Cidades

Artistas questionam cancelamento de shows em cima da hora na Virada Cultural

Músicos afirmam que toda a documentação exigida foi providenciada, diferente do que informou a Secult

Por Thayanne Magalhães 19/09/2017 09h33
Artistas questionam cancelamento de shows em cima da hora na Virada Cultural
Reprodução - Foto: Assessoria

Entre os artistas locais ainda é indigesto o anúncio de última hora de que ficariam de fora da Virada Cultural em Jaraguá, pela comemoração dos 200 anos da emancipação política de Alagoas, ocorrida no último final de semana.

“Uma situação lamentável. Após a divulgação da programação da Virada Cultural, a produção do evento cancelou vários shows que já haviam sido divulgados amplamente, inclusive o do Divina Supernova. Nós fomos comunicados por telefone que, por algum motivo até então não esclarecido, nosso processo de contratação não tinha sido aprovado ou analisado. Naquele momento, tomado pela surpresa, não contestei. Apenas publiquei uma nota resumindo ao nosso público a informação de que o show havia sido cancelado. Até aquele momento eu não fazia ideia de que tantos outros artistas também tiveram seus shows cancelados”, escreveu o músico Júnior Bocão em sua página do facebook.

Segundo o artista, houve desencontros de informações e ele teve que organizar toda a documentação em cima da hora.

“No dia sete de setembro, um amigo me perguntou se eu havia ido para a reunião organizada para tratar de assuntos relacionados a contratação. Não fui comunicado sobre a tal reunião. Sem saber de nada, no dia doze, fui informado que tinha que levar às pressas documentos para dar entrada no processo de contratação. Mesmo indignado por não ter recebido nenhum contato anterior, corremos e providenciamos tudo que nos foi pedido. No dia seguinte retornamos para alterar um documento, e feito isto, tudo estava 'ok'. Naquele momento, o nome da banda já estava circulando nos materiais de divulgação oficiais e imprensa, o horário definido e tudo mais. Da nossa parte corremos para preparar o show, fizemos mudanças na agenda e cronogramas, até que no meio da tarde de sábado chegou o comunicado”, explicou.

O músico destaca ainda que alguns artistas receberam a proposta de tocar sem receber cachê, depois que seus nomes já tinham sido divulgados na programação oficial do evento. 

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult-AL) enviou nota informando que, “dos 150 artistas contratados para o evento da Virada Cultural, apenas 14 tiveram problemas com a documentação exigida pela Procuradoria Geral do Estado e não houve tempo hábil para que estas bandas regularizassem sua documentação. Por este motivo, os shows não aconteceram. A Secult informa ainda que os artistas/bandas que não foram contemplados na Virada Cultural, serão priorizados nos próximos eventos da pasta”.

Para os artistas que entraram em contato com o Tribuna Hoje, a informação da Secretaria vai de encontro às informações passadas pelo secretário de Comunicação, Ênio Lins. Ele teria informado à imprensa que não houve tempo para que a Procuradoria Geral do Estado (PGE) avaliasse a grande quantidade de documentos.

A assessoria de imprensa da banda Xique Baratinho, que foi uma das bandas que ficaram de fora da Virada Cultural, questiona a explicação da Secult. “A banda cumpriu todas as exigências e inclusive recebeu a informação de um representante do evento na quinta-feira de que a apresentação estava confirmada. Como se informa de que houve problemas nas documentações se o procurador sequer analisou? Essa nota da Secult não condiz com a realidade”.

Ênio Lins teria informado ainda que será realizada uma segunda viara com 12 horas de apresentações, onde as bandas que ficaram de fora (de última hora) da Virada Cultural devem se apresentar. “Ninguém está vetado nem ninguém foi censurado”, garantiu o secretário de Comunicação.

Para Júnior Bocão, da Divina Supernova, “a realização de uma nova Virada, ou ‘viradinha’ como citou o [jornalista] Ricardo Mota em seu blog, resolve uma questão moral. Para nós e o público. Mas isto não resolve os prejuízos e o uso de imagem que foram feitos”.

Na internet, muitos maceioenses comentaram sobre o fato. A arquiteta e urbanista Carol Gusmão questionou a seriedade de uma secretaria comandada por Melina Freitas, acusada de desviar dinheiro público na época em que foi prefeita de Piranhas.

“Uma vergonha esta virada cultural dos 200 anos de Alagoas. Programação duvidosa, artistas sem receber seus cachês e um silêncio constrangedor por parte da SECULT. Se bem que: o que esperar de um Estado que tem Melina Freitas como secretária de Cultura? O que esperar de um Estado onde a arte SEMPRE teve papel secundário nas pautas políticas? Sinceramente, sinto muito pelos artistas locais. Como sabemos historicamente, Alagoas é uma mãe para os artistas vindos de fora, mas uma péssima madrasta para os locais”, escreveu.