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Cai número de emplacamentos no primeiro trimestre em Alagoas

Até março foram emplacados em 8.708 veículos contra 9.103 no mesmo período de 2017; frota cresceu 36,8% nos últimos 5 anos

Por Lucas França com Tribuna Independente 12/04/2018 08h19
Cai número de emplacamentos no primeiro trimestre em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
O emplacamento de veículos em Alagoas fechou o primeiro trimestre de 2018 com uma retração comparado com o mesmo período de 2017. Até março foram emplacados no Estado 8.708 veículos e no mesmo período do ano passado foram 9.103 veículos, segundo informações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-AL). Em todo o ano de 2017, foram emplacados no estado 37.008 veículos. Já em 2016 o número foi menor 35.195 veículos emplacados naquele ano. Mesmo com a diminuição no primeiro trimestre deste ano, dados do Detran apontam que Alagoas teve em cinco anos aumento de 36,8% na frota. A frota atual de veículos é de 798.018 veículos. Quase a metade destes veículos, pouco mais de 320 mil, está em Maceió. Segundo dados da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), são dois mil a mais a cada mês. Se o número de veículos está aumentando, a quantidade de condutores habilitados também está crescendo. Em 2012, eram 373 mil. Este ano já são exatamente 518.816 mil. Crescimento de mais ou menos 35,7%. CONSEQUÊNCIA E isto tem repercutido na qualidade do trânsito, pois crescimento e planejamento neste caso estão em direções contrárias. Em entrevista ao jornal Tribuna Independente publicado no dia 25 de novembro de 2017, o superintendente Municipal de Transportes e Trânsito, Antônio Moura, disse que é uma frota que cresce muito. E aí as obras de mobilidade não conseguem acompanhar o crescimento na questão de veículos nas ruas. “A gente emplaca na capital cerca de dois mil por mês. Enfim, a situação tem ficado um pouco complicada”, explicou. Na época, Moura reconheceu os problemas no trânsito da capital, o qual ele classifica de ‘muito difícil’. De acordo com ele, o planejamento tem esbarrado em soluções imediatas para resolver problemas pontuais. “Quando a gente fala de planejamento a gente fala daqui a 20, 30 anos. O problema é que a gente tem dificuldades para serem revolvidas hoje por conta de falta de planejamento do passado. Maceió cresceu de uma forma desordenada e essa falta de planejamento faz com que em alguns casos a gente tem uma situação praticamente irreversível”, disse. CONDUTORES Para o taxista Aberlado Alves, a quantidade crescente de veículos na cidade é o que prejudica o trânsito. “Não há capacidade para tantos carros, motos, ônibus... Gasto muitas vezes mais de uma hora daqui [Serraria] para o Benedito Bentes, que não é tão longe e a média seria  no máximo meia hora, mesmo com trânsito”, expôs. Já o motociclista Marcos Tavares acredita que os problemas no trânsito de Maceió estão relacionados a dois fatores. “Existe uma má distribuição dos semáforos. É um em cima do outro. Aí os veículos têm que parar muito próximo, por isso gera o congestionamento. E a situação piora por causa da quantidade de veículos no estado”, comenta. Para o condutor e taxista Arthur Amorim, tanto o fluxo de veículo quanto as más condições das vias são fatores determinantes para um trânsito ruim. “Esses fatores são os principais causadores de transtornos no trânsito aqui na capital”, diz. ‘‘Maceió paga pelo crescimento sem planejamento”, avalia engenheiro   Para o mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Ceará, Fábio Barbosa, o sistema de vias implantado já não atende a demanda de veículos existentes. “Maceió paga um alto preço por ter crescido de forma desordenada. Os deslocamentos em seu tecido urbano são muito prejudicados por isso. As obras relacionadas com mobilidade e acessibilidade não seguem (nunca seguiram) a lógica do planejamento. Não há zoneamento, não há ordenamento. A infraestrutura de transportes é implantada para solucionar problemas causados por esse crescimento desordenado e não sustentável. Resumindo, deixa-se o problema crescer até onde der. Quando atinge um limite absurdo de saturação, a ‘gente’ vê o que faz”, comenta Fábio. O engenheiro de tráfego chama a atenção para como a cidade foi loteada e como as conexões entre os loteamentos não foram feitas. “Cito como exemplo os bairros de Ponta Verde e Jatiúca, onde a única via contínua que os atravessa/ligam é a Avenida Álvaro Otacílio [na orla], que vive congestionada. Em bairros periféricos, como Jacintinho, Vergel, região do Benedito Bentes, Feitosa, Bebedouro, o crescimento desordenado tornou as vias principais inúteis como alternativas de escoamento de grandes volumes de tráfego ou de tráfego de passagem.  