Cidades

Prática de basquete transforma a vida de cadeirantes

Projeto voltado para pessoas com deficiência promove saúde e possibilita a jovens alagoanos ganharem o mundo

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independenteq 09/01/2019 09h00
Prática de basquete transforma a vida de cadeirantes
Reprodução - Foto: Assessoria
O papel do esporte no resgate da autoestima e na promoção da saúde das pessoas não é muita novidade. Sempre que algum especialista fala sobre hábitos saudáveis, a prática esportiva está no topo da lista. E quando o corpo apresenta limitações isso também se aplica? A resposta é sim. Um time de basquete de cadeirantes está transformando a vida das pessoas em Alagoas. Contrariando a perspectiva de que viver com deficiência reduz as possibilidades, jovens alagoanos descobriram no esporte um novo caminho para ganhar o país e o mundo. O time faz parte de um projeto do Sesi voltado para pessoas com deficiência. Eduardo Andrade, coordenador de vida saudável da instituição, explica a razão da iniciativa. “Se não estivessem aqui eles provavelmente estariam em casa, parados, sedentários, quem sabe até desenvolvendo algum tipo de depressão”. Segundo ele, o time já existe há mais tempo, mas passou algum tempo desativado e só foi retomado em dezembro de 2018. Conseguiram uma parceria com a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) há 2 anos, mas o processo envolve projeto, licitação e outras burocracias, por isso só agora chegaram as cadeiras para a volta dos treinos. Com a doação veio o compromisso, firmado em contrato, de manter a regularidade dos treinos semanalmente, e participar de competições em âmbito estadual, regional e até nacional. Esse estímulo acabou projetando o nome de Alagoas nacionalmente. Participando das competições, os atletas têm sido convocados para seleções Norte-Nordeste e até nacionais. Pablo Lucini, técnico de basquete, é o maior incentivador. Ele já conquistou atletas para o time até em conversas no ponto do ônibus. “É de suma importância para a vida dessas pessoas. Eles chegam duas horas antes do treino, estão muito motivados, empolgados”. Lucini relata o desempenho do time com empolgação, que saiu da 4ª divisão, subiu para a 3ª e agora já está na 2ª divisão nacional. “Estamos entre os 24 melhores times do país, em um total de 120. Para a realidade de Alagoas é algo muito grande”. Não é só a competição, é o convívio social, a amizade entre eles. O grupo tem um total de 23 atletas e já viajou junto para Goiânia, Brasília, Manaus, Aracajú e Bahia. Eles se sentem próximos entrosados, e ajudam uns aos outros fora da quadra. Alguns deles não são alfabetizados, e por conta da atividade esportiva estão conseguindo mudar isso também. “O esporte me resgatou e me trouxe de volta para sociedade”   Uma tragédia que aconteceu há 12 anos foi o momento mais difícil da vida de Carlos Antônio Nascimento. Ao se tornar cadeirante, ele entrou em estado de desespero. “Quando sofri o acidente eu pensei em cometer suicídio, mas o esporte me resgatou e me trouxe de volta para a sociedade. O basquete na minha vida é tudo, mudou a minha autoestima por completo”, descreve emocionado. [caption id="attachment_271754" align="alignleft" width="203"] Coordenador Eduardo Andrade: 'Se não estivessem aqui eles provavelmente estariam em casa parados, sedentários' (Foto: Edilson Omena)[/caption] Hoje, aos 33 anos, ele faz parte da seleção Norte -Nordeste, conquistou a Bolsa Atleta Federal, e participa até de corridas de rua. “Quando sentei na cadeira pela primeira vez eu me apaixonei, não saí mais. Em dias de treino fico aqui os dois horários, paro só para almoçar.” As viagens também trouxeram visibilidade pra Carlos André dos Santos. Ele está no esporte desde os 10 anos de idade, e hoje, aos 18, faz parte da seleção sub 20. O jovem de 18 anos participou de um campeonato nacional em Manaus e ficou entre os 5 melhores da competição. Foi imediatamente convocado para a seleção Sub 20 e está participando de treinamentos para a competição mundial. ACESSIBILIDADE O professor lamenta as dificuldades apresentadas pela falta de estrutura nos transportes coletivos em Maceió. Segundo Pablo, os atletas sofrem para chegar ao treino porque poucos ônibus adaptados são disponibilizados para a população. “Em dias de sol eles têm que esperar muito, às vezes tomar duas ou três conduções para conseguir chegar. Isso tudo dentro de Maceió. Mas fica ainda pior em dias de chuva. É muito difícil”. Não apenas para chegar ao treino, a questão do transporte coletivo preocupa a todos que acompanham de perto a rotina de cadeirantes. Para ter qualidade de vida, uma certa autonomia, é preciso encontrar espaços preparados para isso. O aumento da tarifa de ônibus está em discussão mais uma vez, mas apesar do valor alto, a frota permanece oferecendo más condições à população.