Cidades

Consumidores reclamam de letras pequenas em rótulos: 'Difícil ler até com óculos'

Letra minúscula das embalagens dos alimentos gera reclamação entre consumidores alagoanos; Anvisa quer tornar leitura mais simples

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 21/04/2018 12h43
Consumidores reclamam de letras pequenas em rótulos: 'Difícil ler até com óculos'
Reprodução - Foto: Assessoria
Observar os rótulos dos alimentos na hora da compra não é muito comum entre os alagoanos ouvidos pela reportagem da Tribuna Independente. Para os que responderam que leem, a queixa é a mesma: as letrinhas minúsculas quase não servem para identificar as “substâncias” do produto. A dona de casa Carla Freitas disse que dependendo do produto que vai comprar sempre lê os rótulos para saber que substâncias contêm no alimento e os valores nutricionais. “É muito importante observar esses itens para saber o que estamos consumindo. Às vezes quando é um produto que eu não tenho o hábito de comprar, levo com receio. A maior dificuldade são as letras que na maioria das vezes são bem pequenas. Difícil até para quem usa óculos”, reclama Carla. A estudante Marcia Andrade, também reclama do tamanho das letras nos rótulos. “Às vezes eu leio, mas acho complicado mesmo com óculos”, disse. Apesar de não lerem sempre, os entrevistados afirmam que se preocupam com os alimentos que consomem e que buscam informações sobre o produto para saber a procedência do que leva para a mesa. No entanto, dizem que na maioria das vezes, os rótulos não trazem informações claras, deixando dúvida em relação às propriedades do produto. A consumidora Amanda Martins disse que geralmente observa as propriedades do alimento na hora da compra para fazer a melhor escolha e levar um alimento que seja ideal em seu cardápio. “Na maioria das vezes eu leio para saber sobre os nutrientes que contém certo alimento”, comenta. ANVISA A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a participação de representantes da área de saúde, da academia, da indústria e de órgãos de defesa do consumidor está realizando um trabalho para tornar a leitura dos rótulos mais simples e ajudar o consumidor a fazer escolhas mais saudáveis. Toda essa discussão sobre a rotulagem dos alimentos industrializados tem como pano de fundo o fato de, atualmente, mais da metade da população brasileira estar com excesso de peso (53,8%), segundo dados do Ministério da Saúde (MS). A Anvisa está fazendo um estudo com vários modelos de rotulagem. Entre os modelos estudados está adotado pelo Chile, que foi desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e o da Fundação Ezequiel Dias (Funed). As discussões, que começaram em 2014, foram retomadas em 2017 e ainda seguem em discussão. As propostas serão submetidas aos consumidores brasileiros através de pesquisas. A mudança dos rótulos de alimentos, segundo agência, é uma prioridade. Mas, ainda não foi batido o martelo sobre quando o novo padrão de rotulagem deve ser implementado no país. As regras para rotulagem duram uns 15 anos - resolução 259/2002 e 360/2003. A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), emitiu posicionamento sobre a rotulagem. Confira ao fim da reportagem. Nutricionista diz que rotulagem deve ser o mais esclarecedora possível A reportagem da Tribuna Independente conversou com a nutricionista Alane Costa que atua em Alagoas e ela reafirma o mesmo que os consumidores: a letra é muito pequena. “Atualmente, os rótulos mais confundem que informam. Letras muito pequenas e termos desconhecidos da população em geral fazem com que a grande maioria não consiga identificar o que realmente está consumindo. O açúcar, por exemplo, pode estar presente sobre diversas denominações, dentre elas, sacarose, frutose, maltodextrina, xarope de malte, etc. E a rotulagem não deixa clara a informação”, destaca Alane. Para a nutricionista, a rotulagem deve ser mais esclarecedora possível e a identificação em destaque de informações como “contém açúcar” “contém lactose” e “o consumo em excesso pode contribuir para o aumento da pressão arterial” deveriam ser obrigatórias, assim como já ocorre com o glúten. No entanto, a indústria não tem o menor interesse que o consumidor tenha acesso a esse tipo de informação. Por isso, o ideal é desembalar menos e descascar mais”, relata. A assessoria de comunicação do Conselho Regional de Nutricionistas da 6ª Região (CRN-6) disse que a entidade realizar uma série de ações