Cidades

Professor da Ufal e pesquisador da Educação, Élcio de Gusmão Verçosa morre aos 73 anos

Alagoano de Porto Calvo, Élcio participou ativamente da formação acadêmica de vários pesquisadores e docentes no Estado

Por Texto: Bruno Martins com Tribuna Hoje 11/05/2018 16h10
Professor da Ufal e pesquisador da Educação, Élcio de Gusmão Verçosa morre aos 73 anos
Reprodução - Foto: Assessoria
Morreu na manhã desta sexta-feira (11) o professor da Universidade Federal de Alagoas, Élcio de Gusmão Verçosa. O alagoano da cidade de Porto calvo faleceu aos 73 anos de idade em decorrência de um câncer. Considerado uma referência na área da pesquisa em Educação, Élcio também foi militante na época da abertura democrática, no período pós-Ditadura. Em nota, a família comunicou o falecimento com imenso pesar e convidou para o sepultamento, que ocorrerá no sábado (12), às 10h da manhã no Cemitério Parque das Flores, onde o corpo será velado a partir das 18h desta sexta. Personalidades citam importância de Élcio na formação acadêmica alagoana O secretário de Comunicação do Estado, Ênio Lins, lamentou a morte de Élcio e destacou seu legado. "Tive contato pessoal com ele nos anos 70. O professor Élcio deixa um exemplo grande de responsabilidade, profundidade intelectual. Foi um dos grandes pesquisadores, talvez o maior pesquisador sobre Educação em Alagoas, ele deixa também um exemplo de generosidade. Ele orientou gerações de pesquisadores, abrindo espaço para a pesquisa em Alagoas na área de Educação e foi um cidadão atuante. Portanto, todas as causas progressistas, da Anistia, da Constituinte, da votação dos candidatos progressistas para transformar o Brasil, o professor Élcio sempre esteve na linha de frente. É uma grande perda para Alagoas", destacou. Edberto Ticianeli, jornalista e ex-líder estudantil que conheceu Élcio nas lutas políticas, falou sobre a formação ideológica do professor. “O Élcio vem de uma geração que se formou politicamente junto ao trabalho social da Igreja Católica no início dos anos 60, principalmente no Seminário de Recife. Tempos da Teologia da Libertação. Foi da Juventude Universitária Católica, JUC, da Ação Popular, que evoluiu para formação da Ação Popular e depois Ação Popular Marxista-Leninista. Muitos deles entraram no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Era a esquerda rompendo com a Igreja Católica. Havia uma militância política em partidos clandestinos, afinal nós vivíamos no período da Ditadura Militar. O Élcio era uma das mais expressivas lideranças de Ação Católica e depois de Ação Popular”, afirmou Edberto. O jornalista também ressaltou o papel de Élcio Verçosa na formação de pesquisadores da área educacional em Alagoas. “Ele influenciou muita gente e ele foi responsável pela formação de inúmeros professores que hoje estão reproduzindo valores do humanismo, ligados à busca de justiça social. Deixou uma lacuna porque era um elaborador, um dos que mais se aprofundou na pesquisa sobre a Educação em Alagoas, além de aprofundar a relação entre educação e nossos históricos problemas sociais e econômicos. Foi autor de vários clássicos, de livros importantes. É uma perda enorme para nós, era uma referência e Alagoas hoje está mais pobre”, frisou Edberto Ticianeli. O presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas, professor Jailton Lira, citou a perda para a Educação em Alagoas que representa a morte do professor Élcio Verçosa. "É uma perda também para a pesquisa em Educação no Estado de Alagoas e para o movimento sindical porque o Élcio foi uma pessoa que lutou pelo processo de redemocratização política, esteve à frente das lutas da antiga Associação de Professores, a Apal, foi presidente da Associação de Docentes da Ufal [Adufal] e sobretudo era uma pessoa muito próxima a nós porque ele estava trabalhando no Centro de Educação [Cedu], onde também trabalho hoje. Muito do que a gente conseguiu avançar em termos de produção acadêmica da Educação alagoana e proposição de ideias sobre educação pública são devedores da contribuição do professor Élcio, então a gente lamenta com pesar tanto em nome do sindicato quanto em nome dos professores que fazem a universidade e, particularmente, do Centro de Educação", disse Jailton. A Adufal emitiu nota de pesar, confira na íntegra: "Hoje é um dia triste para a educação alagoana com o falecimento do professor Élcio Verçosa. Élcio de Gusmão Verçosa é Doutor em Educação. Foi presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas, Diretor do Centro de Educação e presidente do Conselho Estadual de Educação, com uma trajetória marcante em defesa da educação pública e da redemocratização política do País, fazendo os enfrentamentos necessários na defesa de uma Associação de Professores de Alagoas autônoma e independente ainda na década de 1980. Pesquisador destacado, contribuiu para a reflexão dos rumos educacionais do estado, colaborando na construção de um modelo interpretativo sobre as raízes estruturais das deficiências do ensino e dos desafios que precisam ser superados para o alcance de uma educação de qualidade. A direção da Adufal manifesta seu profundo pesar com sua perda ao tempo em que presta solidariedade aos familiares." Histórico * Elcio de Gusmão Verçosa nasceu em Porto Calvo, em 14 de outubro de 1944. Estudou o ensino fundamental e médio no Seminário Menor da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, em Pernambuco. Após o noviciado, fez o Curso completo de Filosofia. Em 1967, deixa a Congregação e volta a Maceió, onde faz o vestibular para Letras – Português-Inglês, concluindo em 1970. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Ufal foi presidente do Diretório do Curso de Letras, durante o período de chumbo da ditadura militar 1968-1969 onde enfrentou lutas históricas contra o CCC - Comando de Caça aos Comunistas. Em 1968 participou das manifestações estudantis contra a ditadura, pelas liberdades democráticas e em 1969 engajou-se na luta contra o AI-5. Em 1970 termina o Curso de Letras – Bacharelado e Licenciatura. Foi professor de Língua e Literatura Portuguesa e Língua Inglesa em colégios do setor privado como Marista de Maceió e Imaculada Conceição, foi selecionado para lecionar Português na rede estadual de ensino em 1968. Em 1975, foi aprovado em concurso público para a então Escola Técnica Federal de Alagoas – Etfal, passando a lecionar Língua Portuguesa e Literatura Brasileira até 1980, quando foi selecionado como Professor substituto para o CCSA – Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas. A partir daí começou a construir sua carreira acadêmica e sindical no ensino superior, desligando-se da Etfal ao ser aprovado na seleção de Mestrado da Faculdade de Educação da UFPE e, em 1984, tornou-se Professor Auxiliar da Ufal, aprovado em concurso público. No final da década de 1980, liderou o movimento, junto com outros companheiros docentes, para a criação do Centro de Educação, que se tornou referência na Ufal e no Estado de Alagoas na formação de dezenas e centenas de educadores, pedagogos com uma visão humanista e social da Educação. Foi seu primeiro Diretor eleito pelo voto de docentes, estudantes e funcionários, como também Professor de disciplinas como Métodos e Técnicas de Ensino, Planejamento e Política Educacional. Mais tarde, já nos anos 1990, após concluir o Doutorado em Política Educacional na Feusp – Faculdade de Educação da USP, também liderou a criação dos Cursos de Pós-Graduação – Mestrado e Doutorado no Cedu/Ufal – ao tempo em que dava aulas na graduação, orientava dissertações de alunos do Mestrado e Doutorado e dirigia o Cedu. * Retirado de http://luizsaviodealmeida.blogspot.com.br/2017/05/educacao-e-povo-legado-de-elcio-vercosa.html.