Cidades

Mulheres deixam maternidade para mais tarde

Segundo o IBGE, de um total de 45.248 nascimentos ocorridos em 2017 no Estado, em 11.270 as mães tinham mais que 30 anos

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 02/11/2018 09h18
Mulheres deixam maternidade para mais tarde
Reprodução - Foto: Assessoria
Seja por planejamento ou maior foco na vida profissional, mulheres têm demorado cada vez mais para engravidar. É o que aponta uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada esta semana. Segundo os dados, de um total de 45.248 nascimentos ocorridos em 2017 no estado, em 11.270 nascimentos as mães tinham mais que 30 anos, o que representa 24%. No Brasil, 35% dos 2,86 milhões de nascimentos registrados foram de bebês cujas mães tinham 30 anos ou mais. A pesquisadora Márcia Chaves-Gamboa de 67 anos é exemplo disso. Teve a terceira filha, Márcia, chamada carinhosamente de Marcita, aos 61 por meio de uma inseminação artificial com doação de óvulos. Os dois primeiros filhos dela já têm 44 anos e 40 anos. Márcia conta que a gravidez não seguiu um planejamento. Surgiu de um desejo de ter filhos após o segundo casamento. Apesar das circunstâncias serem totalmente contrárias, ela conseguiu um diagnóstico positivo que contribuiu para a decisão. “Não foi totalmente planejado. Não tinha mais pensamento de ter filho, já tinha cortado as trompas, já tinha dois filhos. Mas aí me casei novamente. Numa ida ao médico fiz uma bateria de exames mais exigentes e quando chegaram os resultados o médico falou que eu tinha condição clínica de uma mulher dez anos mais jovem e que nós poderíamos ter filhos. Fomos encaminhados para clínicas especializadas e conseguimos numa segunda tentativa ter nossa princesa”, detalha. Segundo ela, o caso foi considerado inédito no país. “Foi desafiador para os médicos, tanto para o ginecologista quanto para o responsável pela inseminação. Isso aconteceu em Campinas (SP). Fiz tratamento, já estava na menopausa, houve doação de óvulos. Foi inédito, até pouco tempo eu era uma das mulheres com mais idade a ter filho”. Márcia acredita que a experiência de ter filhos numa fase mais madura da vida ajuda a administrar melhor o tempo e as prioridades da criança. “Dá para perceber nas mães dos colegas da minha filha a total dedicação ao trabalho e quase não tendo chance de cuidar dos filhos. Isso aconteceu comigo. Eu trabalhava pela manhã e a tarde com meus outros filhos, era obrigatório ter babá, e não era tão fácil acompanhar o desenvolvimento. Diferente de hoje, mesmo meu marido e eu trabalhando, nós conseguimos dedicar total atenção. Ela nunca teve babá. Nós cuidamos de tudo. Consigo acompanhar manhã, tarde, noite, diferente quando se é mais jovem que é preciso ganhar a vida. A criança precisa ir mais cedo à escola, ter babá...”, destaca. [caption id="attachment_256417" align="alignright" width="225"] Aos 48 anos, Laudiene Oliveira deu à luz a pequena Isabelle no dia 30 (Foto: Arquivo pessoal)[/caption] As duas gestações da professora Laudiene Oliveira de 48 anos ocorreram de forma natural. No último dia 30 ela deu à luz a pequena Isabelle. Laudiene já é mãe de Caio Eduardo, de 11 anos. Os dois nasceram depois dos 30 anos da professora. De acordo com a mãe de Caio e Isabelle cada filho é uma experiência nova, mas ela acredita que a maturidade ajude na criação dos filhos. “São muitas mudanças, muitas coisas novas, cada experiência é diferente. Mas a maturidade ajuda e muito”, diz. “Se tivesse sido antes, não estaria tão envolvida”   Já a personal trainer Janaína de Almeida, de 43 anos, mãe de Sophia, de 11 anos, conta que planejou a gravidez para depois dos 30 anos porque não se achava preparada para ter filhos muito cedo. “Engravidei com 31 anos, para mim foi no momento certo. Com maturidade para educar, cuidar, ter tempo para ficar com ela. A gravidez foi planejada para um momento onde estivesse pronta para me doar para ser mãe”, diz. [caption id="attachment_256418" align="alignleft" width="300"] Para Janaína de Almeida, tempo de planejamento gerou mais maturidade (Foto: Arquivo pessoal)[/caption] Para Janaína a experiência foi extremamente positiva e mudou sua perspectiva em relação à vida. “Me sinto realizada como mãe. Sinto que a maternidade enalteceu minhas virtudes, já que me preocupo em sempre dar o exemplo correto para minha filha. Se tivesse tido antes, mais cedo, tenho certeza que não estaria tão envolvida com a maternidade como estive depois dos 30 anos. Antes dos 30 era mais egocêntrica”, comenta. PRIORIDADES Na avaliação da psicóloga Aparecida Oliveira a maternidade tem deixado de ser prioridade para as mulheres o que pode explicar porque as gestações têm ocorrido cada vez mais tarde, diferente do que ocorria em décadas anteriores. “A maternidade tem se tornado algo cada vez menos prioritário para as mulheres. Hoje a mulher nessa busca constante de se melhorar profissionalmente, de ter uma vida financeira melhor em busca de ideais e profissões. Além disso, muitos casais optam em não ter filhos, em viajar, sair, conquistar bens. Os valores mudaram na nossa sociedade. Muitas mulheres abrem mão da maternidade para ter outros sonhos. E têm também aquelas pessoas que optam por não ter filhos e adotar um cachorro, por exemplo. As mulheres têm deixado esse objetivo para segundo plano, buscando outras realizações”, diz a psicóloga. Ainda segundo Aparecida, outro aspecto importante na questão é o medo de assumir responsabilidades ainda muito jovens. Além disso, a rotina atarefada e o foco em realizações pessoas e profissionais têm mudado a perspectiva. “Também tem a questão da maternidade assustar. Muitas mulheres ainda acham que não estão preparadas para ser mãe. Para assumir a responsabilidade. Porque criar filho não é fácil, exige dedicação, tempo, ocupa espaço e muitas pessoas acabam fugindo dessa responsabilidade, adiando. Nem todo mundo hoje tem essa disponibilidade, porque as mulheres trabalham tanto ou mais que os homens e para a mulher muitas vezes é mais pesado que o homem. A gente vê mulheres que trabalham o dia todo e precisam deixar filhos em creches e muitas pessoas têm medo de assumir essa responsabilidade”, aponta.