Cidades

Grupo SOS Pinheiro pede intervenção da Defesa Civil Nacional

Após avaliar como desastroso simulado de evacuação do bairro, grupo quer maior apoio federal para ações de treinamento

Por Lucas França com Tribuna Independente 19/02/2019 09h02
Grupo SOS Pinheiro pede intervenção da Defesa Civil Nacional
Reprodução - Foto: Assessoria
Após o simulado de evacuação do bairro Pinheiro, no último sábado (16), o grupo SOS Pinheiro defendeu a necessidade de outros treinamentos com a população, que avalia como um desastre o simulado. Segundo Geraldo Vasconcelos, membro do grupo e um dos integrantes da equipe responsável por conduzir e avaliar o plano de evacuação, vai ser solicitada uma intervenção da Defesa Civil Nacional. Para Vasconcelos houve uma falta de sensatez da Defesa Civil local. “Não é mais questão de incompetência é falta de sensatez tratar o povo do Pinheiro dessa forma. O que nós estamos querendo agora é uma intervenção da Defesa Civil Nacional. Estamos trabalhando nesse sentido com a bancada federal do Estado de Alagoas. Já não tem mais sentido a gente ficar na expectativa que se tome uma providência de se estruturar a Defesa Civil, para obter uma resposta mais positiva em caso de acidente. Nós temos prova suficiente que ela não nos dá segurança. Essa é a sensação da população”, afirma Geraldo Vasconcelos. De acordo com ele, a insatisfação foi generalizada. “A população entende que o simulado foi uma ação midiática. Do ponto de vista operacional, houve uma série de falhas. A sirene, por exemplo, não foi acionada para demarcar o início do processo e, por isso, causou um viés no tempo de resposta da população – se você não tem o marco inicial que é a sirene, como você vai calcular o tempo em que essa população vai sair de suas casas e se dirigir aos pontos de segurança. Outra falha, muitas pessoas foram ao local muito antes do horário previsto e alguns cadeirantes ficaram pela rua. Não houve um simulado que tirassem as pessoas em situação de mobilidade, pessoas hospitalizadas em home care”, conta Geraldo dizendo que os órgãos aproveitaram o momento da chegada da população nos pontos de segurança para fazer cadastro de vulnerabilidade social ‘para tentar minimizar prejuízos causados desde 2018’. De acordo com ele, a prefeitura deveria ter se responsabilizado pelos deficientes, idosos e acamados, por meio de um cadastro de vulnerabilidade social, feito para indicar as pessoas com dificuldades de locomoção e auxiliá-las com viaturas. Ele diz ainda que a parte apesentada como sucesso pela Defesa Civil e demais órgãos, na verdade deve-se ao empenho da SOS Pinheiro para que a população participasse do processo. “No entanto, todos os moradores estão se sentindo constrangidos por participar de algo tão midiático que operacionalmente não houve sucesso algum. Após o simulado, no Exército houve uma fala que haveria um momento para avaliação. Mas da forma que eu enxerguei todos os órgãos avaliando como sucesso, duvido que o relatório aponte as causas do fracasso. Então, por este motivo o movimento pretender ir a Brasília solicitar ao presidente a intervenção. Não sei da forma legal como faremos isso, mas não queremos ficar com o peso de dizer que não alertamos as autoridades federais”, conclui Vasconcelos.   Nas redes sociais, moradores demonstram insatisfação [caption id="attachment_280486" align="aligncenter" width="640"] Cadastro de moradores do bairro do Pinheiro feito pela Defesa Civil durante simulado de evacuação (Foto: Edilson Omena)[/caption] Desde 2018, rachaduras e buracos têm surgido no Pinheiro, e muitas casas foram condenadas pela Defesa Civil. Estudos feitos na região ainda não conseguiram apontar as causas do problema. Órgãos competentes realizaram um simulado no bairro, com o objetivo de orientar a população e ‘ensaiar’ o esvaziamento no menor tempo possível caso ocorra algum desastre. O ‘ensaio’ aconteceu no sábado