Cidades

Alagoas é o segundo estado onde mais se matam negros

Dia da Consciência Negra nesta segunda-feira é oportunidade para reforçar reflexões e debates, apontam ativistas

Por Evellyn Pimentel / Tribuna Independente 18/11/2017 10h25
Alagoas é o segundo estado onde mais se matam negros
Reprodução - Foto: Assessoria
As comemorações do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, reforçam o espaço de debate sobre a luta por direitos da população negra no país. Em Alagoas, a taxa de mortes entre negros é de 68,2 a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Atlas da Violência 2017, a segunda maior do país, atrás apenas do Estado de Sergipe, que encabeça a lista com 73,3 homicídios. Apesar de uma queda de 16,8% em relação ao ano anterior – a pesquisa leva em conta dados de 2015 -, os números de mortes de negros em Alagoas são quase o dobro da taxa nacional de 37,7. Para o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e ativista do Movimento Negro há mais de 30 anos, Helcias Pereira, as altas taxas são um problema histórico no estado, o que implica na necessidade constante de lutas por ações afirmativas. “A violência contra a juventude negra naturalmente não é de agora. Já na década de 1990 a gente constatou que de cada 10 jovens nas pedras do IML 8 corpos eram negros. E isso não mudou, ainda temos esse mesmo índice. O que acontece hoje é a que a população negra está às margens da sociedade e, como nos primórdios, mora nos grotões, nos lugares mais afastados por conta do que a colonização provocou. Esse Apartheid continua nos dias de hoje”, diz. De acordo com Pereira, não é apenas o Estado ou as forças policiais que atuam no processo de melhora nas condições sociais, é preciso haver um comprometimento integrado da sociedade e uma mudança de mentalidade. “A falta de políticas públicas na saúde, educação, faz com que esse jovem não tenha as oportunidades como deveria. Principalmente emprego. Esse jovem fica na periferia sem nenhuma assistência e tende a ser engolido pelo tráfico, pela droga, pela violência e passa a conviver naturalmente com isso. A gente vê nos programas policiais o corpo estendido no chão e as crianças ao redor, diante do corpo e se preocupam mais em aparecer na câmera do que com o morto. Quer dizer, está banalizado. A morte não tem valor nenhum. É só mais um e nada é feito”. Para o presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Social da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Alagoas, Alberto Jorge, há uma disparidade entre as condições ofertadas à população negra no Estado. “Basta observar que a cada 10 assassinatos, 8 são de pessoas negras. Você encontra essa população onde somos maioria no país, a maior população negra está nas grotas, favelas. Você encontra o maio índice de negros na população desempregada, fora do sistema educacional... Então são nessas comunidades onde existem o maior número de assassinatos”, avalia. Data é celebração da resistência dos ideais de Zumbi dos Palmares O advogado Alberto Jorge ressalta que além da celebração é preciso avançar na luta por direitos. “São dois momentos bastante distintos. O primeiro é celebrar a morte e vida de Zumbi dos Palmares, da mesma forma como as igrejas celebram seus padroeiros ou que o Brasil reverenciou a Proclamação da República, da mesma forma nós temos obrigação de reverenciar Zumbi dos Palmares na luta contra a escravidão nesse país. O segundo ponto é a luta política do movimento, que entendemos que temos muito o que fazer. Existe a segregação racial, discriminação, racismo, falta de oportunidades no mercado de trabalho, pelos trabalhos submissos, nós entendemos que há muito que avançar”, reforça. Para Helcias Pereira, o momento é de festa e ao mesmo tempo de reflexão na luta por direitos e ações afirmativas. Ele afirma que o dia passou a ser um mês dedicado ao orgulho negro. “Sou ativista do Movimento Negro há mais de 30 anos. O Dia da Consciência Negra passou a ser o mês da Consciência Negra dada a profundidade dos debates e reflexões sobre a luta e resistência dos quilombolas. Hoje no projeto “Vamos Subir a Serra”, a gente fez um debate que desde a década de 1980 a Serra da Barriga, a Praça dos Palmares ficavam repleta de pessoas comemorando Zumbi dos Palmares. A gente acredita que o Movimento Negro resiste em todas as expressões culturais. Esse é um dia de festa, de reflexão e de reafirmação do povo negro a partir da experiência do nosso comandante em festa, herói nacional, zumbi, referência de luta para o povo afrodescendente”, acrescenta. Pereira garante que a luta do Movimento Negro é constante, no sentido de trazer à memória os ideais proclamados por Zumbi dos Palmares. “Enquanto uma pessoa negra for tratada como feia, inferior e incapaz, enquanto Zumbi dos Palmares, herói nacional, não for devidamente reverenciado como deve ser, a luta continua. Enquanto tiverem escolas repletas de crianças negras sem condições de educação digna, a luta continua. Enquanto tivermos negros em minoria nas Universidades, a luta continua. Então, a luta é recorrente e naturalmente faz parte da esperança do nosso povo. A gente quer lutar, vencer e festejar porque isso faz parte do nosso povo”.