Cidades

Toque feminino no mundo dos negócios

Participação das mulheres no mercado de trabalho deve dobrar em 2020, segundo projeção do Sebrae

Por Repórter Lucas França - Tribuna Independente 02/06/2018 11h28
Toque feminino no mundo dos negócios
Reprodução - Foto: Assessoria
“Na política, se você quiser que algo seja dito, peça para um homem. Se quiser que algo seja feito, peça para uma mulher.” A frase foi dita por Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990. Essa frase relacionada à diferença de gêneros no poder também pode ser usada no ambiente profissional, ou melhor, no mundo dos negócios. A reportagem da Tribuna Independente conversou com algumas mulheres que se destacam no mercado de trabalho alagoano e fora dele também. Elas são donas de casa, profissionais talentosas, algumas são mães e empreendedoras de sucesso. Uma projeção apontada na Pesquisa Cenários 2020, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), indica que, entre o total de empregadores do país (empreendedores com empregados), a participação das mulheres deve subir de 24%, em 2000, para 42% em 2020. Entre os novos negócios, a fatia de mulheres empreendedoras já se aproxima da masculina. De acordo com a última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) feita no Brasil, 49% das empresas nascentes eram administrados por mulheres em 2010, se considerados os 42 meses anteriores à divulgação do percentual. Também no emprego por conta própria, em suas mais diversas formas, a presença da mulher evoluiu de 29,6% para 33,5%, em menos de uma década, de acordo com o Anuário do Trabalho, feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Tenho um DNA empreendedor”, diz Luana, que iniciou aos 25 anos Em Alagoas, até 2009, 73 mil mulheres eram empregadoras ou trabalhavam por conta própria. Em 2011, esse número chegou a 87 mil. Já o número de empreendedores (empregadores e trabalhadores por conta própria) do sexo feminino, que em 2009 era de 15,4%, chegou a 20% em 2011 segundo dados recentes do Sebrae-AL. A jornalista e empresária Luana Nunes está entre a porcentagem de mulheres empreendedoras do estado. Ela conta que começou a empreender aos 25 anos de idade. Hoje, com 33 anos é uma empresária conhecida em todo o Nordeste. Luana Nunes afirma à reportagem que “se não fosse empreendedora da comunicação seria de outra área” (Foto: Sandro Lima) “Tenho um DNA empreendedor. Meus pais sempre foram empreendedores. Logo após a faculdade trabalhei com assessoria de comunicação em secretárias e empresas e também fora do estado. Mas, desde estudante já havia pensado em abrir um negócio voltado para a comunicação. Então, exatamente aos 25 anos abri a Algo Mais. Sempre fui muito ativa e de iniciativa e isso me favoreceu. Além disso, tive vários apoios e incentivo dos meus pais que me deu coragem. Não me vejo fora desse ramo. Se não fosse empreendedora da comunicação seria de outra área com certeza. Sou feliz com a decisão que tomei”, conta a empresária. DESAFIOS E SUCESSO Luana conta que para ter o sucesso que a empresa tem hoje, muitas coisas aconteceram e para tornar o sonho realidade precisou abdicar de outras coisas na vida. “Passamos por muitas coisas para chegar até aqui. Hoje somos em 10 pessoas. Trabalhamos a comunicação de diversas empresas. Concorri e faturei vários prêmios. Sou grata a Deus por tudo. Desde pequena eu vendo e isso ajudou para ser quem sou hoje. Vendia calçados na feira, lá em Arapiraca. E hoje, vender o que sei fazer, que é a comunicação, a imagem de uma empresa, de um assessorado, não tem nada melhor e vê a alegria em dá oportunidade emprego para meus colaboradores, não tem igual”, comemora Luana. Elas buscam espaço e estilo próprio de gestão O analista técnico da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae, Fábio Leão,  comenta que as mulheres empreendedoras têm características específicas e favoráveis ao seu desempenho, porque conciliam melhor suas atividades pessoais e profissionais. “Elas investem mais em capacitação e são mais detalhistas, sensitivas e intuitivas, o que contribui na gestão de negócios, principalmente quando aliadas a coragem, iniciativa e determinação”. E é dessa maneira que a empresária Andrezza Lino encara o dia a dia do seu empreendimento.  “Aprendemos todos os dias. Capacito-me o ano inteiro, é constante. Não é só vender, é vender algo diferenciado para atrair clientes. Setorizo os serviços e trabalho com estratégias”, explica. Andrezza é médica veterinária e ainda exerce a profissão e conta que concilia o centro de estética com a profissão de formação e com o curso de Biomedicina. “Ter o centro sempre foi um sonho. Houve a oportunidade. Os apoios da família e parceiros contribuíram bastante. E a minha formação também ajudou em parte nos recursos financeiros. Sou empreendedora há dois anos. Hoje tenho 10 colaboradoras. Não me vejo fazendo outra coisa se não empreendendo. Sou de matriz de comércio, sempre trabalhei com isso junto aos meus pais”, conta Lino. A empresária conta que monta seus horários para dá conta de tudo. “Consigo conciliar. Faço um cronograma de horário. Trabalho como veterinária e também estudo. Mesmo que eu acorde cedo, faço um planejamento para que dê tudo certo. Quando