Cidades

Alagoas tem 43% de perda de água em 77 municípios

De cada 100 litros captados, tratados e distribuídos, somente 57 são faturados

Por Lucas França, com agências com Tribuna Independente 14/09/2018 12h38
Alagoas tem 43% de perda de água em 77 municípios
Reprodução - Foto: Assessoria
De acordo com a companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), o Estado registra atualmente (2018) uma perda de água que chega em torno de 43% - considerando apenas os 77 municípios atendidos pela companhia. Isso significa que, de cada 100 litros captados no manancial, tratados e distribuídos, somente 57 são faturados, ou seja, são medidos nos hidrômetros. Segundo o órgão, os outros 43 litros são considerados perdas. “Porém, não são 43 litros perdidos em vazamentos de água na rua. Essa perda é a perda geral, que se refere tanto a perdas físicas (vazamentos na rua) quantas perdas comerciais, ou seja, a água que é usada por alguém, que chega às residências, mas não é faturada”, explica. A Casal estima que, desses 43 litros “perdidos”, cerca de 20% a 30% é que são perdidos em vazamentos, ou seja, de 8,6 litros a 12,9 litros, enquanto o restante, cerca de 34,4 litros, é consumido por formas inadequadas, como ligações clandestinas, bypass (gato de água), furto de água nas adutoras e várias outras formas de irregularidades. ‘’Por essa razão, não são faturados pela Companhia e, assim, entram no cálculo de perda, mas não quer dizer que foi água perdida literalmente em vazamentos. Então, cerca de 43% de perda é o dado mais atual, sendo que, desses 43%, de 20% a 30% é que são perdas físicas, enquanto de 70% a 80% são perdas comerciais”, ressalta. Ou seja, a principal causa das perdas de água segundo a Casal, não são os vazamentos, mas sim os desvios, o consumo clandestino e o furto de água pela população. “A quantidade de água que não é faturada pela empresa devido ao consumo clandestino é bem maior do que a aquela que se perde pelos vazamentos. Do total de perdas, os vazamentos na rua respondem por cerca de 20% a 30%, enquanto os desvios e o consumo clandestino equivalem entre 70% e 80%”, avalia. A Casal informa que desenvolve várias ações para combater perdas, como substituição de redes antigas, aumento das fiscalizações para combate ao consumo clandestino, modernização de equipamentos, equalização da pressão da água nas redes e adoção de novas práticas nas Estações de Tratamento de Água (ETAs). A respeito dos vazamentos na rua, a Companhia ressalta que trabalha com empresas prestadoras de serviços que fazem a retirada de vazamentos num prazo máximo de dois dias úteis, a partir do comunicado feito ao Call Center (0800 082 0195). Ao mesmo tempo, a Casal aperta o cerco ao consumo clandestino com ações comerciais e de fiscalização. Alagoas está em 9º lugar no ranking de perdas na distribuição O país desperdiçou 38% da água potável nos sistemas de distribuição em 2016, o equivalente a quase sete mil piscinas olímpicas cheias a cada dia. De acordo com o estudo do Trata Brasil que avaliou as perdas em todas as Unidades da Federação (UF), Alagoas ocupa o 9º lugar em perdas na distribuição, com 46% de água desperdiçada. O estado do Amapá foi o que mais desperdiçou água por distribuição em 2016, 70%, segundo o levantamento.  Já, Tocantins foi o que menos dispersou apenas 30% na distribuição. Já perdas por ligação, Alagoas ocupo 6º lugar em perdas com 613%. A primeira colocação por desperdício ficou mais uma vez para o Amapá, com 1.827%. Já quem desperdiçou menos água por ligação foi Goiás, 170%. Os dados são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2016, os mais recentes, divulgados pelo governo neste ano. O estudo fez uma análise nas maiores cidades do país, e apresentou os melhores e piores índices de desperdício na distribuição do líquido. A capital alagoana aparece na 91º colocação no ranking de municípios que tiveram perdas consideráveis. Maceió desperdiçou