescadores, que ninguém sabe dizer quando. Mas, antigo, é. E de mais de um século. Basta observar a arquitetura da igreja Nossa Senhora da Conceição. Sabe-se que sempre foi passagem obrigatória para quem saia da capital em direção ao litoral Norte. A estrada servia de acesso, com uma ponte de madeira sobre o riacho doce. A rua principal, margeando a rodovia AL-101 Norte, tem casas de comércio e residências antigas e novas. A praia é outra atração. E nos anos 60 e 70, se constituía no point da juventude maceioense, com o famoso Bar do Doquinha. A praia, apesar de receber alguns esgotos, é bem bonita e sua beleza despertou o interesse de muitos, que começaram adquirir lotes e construir suas casas de veraneio. Mas Riacho Doce é tudo isso, e muito mais. É o típico lugarejo provinciano, que por mais modernidade que exista, seus moradores ainda conservam alguns velhos hábitos, como se sentar na praça para um jogo de cartas, apesar da violência que faz com que depois de uma certa hora, todos se tranquem dentro de casa. Em dezembro, comemora-se a festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição. A igrejinha se enfeita para receber os fiéis, que rezam as nove noites e no dia exato saem em procissão, com a imagem da Virgem Imaculada Conceição pelas ruas do bairro. Point dos anos 70 Os cinquentões e sessentões certamente ainda tem em mente e não esquecem o Zinga Bar, a primeira boate com luz negra e música mecânica de Maceió e o Bar do Doquinha, que marcaram época no pacato distrito de Riacho Doce da segunda metade dos anos 60 até a primeira década de 70. Frequentar esses dois badalados pontos era obrigatório para quem viveu a juventude naquele tempo. Surgiu ainda à casa da Bahia, também no mesmo local, e muito frequentado pelos jovens, que curtiam as músicas da Jovem Guarda e o puro rock, além do romantismo para dançar de rosto colado. Quem não tinha carro, ia mesmo de ônibus, mas tinha que deixar amanhecer o dia para retornar. A rodovia asfaltada já existia, mas sem o intenso movimento de hoje. E Riacho Doce naquela época tinha a rua principal e a das boleiras, que sempre fizeram parte da cultura local, com seus beijus famosos em toda cidade. No Bar do Doquinha, na Praça principal, se reuniam jovens da classe média para bater papo e saborear a cerveja gelada e os tira-gostos de frutos do mar, enquanto chegava a hora de curtir o resto da noite na pista de dança do Zinga Bar, que começou a mudar o comportamento da juventude, acostumada aos clubes sociais.