necessário dou as coordenadas para as minhas colaboradoras via online até eu chegar”, ressalta. Empreender resulta em mais tempo para filha Quem também optou pelo empreendedorismo para montar um horário específico e ter mais tempo com a filha foi a diretora sênior independente de vendas Chiara Barros. A diretora trabalha para uma empresa de cosméticos e perfumaria internacional e afirma que sobrevive com esse negócio muito bem. “Já trabalhei em empresas privadas como funcionária. E já havia trabalhado com vendas antes também. Aí, conheci a empresa e vi que era uma oportunidade de abrir meu próprio negócio e empreender. E o melhor, conheci os valores da empresa que me atraiu. Deus, a família e a carreira são colocados em primeiro lugar”, disse. Diretora sênior independente de vendas, Chiara Barros faz seu próprio horário e tem mais tempo livre (Foto: Adailson Calheiros) Para Chiara ter tempo com a família é essencial e antes de começar a empreender o tempo era limitado. “Agora, tenho flexibilidade de horário. Como sou mãe, acompanho minha filha em tudo e tenho tempo para auxiliar em casa”, ressalta. A “empresária” independente conta que trabalha com uma equipe de 40 pessoas, mas todos são independentes. “Eu apenas vou treinando para que também se tornem diretores sêniors. Temos um espaço de reuniões, treinamentos, palestras. Onde explicamos que trabalhamos com a autoestima das mulheres, isso é muito gratificante. Vamos até cada uma. Trabalho feito por indicação. Fazemos visitas e não há limite territorial. Apresentamos o produto antes das pessoas adquirirem”, explica. “Elas são mais fortes para encarar desafios”, diz economista Um estudo recente organizado pela Rede Mulher Empreendedora em 2016 apontou que o perfil de mulheres que decidem empreender na maioria está na faixa etária entre 30 e 40 anos, casada, 75% decidiu empreender depois da maternidade, 79% tem nível superior e boa parte delas já teve alguma experiência anterior no mercado de trabalho. O principal setor econômico de atuação dessas mulheres empreendedoras é o de Serviços e as duas maiores motivações para empreender é trabalhar com o que gosta e flexibilidade de horário. A economista Larissa Pinto, diz que é inquestionável a capacidade que a mulher tem para empreender, porém elas ainda enfrentam vários desafios. “Inquestionavelmente, as mulheres são tão capazes e qualificadas quantos os homens para obterem sucesso em seus empreendimentos. Porém, muito embora as mulheres venham conquistando um espaço cada vez maior à frente de novos empreendimentos, algumas dificuldades ainda se apresentam: este ainda é um ambiente de presença majoritariamente masculina, em que as mulheres sofrem certos preconceitos e precisam se esforçar além do que é exigido dos homens para conquistar a credibilidade e o respeito de clientes e fornecedores; muitas mulheres ainda enfrentam uma múltipla jornada, tendo que dividir seu tempo entre o seu empreendimento, a maternidade e os serviços domésticos e devido à pressão que ainda é imposta pela sociedade, muitas mulheres que têm seus empreendimentos carregam um sentimento de culpa por “não dar atenção suficiente à família”, opina a economista. “Questões culturais são dificuldades enfrentadas” Larissa Pinto acredita que esses fatores culturais geram muita insegurança e dúvidas na mulher e que tais fatores contribuem na dificuldade da percepção sobre o futuro do próprio negócio. “Além disso, por serem, em geral, as mulheres mais cautelosas do que os homens, elas se arriscam menos nas tomadas de decisão e essa aversão ao risco pode impactar negativamente no sucesso do empreendimento, uma vez que o mercado é dinâmico, com mudanças acontecendo o tempo inteiro, e exige respostas rápidas. Porém, mesmo com as dificuldades postas, por apresentarem paixão pelo trabalho que fazem, as mulheres que empreendem apresentam uma capacidade fora do comum de superar os problemas e de manter seus negócios funcionando por muito mais tempo”, ressalta a economista. Economista Larissa Pinto diz que é inquestionável a capacidade empreendedora feminina (Foto: Cortesia) As pesquisas mostram que elas veem gerando economia. O banco Itaú fez uma pesquisa em 2013 e constatou que nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 46% no número de mulheres que procuraram o banco em busca de crédito para financiar suas empresas. Entre os homens, houve uma queda de 34%. No banco do Nordeste, maior operador de microcrédito do Brasil, em junho, 65% dessas operações foram realizadas por mulheres. A pesquisa foi feita com mulheres de três grandes capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). “É notável que elas não se abatem com facilidade e, a cada queda, levantam mais firmes. No entanto, Menezes nota, no início dos negócios, maior insegurança por parte das mulheres. A multifuncionalidade também pode se tornar um problema. Empreender não é fácil, seja para homem ou para mulher. Infelizmente, a gente ainda vê a mulher tendo que superar obstáculos maiores nesse processo, pelo simples fato de ser mulher e pelas implicações que isso traz. Felizmente, temos milhares de exemplos de mulheres empreendedoras de sucesso para mostrar que sim, é possível”, esclarece Larissa.