Cidades

Estudante leva bebê para Ufal e relata constrangimentos durante aulas

Presença do filho, um bebê de três meses, teria motivado sequência de episódios considerados humilhantes

Por Tribuna Independente com Evellyn Pimentel 29/08/2018 08h56
Estudante leva bebê para Ufal e relata constrangimentos durante aulas
Reprodução - Foto: Assessoria
A estudante de Letras Elda Amorim, de 28 anos afirma ter passado por constrangimentos durante as aulas na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O motivo, segundo ela, seria a presença do filho, um bebê de três meses. Elda procurou a reportagem da Tribuna Independente e relatou a situação que ocasionou transferência de horário de uma disciplina e até o afastamento temporário das aulas, pelo medo de represálias. Dois professores e um servidor da direção estariam agindo “em retaliação” à presença do bebê. “O vice-diretor me falou coisas horríveis, como por exemplo, perguntar onde estava meu marido, minha mãe... Dizer que mulher precisa se organizar melhor quando quer estudar, que não pode ter filhos, quando quer ir pra faculdade. Eu me senti invadida. E se eu fosse mãe solteira? Eu me senti constrangida e estou muito mal com essa situação”, conta a estudante. Tudo teria começado há cerca de duas semanas, quando o bebê de Elda teria feito um barulho durante uma aula. A partir daí, diversos episódios deixaram a situação insustentável, garante a estudante. “Quando retornei às aulas meu filho estava com um mês e meio mais ou menos. E eu o levei para todas as aulas, de um mês e meio até agora. Há cerca de duas semanas, durante a aula meu filho fez um barulhinho e imediatamente eu peguei-o do carrinho e ia me levantar para sair da sala. E esse professor é muito pontual no intervalo e neste dia ele deu o intervalo 15 minutos antes por conta do barulho que meu filho fez. Ele olhou para a minha cara e disse: bebê na Ufal até pode, mas barulho na minha aula não. Mas foi um barulho tão pequeno que eu perguntei as pessoas do outro lado da sala e elas disseram que não tinham ouvido. Perguntei se ele atrapalhava e as pessoas disseram que não. Quando ele me disse isso, eu perguntei: ‘O que você sugere professor, que eu contrate uma babá?’ Ele disse: ‘Que você se retire da sala e não traga ele no dia da prova’. Eu respondi que não levaria”, diz. Ela que tem outros dois filhos, precisa levar o bebê porque além de não ter com quem deixá-lo, realiza amamentação exclusiva, isto é, o bebê só se alimenta de leite materno, daí a dependência extrema da presença da mãe. “Eu pago duas disciplinas com o mesmo professor e ele não falou mais nada. Mas todas as vezes que meu filho precisava mamar ou eu percebia que ele poderia fazer barulho eu me levantava e saía da sala e o professor de imediato fechava a porta me impedindo de ouvir a explicação do lado de fora. Na outra semana eu nem fui mais, porque ele disse que se fosse pra fazer barulho eu nem fosse. Então fiquei com medo de ir e ter alguma reclamação e estava pensando numa solução. Até que um dia quando fui justificar minhas faltas, o vice-diretor disse que a minha situação não era muito comum, de um bebê assistir aulas, que poderia atrapalhar as aulas. Ele disse que o professor não havia reclamado, que tinha me visto nos corredores e pensou que eu iria atrapalhar alguma aula, mas eu subentendi que tinha sido o professor”. Ainda de acordo com a estudante, o desconhecimento sobre a proibição ou não da presença do bebê na Universidade a deixaram “sem reação” diante da sucessão de acontecimentos. “O vice-diretor disse que o Conselho Tutelar poderia bater na Ufal e que a direção poderia responder. Ele perguntou se eu tinha marido, onde estava meu marido e se ele não poderia ficar com meu filho. Perguntou por minha sogra, minha mãe. Eu expliquei que meu marido é professor universitário e os horários são complicados, que minha sogra tem 70 anos e já me ajuda demais com minhas outras filhas e que minha mãe eu não conhecia. Então eu não teria ajuda. Explique que meu filho não costumava fazer barulho, e nessa hora eu já estava com os olhos cheios de lágrimas e disse que ia dar um jeito”. Ela conta que recebeu apoio dos colegas de curso, que levaram a situação à direção. “Quando a situação veio a tona, o meu problema, os alunos começaram a falar do comportamento ríspido do professor. Alguém falou com a diretora e ela entrou em contato comigo. Dizendo que nada disso fazia parte da Ufal e se desculpou em nome da direção. Quando eu fui conversar com ela, ela me sugeriu mudar o horário e eu aceitei. E aí isso tudo virou uma bola de neve” Na tentativa de resolver a situação, Elda procurou uma creche, mas antes de iniciar, precisou comparecer a aula da disciplina só que com outro professor e em outro horário. No entanto ela diz ter se deparado com uma situação ainda mais constrangedora. “Fui procurar uma creche para o meu filho e a moça disse que por conta do período de adaptação era melhor eu começar numa segunda-feira e era quarta. Eu iria precisar tirar o leite, uma série de coisas, ficar longe do meu filho e ainda desembolsar R$ 500,00 pelo meio período. Até então para mim era o jeito. Enquanto não começava na creche eu levei meu filho de novo, só que na disciplina da tarde. Quando cheguei à sala, a aula já tinha começado. Quando coloquei a metade do carrinho para dentro da sala o professor parou a aula olhou para mim e disse: Você não disse que tinha com quem deixar esse menino? Eu disse que tive um imprevisto e na hora eu não me aguentei, comecei a chorar. Um colega até saiu para se desculpar pelo professor”, detalha.