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Dados do Detran mostram que Alagoas tem 1,5 veículo por condutor habilitado

Enquanto frota cresce de forma acelerada, planejamento do trânsito não tem acompanhado o ritmo

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 25/11/2017 10h43
Dados do Detran mostram que Alagoas tem 1,5 veículo por condutor habilitado
Reprodução - Foto: Assessoria
Do Sertão ao Litoral, Alagoas teve em cinco anos aumento de 36,8% na frota de veículos. E isto tem repercutido na qualidade do trânsito, pois crescimento e planejamento neste caso estão em direções contrárias. Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-AL) apontam que em 2012 eram 567 mil registrados no estado. Até agosto deste ano já são 776 mil. E não é apenas o número de veículos circulando que tem aumentado. O número de condutores habilitados não para de crescer. Em 2012, eram 373 mil. Este ano o número ultrapassa a marca dos 500 mil. Crescimento de 35,7%. Quase a metade destes veículos, 320 mil, está em Maceió. Segundo dados da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), são dois mil a mais a cada mês. “É uma frota que cresce muito. E aí as obras de mobilidade não conseguem acompanhar o crescimento na questão de veículos nas ruas. A gente emplaca na capital cerca de dois mil por mês. Enfim, a situação tem ficado um pouco complicada”, diz o superintendente Municipal de Transportes e Trânsito, Antônio Moura. Para o especialista em engenharia de tráfego e professor da Universidade Federal de Alagoas, Alberto Rostand Lanverly, equacionar veículos e espaço é um problema que remete a décadas sem planejamento. “A falta de planejamento lá atrás é a resposta para o que a gente está vivendo hoje. O problema não é você ter muitos veículos. O problema é você ter pouco espaço para esses veículos se deslocarem e isso é uma clara falta de planejamento das autoridades que se sucederam”, resume. Lanverly defende uma maior preocupação com a circulação de veículos nas vias, que tem sido um problema recorrente na capital, nas rodovias e também em municípios de grande porte no interior. “Nós vivemos hoje o legado das gerações que nos antecedem, onde a política sobrepujava a técnica. Os órgãos públicos sempre consideraram o transporte não como uma ciência, mas como algo a ser resolvido a curtíssimo prazo, sem considerar a real necessidade do problema. Se nada for feito, é caos. Se não tiver alternativas, o trânsito vai parar”, alerta o especialista. O engenheiro afirma ainda que as alternativas precisam ser pensadas em longo prazo. “É preciso planejar com vias. É preciso imediatamente abrir vias. Se não houver condições de duplicar ou dar alternativas para os veículos transitarem, não tenha dúvidas que em cinco ou dez anos vai parar. Porque vão construindo, botando carros, botando moradores. Ou se faz viadutos, pontes como a linha vermelha, ou para”, analisa. Segundo o especialista, apesar dos problemas enfrentados, pensar em soluções drásticas como rodízio de veículos, por exemplo, deve ser o último recurso aplicado. “Em São Paulo houve um crescimento tão acelerado que a alternativa é escolher o carro que vai sair em determinado dia da semana. Mas isso é o último dos últimos recursos. Quando você não tem mais onde ampliar, mais onde crescer é que passa para o rodízio. Mas isso é penalizar o condutor, você ter um carro e ser proibido de andar com ele, porque o Estado ao longo das décadas não se preocupou em abrir vias”, avalia Lanverly. Movimento intenso já faz parte da rotina Sair mais cedo e abusar da paciência. Ao transitar pelas vias fica fácil encontrar motoristas descontentes com o fluxo de veículos. Para o condutor Jonatas Lima a circulação de veículos na capital tem prejudicado sua rotina. “Rapaz, o trânsito tem atrapalhado bastante. Porque fica impossível transitar. Você tem que escolher a hora que vai andar”, diz. [caption id="attachment_18037" align="alignleft" width="300"] Jonatas Lima conta que o trânsito na capital tem prejudicado sua rotina (Foto: Sandro Lima)[/caption] Taxista há onze anos, o senhor Lauro Pedro dos Santos diz que dá sempre um jeitinho para fugir do trânsito. “Atrapalha um pouquinho. Né? Mas com paciência dá. Precisa melhorar um monte de coisas. As vias esburacadas atrapalham um pouco. Mas com jeito dá. Né?”, diz o motorista. Também taxista, Antônio Firmino, de 51 anos, acredita que o problema é comum em grandes cidades. Mas reclama da condição das vias. “De todo jeito atrapalha. Mas isso é no Brasil todo. Tem que ajeitar os buracos, porque onde você anda tem buraco e isso prejudica demais.” [caption id="attachment_18038" align="aligncenter" width="300"] Lauro Pedro diz que sempre dá um jeitinho para fugir do congestionamento (Foto: Sandro Lima)[/caption] “Não podemos dizer que o nosso trânsito é bom; ele é muito difícil” O superintendente Antônio Moura reconhece os problemas no trânsito da capital, o qual ele classifica de ‘muito difícil’. De acordo com ele, o planejamento tem esbarrado em soluções imediatas para resolver problemas pontuais. “Quando a gente fala de planejamento a gente fala daqui a 20, 30 anos. O problema é que a gente tem dificuldades para serem revolvidas hoje por conta de falta de planejamento do passado. Maceió cresceu de uma forma desordenada e essa falta de planejamento faz com que em alguns casos a gente tem uma situação praticamente irreversível, tendo que demolir prédios, casas para poder criar espaços. E isso infelizmente não é possível. O que acontece hoje é um planejamento em longo prazo para que as futuras gerações em Maceió possam ter um trânsito melhor. A gente não pode dizer que o nosso trânsito é bom. Ele é muito difícil”, reforça. Moura acrescenta que é preciso dar alternativas, como a opção pelo transporte público à população. “Tanto a Prefeitura de Maceió quanto o Governo do Estado têm trabalhado para melhorar o fluxo de veículos, na questão de obras de infraestrutura, mas a gente tem tido dificuldade. A SMTT já vem trabalhando na questão da mobilidade, sentido de vias, semáforos inteligentes, faixa exclusiva de ônibus. Porque melhorando a qualidade do transporte público, e esse é o grande desafio, que o cidadão deixe o carro em casa e passe a andar de transporte público”, expõe. No entanto, o superintendente diz que muito ainda precisa ser feito para contribuir com a melhoria nas condições de circulação de veículos na capital. “Obviamente que a gente precisa de mais obras, viadutos, passarelas. A prefeitura deve acelerar o ritmo em 2018 em vários projetos que tendem a melhorar a mobilidade urbana na capital”, diz Antônio Moura. DER As rodovias estaduais também são áreas com intenso fluxo de veículos. Sobre o assunto, o superintendente de operações do Departamento Estradas e Rodagem (DER-AL), Iran Menezes afirma que projetos em andamento visam diminuir os efeitos do intenso fluxo de veículos. “Nós estamos hoje em andamento com 706 quilômetros entre restaurações e implantações. Nós temos obras contratadas em rodovias na ordem de 400 quilômetros, porém não iniciadas. E temos 476 quilômetros em processo de contratação. Isso mostra em termos de malha viária que atende essa demanda de veículos, além do Pró Estrada”, afirma. Menezes acrescenta que com melhorias sendo executadas nas rodovias, beneficia o fluxo de veículos e as condições de circulação. “Com rodovias restauradas dá mais celeridade, conforto e tranquilidade aos motoristas. Estamos focando muito na melhoria desses trechos com intenso fluxo, como Maceió a Barra de São Miguel, ou Maceió até Maragogi”, explica.