Cidades

Quilombolas contam histórias de luta e pertencimento

Alagoas tem marcado em sua história a luta de Zumbi dos Palmares e o fato de ter abrigado o maior quilombo do período colonial brasileiro

Por Assessoria 02/12/2017 15h50
Quilombolas contam histórias de luta e pertencimento
Reprodução - Foto: Assessoria
“Aprendi artesanato na infância com a minha mãe e hoje é a minha fonte de renda. Sempre tive orgulho de ser quilombola. Faço peças de crochê e com barro moldado a mão e cozido em fornos artesanais”, relata Albertina Nunes, 43 anos, membro da comunidade quilombola Muquém. Nascida em Muquém, localizada no município de União dos Palmares, Albertina fala sobre seu povoado. “O nome ‘Muquém’, segundo os moradores mais velhos, tem sua origem associada à prática de se amuquinhar. A comunidade surgiu com um casal de negros, sobrevivente da batalha que derrubou o Quilombo Palmares em 1694. Os dois esconderam-se (amuquinharam-se) na região. Hoje, temos 173 famílias e 833 habitantes que sobrevivem do artesanato e agricultura”, diz a artesã. Presidente da Associação dos Remanescentes Quilombolas da Comunidade de Muquém, Albertina conta que após a certificação da comunidade pela Fundação Cultural Palmares eles passaram a ter acesso a políticas públicas. “Muita coisa melhorou para nós. A certificação facilitou o acesso à saúde, saneamento, segurança e educação, permitindo a nossa inclusão. Acho que o reconhecimento é fundamental para que os nossos direitos sejam garantidos e nossas tradições valorizadas”, concluiu. No Brasil, as comunidades quilombolas estão localizadas em quase todos os estados, com exceção do Acre e de Roraima. Embora seja o segundo menor estado do país, Alagoas abriga 68 comunidades remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares, distribuídas em 35 municípios. Alagoas tem marcado em sua história a luta de Zumbi dos Palmares e o fato de ter abrigado o maior quilombo do período colonial brasileiro, o Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga. A Serra foi tombada em 1985 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e durante este mês ganhou reconhecimento internacional com a certificação da área como patrimônio cultural do Mercosul. Os quilombolas são descendentes de africanos escravizados, que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas, e representam resistência a diferentes formas de domínio, mantendo uma importante ligação com a sua história. Como em todo o Brasil, percebe-se uma vasta tradição e expressões culturais nas comunidades quilombolas de Alagoas. O artesanato, por exemplo, é bastante diversificado. São produzidos cestos de palha, bordados, crochê, redes de pesca, redes de descanso, cerâmica, chapéus, dentre muitos outros produtos e alguns artesãos são reconhecidos nacionalmente. Por outro lado, existem comunidades que apresentam dificuldades em manter suas tradições e sofrem com as desigualdades. Eliane Marques, 40 anos, remanescente do povoado de Jussarinha, em Santana do Mundaú, conta que não praticava as tradições de sua comunidade. “Não me interessava pelas tradições do meu povo porque eu via o preconceito das pessoas com a comunidade. Muitos quilombolas, inclusive eu, pensavam dessa forma. Acho que a certificação da minha comunidade contribuiu muito para a diminuição do preconceito porque, além de reconhecer nossos direitos, despertou o sentimento de pertencimento”, conta a artesã. “Hoje posso dizer que tenho orgulho em ser remanescente e vejo a importância da preservação da nossa cultura. Meu sustento vem da tradição que é passada ao longo das gerações, o artesanato. Trabalho com a fibra da bananeira e espero que os mais novos continuem com as tradições. As danças, artesanato, gastronomia e outras práticas da nossa cultura devem continuar vivas”, concluiu. A Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), por meio da Superintendência de Direitos Humanos e Igualdade Racial, busca direitos e oportunidades para os remanescentes quilombolas, realizando ações que visam estimular o sentimento de pertencimento étnico-racial nesse segmento. As Conferências para Promoção da Igualdade Racial realizadas pela Semudh em parceria com o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir) são exemplos de momentos para discutir as demandas e efetivação das políticas públicas de promoção da igualdade racial, promovendo a conscientização social e o combate ao racismo. O presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir), Helcias Pereira, ressaltou a importância das políticas que atendem os anseios das comunidades quilombolas. “Nosso papel é atuar de forma que as políticas públicas em defesa dos remanescentes de quilombos sejam efetivas. Nós lutamos pela promoção da igualdade de direitos”, afirmou. Palestras, rodas de conversas, debates e seminários são também ações realizadas pela Semudh com o propósito da conscientização social e do despertar do sentimento de pertencimento no povo quilombola. Consciência Negra O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, tem o intuito de fazer as pessoas refletirem sobre a inclusão do negro na sociedade brasileira e foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares. Data da morte do líder negro. Zumbi foi o último chefe do Quilombo dos Palmares e ganhou respeito e admiração devido suas habilidades como guerreiro. Lutou pela liberdade de culto e religião, bem como pelo fim da escravidão no Brasil.