em 2016, 59,93% de água. Mas, a situação de desperdiçou que chama atenção é de Porto velho que ocupa o 1º lugar em desperdício. A cidade desperdiçou 70,88% de água na distribuição referente a 2016. Já Tocantins, foi à cidade que obteve o melhor índice, desperdiçou apenas 13,05%. Ainda em questão de desperdício, desta vez por ligação, Maceió continua na mesma colocação, com 863,47%. Porto Velho, ainda é o primeiro colocado nesta categoria de desperdício com 1609,18. Já a que menos teve desperdício por ligação foi Vitória da Conquista na Bahia, apenas 82,08%. Foram coletadas informações agregadas do Brasil e suas macrorregiões e unidades federativas. Além disso, foram levantadas as informações dos 100 maiores municípios brasileiros em termos de população estimada para 2017. Assim, podem ocorrer assimetrias no preenchimento dos dados apresentados pelos operadores. Estas assimetrias podem advir, por exemplo, de diferenças metodológicas, ou seja, a interpretação divergente de um mesmo conceito entre os operadores, ou ainda, pode ocorrer falhas no preenchimento dos campos de dados dos questionados. O estudo apontou que todas as Unidades da Federação apresentaram índice superior a média nacional. Problema no país é o maior em cinco anos O estudo aponta que o índice de perdas na distribuição de água no país em 2016 é o maior em cinco anos. Entre 2012 e 2015, o percentual variou pouco, de 36,7% para 37%, apontando uma estabilidade. Em 2016, porém, a tendência foi de alta, chegando a 38,1%. De acordo com o estudo, as perdas geram ineficiências nos seguintes âmbitos: Maior custo de insumos químicos e de energia elétrica para bombeamento; Maior manutenção da rede e de equipamentos; Desnecessário uso da capacidade de produção e distribuição; Desnecessária pressão sobre as fontes de água para abastecimento. Além da má distribuição, há ainda os impactos diretos na receita das empresas, já que a perda envolve água tratada, mas não faturada. No gráfico é possível notar a quantidade de água fatura e não faturada no país. Brasil perdeu R$ 10,6 bi por causa do desperdício  O estudo aponta que o Brasil perdeu R$ 10,6 bilhões em 2016 por conta do desperdício, o que corresponde a 92% de todo o valor investido pelo setor de saneamento básico no mesmo ano no país (R$ 11,5 bilhões). O cálculo é feito da seguinte forma: Perdas comerciais: o valor perdido é calculado multiplicando o volume de água não faturada pela tarifa média de água. Significa o quanto de recursos poderia ter sido faturado se todos pagassem pela água furtada ou não medida. Perdas físicas: os valores são calculados multiplicando os volumes de água perdida nos vazamentos e de água utilizada e não faturada pelo custo marginal da produção de água (custos dispendidos com produtos químicos, energia e serviços de terceiros). CENÁRIO FUTURO Para atingir patamar semelhante aos dos melhores países, como os Estados Unidos (12,8% de perda de faturamento), o Brasil precisaria passar por uma mudança nas políticas públicas, aponta Carlos. Em um cenário otimista apontado pelo estudo, o país chegaria a 15% em 2033, com uma redução de 61% nas perdas. O ganho bruto total seria de R$ 75,2 bilhões. Já em um cenário neutro, a redução seria de 48%, chegando a 20% em 2033, com ganho de R$ 59,2 bilhões. Em um cenário conservador, a redução de 35% diminuiria as perdas para 25%, com ganho de R$ 43,2 bilhões. A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que mais de 2,7 bilhões de pessoas deverão sofrer com a falta de água em 2025 se o consumo do planeta continuar nos níveis atuais.  Um relatório divulgado no Dia Mundial da Água afirma que mais 2,5 bilhões de pessoas irão viver em áreas onde a quantidade de água potável será insuficiente para suprir suas necessidades. A crise que se aproxima está sendo atribuída à má administração dos recursos hídricos, ao crescimento populacional e às mudanças climáticas por que passa o planeta.