em prol da rotulação de alimentos que deve chegar ao consumidor de maneira clara. No entanto, não poderia passar maiores informações porque os representantes que poderiam responder melhor sobre a demanda estavam em uma viagem de trabalho. IDEC O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) realizou uma pesquisa com 807 mulheres em 2013 no Brasil e revelou que 80% delas consideram importante a informação nutricional no momento da compra de alimentos. O levantamento, porém, destacou um dado preocupante: quase metade das entrevistadas (40%) admitiu não compreender totalmente o que consta nas tabelas impressas nos rótulos. Para Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec e coordenadora da pesquisa, as consumidoras demonstram preocupação com a qualidade da alimentação, o que “é importante para frear o crescimento dos números de doenças crônicas”. Mas a informação da tabela nutricional ainda é usada de maneira restrita. “A informação é valorizada, mas ainda utilizada de maneira restrita, porque as pessoas não conseguem compreendê-la totalmente. Surpreende o fato de as mulheres que têm doenças crônicas ou familiares nessa situação e que teoricamente necessitam desse tipo de informação não utilizarem mais a rotulagem que as demais”, destacou a nutricionista. Associação emite posicionamento, confira abaixo: ROTULAGEM NUTRICIONAL NO BRASIL A rotulagem nutricional dos alimentos industrializados vem sendo discutida no Brasil há quatro anos, com a criação de um grupo de trabalho no âmbito da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que é responsável por questões de regulamentação do tema no país. Fazem parte desse grupo de trabalhos associações representativas das indústrias de alimentos, técnicos da Agência e representantes da sociedade civil. A necessidade de reformulação do modelo existente pode ser atribuída a um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, as normas em vigor têm mais de 10 anos. Nesse tempo ocorreram inúmeras transformações, tanto na realidade dos alimentos, com avanços tecnológicos, como na postura dos consumidores, que demandam cada vez mais informações e estão mais questionadores sobre os alimentos que consomem. Por outro lado, o combate à obesidade e doenças associadas ao estilo de vida é uma prioridade para a saúde pública e deve ter uma abordagem ampla, já que tem causas multifatoriais. O estímulo à atividade física e a educação alimentar e nutricional fazem parte desse processo. A indústria de alimentos e bebidas entende que os produtos devem ser adequados às necessidades atuais e está comprometida em promover ações concretas para combater o problema, investindo consistentemente na inovação do seu portfólio, com a redução voluntária de sódio, gordura trans e açúcar. Ao fim das discussões do grupo de trabalho, o setor apresentou a proposta de uma rotulagem nutricional frontal com base indicativa por porção, onde os ícones de sódio, açúcares totais e gordura saturada passam a ser COLORIDOS, em verde, amarelo e vermelho, cores de entendimento universal. Embalagem fictícia (Imagem: Divulgação) Dentro do contexto colaborativo, o setor solicitou ao IBOPE a realização de pesquisa de opinião pública nacional para contribuir com o processo. Foram analisados dois modelos em discussão na Anvisa e o estudo mostrou que 89% dos entrevistados acham que o semáforo nutricional cumpre os requisitos para auxiliar escolhas mais nutritivas e saudáveis e 67% dos entrevistados escolheram o Semáforo Nutricional como melhor modelo de rotulagem para o Brasil. Pesquisa Ibope Inteligência (Imagem: Divulgação) O setor defende a adoção de um modelo de rotulagem frontal que tenha informações mais claras e que essa medida seja acompanhada de programas de educação alimentar e nutricional. Esse modelo facilita que o consumidor faça a composição nutricional mais apropriada para ele, comparando as características dos alimentos, o teor de cada nutriente, podendo escolher, dessa forma, sua melhor opção na busca por uma dieta equilibrada, diversificada e inclusiva. O aprimoramento do modelo de rotulagem nutricional está sendo conduzido pela Anvisa e o processo regulatório deve ser realizado com respeito a todas as etapas necessárias para que a definição beneficie a sociedade brasileira. APOIO DO SETOR PRODUTIVO Esse modelo é defendido por diversas associações representativas do setor de alimentos e bebidas: (Imagem: Divulgação) Matéria atualizada às 16h06 de 24/4