Dessa forma, a cidade, para o número de habitantes que tem, já não tem alternativas “baratas” para corrigir e melhorar o escoamento nas vias como é o caso também de outros bairros”, explica. Fábio diz que não dá para conter o aumento da frota. Ele indica algumas possíveis soluções. “De curto prazo é investir maciçamente em Engenharia de Tráfego. Pensar em uma central que monitore o tráfego 24 horas, ter equipes de prontidão para atender ocorrências e dar vasão aos fluxos em horários específicos, controlar remotamente a semaforização em algumas áreas e sincronizar os semáforos o máximo possível. Outro aspecto é melhorar significativamente a qualidade do pavimento e da sinalização das vias, pontos muito precários na realidade de Maceió. No médio prazo, incentivar (em vez de restringir) alternativas que permitam ao usuário fazer os deslocamentos sem utilizar seu veículo particular. Isso significa melhorar o transporte público, melhorar a infraestrutura, segurança e limpeza urbana para incentivar o uso de transporte não motorizado (ciclovias e calçadas para ciclistas e pedestres) e viabilizar o uso de aplicativos de transporte e táxi, dando assim mais oportunidades aos usuários”, cita. Sistema de vias da capital já não suporta a quantidade de veículos   O especialista em trânsito Renan Silva, do Detran-AL,  explica que não há como estimar o quanto a infraestrutura viária de Maceió pode seguir suportando o crescimento da frota de veículos motorizados. De acordo com ele, apenas o que é certo afirmar é que ela já está sobrecarregada e que investir na sua expansão não é a solução final para os problemas relacionados a engarrafamentos e acidentes de trânsito. Isso porque quanto mais se constrói ruas, viadutos e avenidas, mais o número de veículos cresce e logo o ponto de saturação é alcançado mais uma vez. “Esse ciclo vicioso é insustentável, do ponto de vista espacial, econômico e social. Para melhorar a mobilidade de Maceió, o que poderia ser feito em curto prazo seria uma redistribuição do espaço público, contribuindo para a sua democratização, priorizando o transporte público coletivo e o não motorizado (pedestres e ciclistas principalmente). Também poderia ser melhorada a sinalização, incluindo o aumento do número e da periodicidade de manutenção de faixas de pedestres. Intensificar a fiscalização de trânsito contribuiria para o combate ao desrespeito às normas de circulação que geram acidentes e lentidão no tráfego e também é possível ser feito em curto prazo”, opina Renan, acrescentando que, em médio e longo prazos, deveria investir mais em oferecer oportunidades de qualidade às pessoas para que elas escolham a melhor forma de se deslocarem. COLETIVOS Para o especialista as pessoas devem escolher a melhor maneira de locomoção. “Se alguém quiser usar o carro, que use. Tem todo o direito de fazê-lo com conforto e segurança. Porém, o modo mais eficiente de gerir a mobilidade é priorizando transportes coletivos e não motorizados, pois eles ocupam menos espaço, são mais sustentáveis e eficientes. Não obstante, as pessoas só abandonam os carros quando não têm escolha, ou quando há alternativas viáveis, seguras, confortáveis e convidativas. Isso só é possível alcançar com planejamento integrado e investimentos significativos. Renan acredita ainda que os quase R$ 80 milhões que estão sendo gastos na construção de um viaduto na cidade poderiam ajudar muito a atingir as melhorias no transporte público e nas avenidas já existentes. “As pessoas que usam carro, e em hipótese alguma usariam outro modo de transporte, deveriam ser as primeiras a exigir melhorias no transporte coletivo e nas condições de deslocamentos não motorizados, pois quanto menos pessoas usarem o carro sobrará mais espaço pros condutores de automóveis nas ruas. Cada ciclista, cada pedestre e cada usuário de transporte coletivo nas ruas significa um carro a menos. Já pensaram nisso?”, questiona.