Cidades

Percurso dos blocos do Jaraguá Folia é alterado para este ano

Crescimento de público, logística e impasse com a Associação Comercial motivaram da mudança

Por Evellyn Pimentel e Lucas França com Tribuna Independente 17/01/2018 08h20
Percurso dos blocos do Jaraguá Folia é alterado para este ano
Reprodução - Foto: Assessoria
O novo percurso do Jaraguá Folia promete dar melhores condições aos desfiles dos blocos. O crescente público, estimado em mais de 50 mil pessoas em 2017, questões logísticas e o impasse envolvendo a Associação Comercial motivaram a mudança. É o que afirma Edberto Ticianeli, organizador do evento. “As mudanças no Jaraguá Folia vão propiciar mais conforto aos que participam do evento como espectadores. A Rua Sá e Albuquerque não comportava mais o crescente público do Jaraguá Folia. No último desfile foram mais de 50 mil pessoas com aproximadamente 110 blocos. Seria uma imensa irresponsabilidade manter esta multidão em uma via tão estreita, com pavimento irregular”, garante Ticianeli. Segundo ele, um dos motivos da mudança foi a colocação de tapumes em frente à Associação Comercial, o que atrapalhou o percurso no ano passado. “A razão da mudança são várias, desde pavimento irregular até a questão dos tapumes que aumentaram o gargalo que já existia na região. Isso deu um problema sério. Essa foi uma das questões, não foi a determinante, mas somou. A questão fundamental é a segurança tanto do trânsito. Imagens feitas por um drone apontaram que a lotação lá está esgotada. Como a gente já vinha usando boa parte do percurso fora da Sá e Albuquerque não muda muito. Perdemos pela questão histórica, mas ganhamos pela segurança e mais conforto”, aponta. Ticianeli afirma que o trânsito no local também sofrerá alterações. Haverá redução de interdição em 25 ruas da região. “Com esta mudança, reduzimos também o número de vias interditadas. Eram 40 e agora são 15. O trânsito vai poder fluir melhor pela Praça Sinimbu e pela Rua Barão de Jaraguá. Com isso, a Praça Dois Leões será ponto de embarque após o fim dos desfiles, eliminando o deslocamento dos foliões até a Rua Buarque de Macedo”, acrescenta. O novo percurso do Jaraguá Folia será pelas avenidas da Paz e Industrial Cícero Toledo e a concentração entre o Museu Théo Brandão e a ponte sobre o Riacho Salgadinho. “Teremos ainda três lances de arquibancadas no final do estacionamento de Jaraguá e uma melhor distribuição das barracas e ambulantes, que podem se instalar também no estacionamento”, finaliza.   Festa de Momo surgiu nos salões   Segundo o membro da Liga Carnavalesca da Capital Edberto Ticianeli, só na década de 1930 a festa ganhou organização e investimento. Os antigos festejos de Carnaval em Alagoas surgiram primeiro nos salões com os bailes populares promovidos nas periferias.  Nas ruas a festa começou pequena e foi reprimida por algum tempo segundo o carnavalesco Edberto Ticianeli. Só a partir da década de 30, o Carnaval de rua ganhou organização e investimentos públicos. Foi nessa época de acordo com o carnavalesco que surgiu o tempo áureo dos grandes blocos. “Os espaços utilizados para os nossos carnavais, além dos clubes, foram a Rua do Comércio, Praça Lucena Maranhão e Praça Moleque Namorador. Essa última a partir dos anos 60. A praia da Avenida da Paz foi durante muito tempo o espaço destinado para o tradicional banho de mar à Fantasia, uma prévia importante da época. Outras prévias famosas em Maceió foram as maratonas que aconteciam na rua do Comércio. Como se percebe sempre tivemos prévias”, comentou Ticianeli. Edberto Ticianeli relembra que em 1885 se iluminava a Rua do Comércio entre a esquina da Rua Senador Mendonça e o Beco do Moeda para a realização do Carnaval. Mas quem tomava essa iniciativa eram os clubes.  