Cidades

Mistério sobre caixas no mar continua

PF também investiga origem do material e aguarda análise realizada na Paraíba para definir se instaura inquérito policial

Por Lucas França com Tribuna Independente 01/11/2018 08h40
Mistério sobre caixas no mar continua
Reprodução - Foto: Assessoria
Mais de 80 pacotes, com cerca de 100kg cada um, contendo uma espécie de borracha sintética, apareceram em praias da costa alagoana nos últimos dias. Além de Alagoas, os pacotes também foram encontrados em várias partes do litoral nordestino, surgiram também em pelo menos seis pontos diferentes e afastados uns dos outros no litoral potiguar, ao longo dos últimos dias, como também no litoral de Sergipe e em praias dos estados do Piauí, Pernambuco, Ceará e Paraíba. Além dos órgãos ambientais, a Superintendência Regional da Polícia Federal em Alagoas (PF) também está investigando o caso e trabalhando para solucionar o mistério. Na última segunda-feira (29), a PF recebeu amostras do material. Mas segundo a assessoria de comunicação do órgão em Alagoas, ainda não há novidades sobre a origem do material. “A PF em Alagoas também está acompanhando o assunto e, no momento, aguarda a conclusão do respectivo laudo correspondente que será expedido pela PF, na Paraíba. Inclusive, por meio de perícia do material, em especial das amostras coletadas naquele Estado. As amostras entregues pelo Ibama deverão ser confrontadas com o material surgido na extensão do litoral nordestino a partir do resultado da análise pela PF na Paraíba. A partir destes resultados é que haverá ou não instauração de inquérito policial pela PF. Por ora, é o que a PF tem para repercutir”, explicou. A assessoria de comunicação disse ainda que não há a indicação do delegado que poderá presidir a instauração de procedimento investigativo. ‘’Todos os delegados estão qualificados para desempenhar a investigação por meio de inquérito policial, caso seja realmente necessária a instauração”. O Instituto do Meio Ambiente (IMA/AL) fez as primeiras análises para verificar se havia algum risco para a população e recomenda às prefeituras que façam o recolhimento e armazenagem em local apropriado. No último dia 25 os técnicos do IMA/AL e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tiveram o primeiro contato com os ‘pacotes’. Imediatamente perceberam que se tratava de material sintético e não biológico, até então já havia rumores de que poderia ser couro de algum tipo de animal. No dia seguinte, os técnicos dos setores de Laboratório e do Gerenciamento Costeiro iniciaram as análises. E de acordo com o gerente de Laboratório, Manuel Messias, foram recortadas amostras e realizada a queima localizada. “Não se trata de látex e sim de uma borracha sintética, derivada de petróleo. A base é o hidrocarboneto. Aparentemente, parece que era borracha compactada e já pronta para uso”, comentou Messias. Há indícios de que fardos tenham se dispersado desde o alto-mar à costa   Outro ponto que chamou a atenção é que há indícios que os fardos tenham se dispersado desde o alto mar até a costa. “Há organismos incrustados que são comuns de águas profundas. Isso mostra que esse material está há muito tempo no mar e que, provavelmente, estava muito longe da costa”, comentou Juliano Fritscher, biólogo do IMA/AL. Os pacotes não têm nenhum conteúdo, apesar das análises feitas pelo IMA/AL ainda não há uma confirmação final de que o material é constituído, não se sabe sua origem, como tantos deles foram parar em todas as praias nordestinas. [caption id="attachment_256100" align="aligncenter" width="730"] 80 pacotes foram encontrados em praias de Alagoas e de mais 5 estados (Foto: Instituto Biota)[/caption] O Instituto Chico Mendes de Preservação e Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também começou na segunda-feira a coletar pacotes na Costa dos Corais, na Região Norte de Alagoas. O presidente do Instituto Biota de Conservação, Bruno Stefanis, falou sobre o monitoramento que está sendo realizado. “Os municípios estão sendo catalogados pelos nossos monitores. Todo dia peço para que eles indiquem quanto e onde foram encontrados o material. Pois a partir disso, é que a gente pode ter  um balanço de municípios, a quantidade que estão sendo registrados”, comentou Stefanis. IMA alerta para o perigo de acidentes   Há ainda o perigo de impacto, principalmente para pequenas embarcações. O coordenador de Gerenciamento Costeiro, Ricardo César, disse que foi acionada a Capitania dos Portos que, por conseguinte, alertou às marinas e federação de vela e motor sobre possíveis riscos de acidentes. “Ainda não se sabe qual a origem desses pacotes por causa da grande quantidade e da forma como dispersou. Já foi encontrado até no Ceará. Há algumas hipóteses, uma delas é a de que alguma embarcação que fazia o transporte tenha naufragado, mas não temos como afirmar. De todo modo, nós repassamos toda a informação que temos para a Capitania”, comentou o coordenador. O IMA disse que não tem como precisar a quanto tempo o material está no mar, mas estava longe da costa  e poderia estar no mar em um período de até dois anos. E que agora, junto a Marinha e demais órgãos irão realizar um levantamento para descobrir se houve algum acidente com navegações que transportava esse tipo de material. As suposições dos técnicos do Instituto é que se foi um contêiner ou uma embarcação que naufragou com esse material, poderia estar submerso até que a oxidação de onde ele estava permitiu que os fardos fossem liberados e as correntes os arrastassem até a costa. Não há registros de acidentes náuticos   No entanto, apesar das suposições dos órgãos, a Marinha do Brasil, por intermédio da Capitania dos Portos de Alagoas disse que não foram registrados acidentes náuticos na região que justifiquem o aparecimento de ‘‘pacotes sem identificação’’. “A Capitania está mantendo acompanhamento junto aos órgãos municipais de cada localidade afim de atualizar informações relevantes. A Capitania dos Portos do Estado comunicou no último dia 26 a existência do material para as marinas e colônias dos pescadores, enfatizando a segurança na navegação, principalmente quanto ao risco de colisão para embarcações de pequeno e médio porte. Adicionalmente, elaborou ‘aviso aos navegantes’, com foco na segurança da navegação, às embarcações que trafegam no litoral alagoano.