Cidades

Conquista: O sonho do diploma após os 40 anos

De acordo com o Inep, Alagoas registrou 9.807 matrículas no ensino superior por pessoas nessa faixa etária em 2015

Por Lucas França com Tribuna Independente 08/12/2017 09h40
Conquista: O sonho do diploma após os 40 anos
Reprodução - Foto: Assessoria

O sonho de conquistar uma vaga na faculdade e universidades não é mais só dos jovens recém-saídos do ensino médio. Muita gente mais experiente está correndo atrás do tempo perdido e entrando no ensino superior sem se importar com a idade. Seja por uma realização pessoal ou profissional.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação, 732 mil matrículas nos cursos de Graduação Presenciais e à Distância foram realizadas por pessoas acima de 40 anos, no Brasil, em 2015. E em Alagoas nesse período foram 9.807 estudantes matriculados nessa faixa etária.

Em 2014, o número de estudantes em nível superior em idade acima de 40 anos no Estado, foi de 9.698. Um aumento pequeno, mas mostra que as pessoas estão cada vez mais procurando sua realização pessoal ou até mesmo profissional.

E essas pessoas certamente já ouviram a seguinte frase: “Nunca é tarde para voltar a estudar”. E quem já ouviu logo relaciona, na maioria das vezes, aos casos de gente que resolveu voltar à sala de aula depois de certo tempo. Como mostra os dados do Inep.

Um exemplo disso é o caso do estudante Wilmar Rabelo, de 52 anos, que entrou na faculdade aos 45 anos para realizar um sonho que tinha desde cedo.

“Resolvi voltar à sala de aula aos 45 anos. Em 2010 entrei na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para cursar Relações Públicas. Formei-me em 2010 com 48 anos e estou de volta na universidade para sair com outra habilitação. Eu fiz o caminho inverso. Primeiro entrei no mercado de trabalho, constitui família e a faculdade foi ficando para trás. Mas, como nunca é tarde para voltar a adquirir conhecimento, resolvi entrar na academia”, comentou o estudante.

Wilmar conta que a idade não é problema e foi muito recebido pelos os acadêmicos mais jovens, por professores e todos que compõem a universidade. “Todos me acolheram muito bem. Em sala de aula, eu ensino e aprendo. Não existe empecilho. Particularmente, foi a idade certa para voltar porque já tenho maturidade para saber o que quero e força para conquistar meus objetivos”, ressalta.

VIDA ACADÊMICA

“Na universidade, constitui amizades, consolidei outras, mas o principal é o conhecimento que adquiri e venho adquirindo a cada dia. Participei de vários congressos e encontros de estudantes da área. Apresentei projetos e fui premiado regional e nacionalmente. Sou indicado por professores para ministrar palestras. As oportunidades que a universidade me dá eu estou aproveitando todas. Também fico satisfeito em ser espelho para muitos jovens e também para as pessoas mais experientes”, comenta Wilmar.

SONHOS FUTUROS

“Estou sabendo aproveitar todas as oportunidades. Estou como delegado do Conselho Regional de Relações Públicas em Alagoas (CRRP). Quero fazer minha dissertação de mestrado na área de comunicação em desenvolvimento local, que será em cima dos trabalhos que apresentei em congressos. Pretendo também publicar livros acadêmicos e revistas científicas. Estou cursando atualmente jornalismo e não pretendo parar por aqui. Já estou pensando na terceira graduação, pretendo fazer direito”, conta.

Assim como Wilmar, seu Heron Carvalho conta com felicidade sua realização em graduar-se como jornalista. “Sempre que me debruçava num texto com narrativas empolgantes como, por exemplo, as de Nelson Rodrigues e Venceslau Ponte Preta, que ainda conseguem fazer do leitor não só o leitor, mas um coadjuvante do enredo, e por vezes, até mesmo protagonistas. Aí, minha mente era tomada pelo brilhantismo em que o mundo traduz em palavras a percepção de uma realidade factual envolto aos processos opinativos. Então, resolvi entrar na faculdade”, comenta.

O jornalista concluiu o curso em 2016 com 61 anos de idade. “Foi um momento de muita satisfação para mim”, comenta ressaltando que aos 23 anos conseguiu a primeira graduação no curso de Psicologia, em seguida fez o curso de Direito.

“Há um esforço para aprender mais”

A professora doutora Magnólia Rejane Andrade dos Santos, da Ufal, acredita que existem muitos motivos que levam as pessoas a decidirem pelo retorno às faculdades.

“Elas retornam geralmente para realização de um sonho. Muitas já trabalham e procuram um curso voltado para a área onde já atuam, para adquirir um conhecimento e obter reforço teórico e aquisição de um diploma ou certificado para conquistar um aumento salarial ou mesmo uma promoção no emprego”, explica Magnólia Rejane.

A professora ressalta que os alunos mais velhos são mais responsáveis porque eles são maduros e entraram na universidade depois de uma longa luta. “Provavelmente esses alunos mais ‘velhos’ são de classe popular que só agora tiveram a chance de entrar no nível superior porque deve ter melhorado a sua situação econômica. Eu particularmente não conheço alunos nessa faixa etária de classe mais elevada. Pela experiência aqui na Ufal é de alunos com mais responsabilidade nessa faixa etária”, explica Magnólia.

APRENDIZADO

Magnólia diz que o aprendizado é bem relativo, mas acredita que eles são esforçados. “Há um esforço para aprender mais. Quando eles têm alguma dificuldade, não compreendem algo, os alunos mais velhos tomam iniciativa de procurar o professor para entender melhor o assunto. Já os alunos mais jovens em geral estão mais envolvidos com turma e com outros colegas e não procuram o professor em particular para tirar dúvidas. Então, nesse sentido, o que facilita o aprendizado do aluno mais velho é o fato dele expressar para o professor as suas dificuldades com mais facilidade”, ressalta a professora.

A professora conta ainda que a vivência desses alunos é vasta porque eles têm muita estrada. E que muitos já estão com profissões definidas.

“Eles têm muito caminhado percorrido e isso tem o fator de relacionar o conhecimento em sala de aula com o conhecimento adquirido através da experiência. No entanto, isso não significa que vai ser mais fácil para eles quando chegarem ao mercado de trabalho. Porque como sabemos as regras são outras. Os jovens quando entram no mercado trabalha muitas vezes com o valor da remuneração muito pequena ou quase nenhuma. E as pessoas mais velhas não têm como submeter-se a isso porque em geral já constituíram famílias. Então, mantêm a profissão antiga e realizam algumas coisas nas horas vagas relacionadas à área que está cursando até ter a oportunidade de trabalhar na área. Por exemplo, quando ele faz um concurso, deixa a profissão antiga para assumir a nova”, explica Magnólia.