Cidades

Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais

Em Alagoas, segundo membro do Conselho Estadual de Educação, dificuldades são agravadas pela descontinuidade nos estudos

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 08/08/2018 07h52
Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais
Reprodução - Foto: Assessoria
Dados do Indicador de Analfabetismo Nacional 2018 apontam que 29% dos brasileiros são classificados como analfabetos funcionais, isto é, foram escolarizados, mas não têm domínio sobre conteúdos elementares e utilizados na dia a dia como interpretação textual ou cálculos simples. Segundo Edna Lopes, membro do Conselho Estadual de Educação, ainda que tenham sido escolarizados, muitos alagoanos são considerados analfabetos funcionais pela falta de continuidade nos estudos. “Infelizmente este é um fato constante em Alagoas. A gente tem um número imenso de analfabetos funcionais. É aquele que assina o nome no documento, mas não tem de fato um domínio, um nível de letramento melhor para entender as coisas. Infelizmente isso continua e muito. As próprias condições de oferta da educação, por anos e anos seguidos ofertando currículo ‘banguelo’, vamos dizer assim, sem disciplinas, faltando professores. Na realidade, esse índice reflete isso. A qualidade no ensino pesa, as lacunas que esse aluno chegou à escola e isso não foi superado. Hoje em dia pode pegar um professor universitário e questionar sobre a qualidade de leitura e interpretação dos alunos. São alunos que chegam na Universidade, que conseguem chegar, mas têm dificuldades por conta disso, pelo nível muito baixo”, explica. A conselheira afirma que além da oferta de vagas é preciso que os estudantes recebam garantias como qualidade de ensino e continuidade para que possam chegar a patamares mais altos. “A oferta é muito importante, porque muitos que não tiveram acesso hoje estão tendo. Abrir as escolas, ofertar vagas, é importante. Mas é preciso mais, é preciso garantir o sucesso desse aluno, condições, melhorar a carreira do professor. Enfim, uma série de fatores que contribuem para esses índices negativos.” A realidade é ainda mais difícil quando se leva em consideração os mais velhos. Segundo o levantamento, enquanto 12% de jovens entre 15 e 24 anos estão situados na condição de analfabetos funcionais, entre a faixa etária dos 50 a 64 anos a proporção chega a 53%. “Na Educação de Jovens e Adultos isso se potencializa porque são pessoas que trabalham, que já têm uma vida estabelecida, não têm tempo de se dedicar aos estudos.  O poder público acha que investir em educação é gasto. A perspectiva de redução e gastos do Governo Federal só amplia ainda mais esse problema.  As trajetórias são muito cortadas, ele entrou e saiu muitas vezes e não porque não queria estudar, mas porque as condições não foram propícias, precisou trabalhar, precisou fazer escolhas, a realidade é de sobreviver”, pontua. O estudo foi elaborado entre os meses de abril e junho deste ano e considera amostra da população entre 15 e 64 anos. Outro dado que chama a atenção é que 25% dos trabalhadores são considerados analfabetos funcionais no Brasil. Entre desempregados ou que buscam o primeiro emprego o número é ainda mais acentuado, segundo o levantamento. “Maior predominância da população com idade acima de 50 anos entre os níveis inferiores da escala do Inaf: Analfabeto (58%) e Rudimentar (36%) e reduzido percentual de pessoas dessa faixa etária entre os níveis mais altos da escala de proficiência, nível Intermediário (14%) e Proficiente (10%). Em todas as faixas etárias, é significativa a proporção de pessoas no nível Elementar: mais de 3 a cada 10 brasileiros entre 15 e 49, embora funcionalmente alfabetizados, têm significativas limitações para relacionar-se com as demandas cotidianas de uma sociedade letrada”, aponta o estudo.