mais nas redes sociais e pelas ruas do bairro, a população demonstra insatisfação com a maneira que foi feita. A assistente social Fernanda Valéria Souza, moradora do bairro participou do simulado e também avalia como um despreparo por parte dos órgãos. “Eu participei da seguinte forma: Minha mãe é idosa, tem mais 70 anos e mora no sétimo andar de um prédio. Então, daqui de cima eu vi e de fato estava uma ‘palhaçada’, eu fiquei impressionada, muita propaganda para nada. Houve divulgação e tudo, mas na prática as pessoas não estavam se deslocando, as pessoas estavam entrando em casa, os carros trafegavam normalmente. Aqui mesmo as equipes nem entraram no prédio. Eu vi bicicletas de entregas de gás e água e o pessoal trabalhando normalmente”, comenta a moradora. Ela disse que como estava atenta ao que estava acontecendo não valia a pena participar. “Como vi nem valia a pena nem descer. O prédio da minha mãe parecia invisível para eles. Vi a impressão das pessoas pelas redes sociais e postei algumas coisas e tem mais de 200 compartilhamentos. Ou seja, muita gente concordou que estava errado, nem sirene tocou. Parecia que éramos palhaços. Colocaram as pessoas nas ruas para ver como seria a ação e nada. Tentaram parar ambulâncias e sem êxito”, diz.   Estado diz que simulado foi sucesso e houve participação da população [caption id="attachment_281013" align="aligncenter" width="640"] Tenente-coronel Moisés Melo diz que nesse tipo de simulação programada não são necessárias sirenes (Foto: Edilson Omena)[/caption] O coordenador da Defesa Civil Estadual, tenente-coronel Moisés Melo, defende que o objetivo do simulado era a participação da população e avalia como positiva a ação. “Sabemos da angústia da população. O objetivo foi alcançado, da população se dirigir aos pontos seguros, e isso foi feito. Essa é a maior prevenção do estado de Alagoas. Para uma situação real, a população chegará bem antes ao ponto desejado”. Em relação às reclamações dos moradores, o coordenador disse que é preciso analisar alguns pontos. “Primeiro ponto – o tipo de simulado foi aquele realizado com dia e hora marcada. A polução tinha conhecimento que no dia 16, das 15h ás 16h, viaturas e equipes de vários órgãos estariam no bairro e a população deveria sair de suas residências e ir para os pontos seguros do bairro. E isso aconteceu. Lá eles foram e caso aconteça algo serão recepcionados pelas equipes da prefeitura. E no segundo ponto que é a maior reclamação dos moradores, a falta de sirenes – nesse simulado não se faz necessário sirenes instaladas no bairro, porque uma das causas que pode causar o desastre é o tremor de terras. Mas, se houver o tremor, a sirene só vai ser acionada após o tremor, então não faz sentido ter. Isso é fato, ninguém tem como prevê o tremor. Outro ponto, as rachaduras significativas - não dá para prevê aumento. E por último, o que pode acionar o plano de evacuação é a chegada de uma forte chuva. E nesse caso emitiremos o alerta gradativo, o mesmo que fazemos na quadra chuvosa para população que mora em área de risco”, explica Moisés Melo. Ele acrescentou que o município estará recebendo uma sala de monitoramento e quando ela for instalada será avaliado se será necessário instalar as sirenes, ‘mas em outros estados já foi visto que é ineficiente – no Rio de Janeiro tocou a primeira vez o povo saiu, na segunda. Já na terceira vez não saiu porque não acontecia nada. Então, tem o lado positivo e negativo. Vamos estudar, para ver se a população pode acreditar neste sistema”, explica. O major disse que o simulado contou com a participação efetiva da população e que o plano de evacuação foi concluído no tempo esperado. “De modo geral foi muito boa à participação da população e dos órgãos que trabalharam de forma integrada. Realizamos simulado de acidentes, mostramos como a população identificar os pontos seguros e chegar nele mais rápido”, avalia.