Cidades

Diferentes gerações, o mesmo amor

No dia dedicado a eles, avós de diversas idades contam trajetória de afeto e abnegação pelos seus netos

Por Tribuna Independente 26/07/2017 12h42
Diferentes gerações, o mesmo amor
Reprodução - Foto: Assessoria

Sejam eles tradicionais como o vovô Sebastião Leodino dos Santos, de 87 anos, ou modernos como a vovó Sandra Vieira, de 50, avós mostram que nem diferença de gerações ou distância atrapalha o amor pelos netos.

São 6 filhos, 16 netos, bisnetos que o fizeram perder a conta e um tataraneto. O alfaiate Sebastião Leodino, conhecido como Bau já chegou a esta surpreendente marca.

Ao iniciar a entrevista, a memória do seu Bau falha “tenho que saber a quantidade de bisnetos porque são muitos. Eu tenho que procurar saber, porque é muito menino, os netos eu até sei a quantidade, mas para saber o nome de tudo eu tenho que perguntar. Bisneto é um bocadão [risos]”, diz.

Seu Bau se considera um avô presente, mas com a sabedoria adquirida ao longo do tempo revela não se envolver muito na criação dos netos, para evitar desentendimentos.

“Me dou muito bem, respeito o avanço, o positivo e o negativo respeito também. Sou um avô que respeita, que ama, mas não misturo muito não. Acho que já passou minha fase de criar e, se eu for intervir e dar opinião, vai ter choque entre a minha ideia e a do pai da criança”.

Típica vovó coruja, Sandra Vieira, de 50 anos, tem dois netos de 11 anos e Clarice de 10. Ela define seu sentimento em relação aos netos como ‘inabalável’.

“Eu comparo o amor de vó como o amor de Deus. Um amor sem igual. O amor de Deus é assim, muito lindo, muito forte, maravilhoso, sem comparação. Vó é mãe duas vezes. É maravilhoso ser vó, porque é um amor inabalável, insuperável”, afirma.

A relação com os netos, segundo ela, é a melhor possível. Ela se desdobra para agradar e estar sempre por perto. “Até o que não podemos fazer a gente faz, corre atrás, quer o bem-estar. Sou felicíssima por ser vó. Criei um dos meus netos até os 6 anos de idade e ele me adora. Minha outra neta também chora muito para vir para a minha casa. É um amor infinito nessa relação tanto do neto para a vó como da avó para o neto.”

Sandra acredita que os avós têm a oportunidade de aproveitar as crianças de uma forma diferente dos pais. Para ela, ser avó mudou sua vida.

“Avó mais feliz, brincalhona. Erick diz ‘Voinha vamos jogar bola’ e eu corro com ele, me embolo na areia. Brinco de pega-pega, com Clarisse também. E a mãe às vezes não tem esse tempo, a paciência de brincar com o neto”, detalha.

Avó de cinco netos destaca que relação muda com o tempo

Outra vovó que veste a camisa do clube dos netos é Maria de Fátima Alves, de 64 anos. Dona Fátima é experiente nesta área. São cinco, com idades entre 20 anos e 1 ano e meio. Ela afirma que o aprendizado é diário de ambos os lados.

“Tenho cinco netos, dois que moram comigo, de 20 e 17 anos, um que mora próximo de 10 anos e outros dois de 3 e 1 ano e seis meses que moram longe. A gente aprende muito, são idades diferentes, as conversas, tudo vai mudando, pra melhor.”

De acordo com Fátima, o sentimento dedicado é o mesmo com as crianças e os adultos, o que muda é a proximidade entre eles. “Quando eles são crianças, o amor é diferente de quando são mais velhos. Não é o mesmo, cada um vai seguindo seu caminho, porque é o normal, mesmo. O amor de vó continua mesmo, o que muda é a relação. Mas todos sempre presentes na minha vida”.

Para ela, a vivência com os netos é primordial. A relação entre avós e netos, segundo Fátima, vai além do amor de pai e mãe, porque envolve a distância, a preocupação e, ao mesmo tempo, uma maior liberdade no relacionamento.

“Muito amor. O amor de vó é diferente do amor mãe e pai. Porque os filhos a gente cria e fica. Os netos a gente não fica sempre. É temporada. Quando chega, a alegria é grande, quer abraçar, brincar, beijar. Os que moram longe a saudade é muito grande. Eu amo os meus filhos, mas com meus netos o amor é sem domínio. A convivência é temporária. Eles têm sua casas e sua família”, explica.

Intitulada como uma ‘vovó meio termo’, ela acredita que é necessário acompanhar as mudanças de gerações. “Não sou nem tradicional, nem moderna, sou meio termo”, garante.

Afeto precisa ser construído diariamente, diz psicólogo

Recém-chegada no clube das vovós, Diomar Oliveira tem 34 anos e mais parece a mãe de Gabriel de apenas um ano. Para Diomar a experiência tem sido indescritível. A sensação do primeiro neto é comparada a de quando teve o primeiro filho.

“Com um a chegada de um neto, a gente tem uma nova visão de vida, tipo nos cuidados. É diferente de ser mãe porque a gente não sente as dores, mas é igual na preocupação, no fato de parece que fui eu que tive o bebê. No meu caso que foi o primeiro neto, é a mesma sensação de ter o primeiro filho”, conta.

Segundo Diomar, as responsabilidades e preocupações dobram com a chegada de um neto. Apesar disso, quer que o pequeno Gabriel aprenda desde cedo lições consideradas valiosas.

“Em relação a vida, quero que ele seja um homem responsável, educado, temente a Deus. Quero que ele reflita a minha vida para a vida dele, no modo de amar o próximo e respeitar”, destaca.

O psicólogo Laerte Vieira destaca que a relação entre avós e netos é extremamente positiva para ambos. Mas alerta que o contato e o respeito devam ser construídos no cotidiano, não apenas no dia dedicado as homenagens.

“Sou avô de oito netos, a questão de avó tem muito a ver com a relação dos filhos. De como a família lida com isso. O carinho entre os filhos e pais e como a criança percebe isso. É resultado de toda uma história de vida, questões de idade. Precisa ser construído e pensado como foi feita essa relação.”

Segundo ele, o aprendizado entre as gerações é enriquecedor tanto para os avós como para os netos.  “O resultado é uma relação saudável com o mundo. Os avós representam a história da criança. Ela sentindo que veio de avós significantes, ela vai se tornar uma pessoa significante, confiante, segura. Ela vai vencer. Numa família onde há instabilidade ou confusão nisso, a criança provavelmente vai sofrer”, esclarece o psicólogo.