Um deles o Saca Rolha. JARAGUÁ Já sobre o início dos festejos carnavalescos no bairro histórico, Ticianeli diz que há uma certa confusão. O Clube Fênix Alagoana teve sede nos anos 30 na Rua Barão de Jaraguá, no local onde funciona o Grupo Escolar Ladislau Neto. Lá foram realizados alguns carnavais, mas não dá para caracterizar que existia um polo carnavalesco em Jaraguá. Isso surgiu recentemente, nos anos 80. O carnavalesco conta que nos anos 60 o carnaval alagoano entrou em crise e que teve início com a crise dos clubes em todo o país. “Tempo em que a juventude se rebelou contra as tradições familiares, incluindo as diversões sobre o mesmo teto e com as mesmas músicas. O clube foi atingido e o Carnaval de rua, que nunca mereceu um tratamento à altura da sua importância, também sofreu desinvestimentos.”   Festa de rua é retomada nos anos 1980   “A retomada das festas em Alagoas aconteceu nos anos 80, quando a classe média descobriu a rua como palco para as festas. O bloco Pecinhas de Maceió, em 1983, e Meninos da Albânia, em 1985, iniciaram um novo ciclo em um novo espaço para o Carnaval: o Circuito Pajuçara/Ponta Verde”, ressaltou Edberto. No ano 2000, o Circuito Pajuçara/Ponta Verde ganhou força novamente com a criação do bloco Pinto da Madrugada. O espaço, que teve seus maiores públicos durante o Maceió Fest, voltou a ser palco de grandes prévias carnavalescas. Em 2001, surgiu o Jaraguá Folia utilizando principalmente a Rua Sá e Albuquerque. Hoje o evento se expandiu e começa na Praça Sinimbu. São mais de 100 blocos e inúmeras atrações de um novo carnaval de rua em Maceió, que continua a ter prévias fortes. NO EMBALO DO FREVO O frevo como ritmo musical nasceu em Pernambuco, mais precisamente em Recife, quando, em 1909, o capitão da Brigada Militar de Pernambuco, José Lourenço da Silva, o Zuzinha, ensaiava a banda e resolveu transformar a marcha-polca em frevo. Segundo alguns estudiosos, o frevo bebe na polca, quadrilhas e dobrados marciais. Já o frevo como dança, surgiu das coreografias que os capoeiras faziam à frente das bandas militares. Esse ritmo influenciou muito os carnavais nordestinos e, segundo Ticianeli, chegou a Alagoas no final de 1910. “Em Maceió, os nossos antigos carnavais tiveram a presença de valsas, polcas, maxixes, marchas, sambas e até do coco. Como se vê, o milenar Carnaval já teve inúmeros tipos de ritmos embalando suas danças aqui e pelo mundo afora. Portanto, quando se identifica que sofremos do início até meados do século XX uma maior influência do frevo pernambucano, não significa que tenhamos que manter isso eternamente. A cultura é viva e da mesma forma que o frevo sepultou outros ritmos, será sepultado também. Por enquanto, ele continua vivo em Alagoas graças ao apoio e o incentivo dos que se formaram culturalmente sob seu reinado”, ressalta Ticianeli.   Completando 35 anos, bloco garante desfile nas prévias   As comemorações nas prévias carnavalescas em Maceió vão ganhar um motivo a mais: a Mamãe completa 35 anos de muito frevo e folia. Segundo o organizador do bloco Filhinhos da Mamãe, Ronaldo de Andrade, a organização chegou a cogitar apenas a concentração do bloco. No entanto, a confirmação do desfile pelas ruas de Jaraguá promete alegrar ainda mais os festejos. “Mamãe este ano completa 35 anos, Bodas de Coral e esse ano a gente vai cantar os parabéns do bloco. Vai ter parabéns para a Mamãe. Com concentração a partir das 20h e show a partir das 21h com Mel e convidados homenageando os cantores que já passaram pelo Filhinhos da Mamãe com a comenda que o bloco tem. Vamos trazer o Boi Lacral. Vamos fazer também o Concurso de Fantasias, vamos ter a banda Santa Cecília puxando o bloco na concentração para a rua”, afirma. Ronaldo Andrade avalia que a mudança de trajeto no Jaraguá Folia vai beneficiar o Filhinhos da Mamãe, ajudando na fluidez do desfile. “Quando o Jaraguá Folia acabava, os blocos continuavam na Sá e Albuquerque e atrapalhava muito o percurso dos Filhinhos da Mamãe. A gente nunca chegava antes das 2h. A polícia chegou a parar o bloco algumas vezes. Para a gente está sendo uma coisa boa porque a gente tem um ritual para cumprir. A gente não só brinca o Carnaval e, com a descentralização do Jaraguá Folia para a enseada, isso vai facilitar muito o nosso percurso em questão de horário, do ritual, do cortejo dos Filhinhos da Mamãe”, explica.