Cidades

Venda de comidas típicas juninas durante todo o ano garante sustento familiar

Famílias sobrevivem comercializando pratos tradicionais e fazem alegria dos clientes com ou sem festas juninas

Por Tribuna Independente 24/06/2017 09h39
Venda de comidas típicas juninas durante todo o ano garante sustento familiar
Reprodução - Foto: Assessoria

Os negócios de Cleonice de Souza Marques e Jailton de Oliveira têm histórias parecidas, eles nem se conhecem mas começaram com a venda de milho e hoje os produtos viraram tradição em dois bairros de Maceió. Para eles, vender comida típica é garantia de sucesso e renda o ano todo.

Para Cleonice tudo começou em 2005, no Cruzamento da Avenida Durval de Góes Monteiro, Tabuleiro dos Martins, num local conhecido como Bomba do Gonzaga. O produto era o milho e a estrutura apenas um fogareiro. É o que conta o filho da empreendedora, Müller de Souza Marques, de 22 anos, que administra o restaurante Sabor de Milho junto com a mãe.

Doze anos depois, o cardápio foi ampliado, a estrutura e o quadro de funcionários. Segundo o filho de Cleonice, o crescimento foi muito rápido e acompanhou sua adolescência.

“Ela começou vendendo milho assado. Eu era bem pequeno. Depois do milho assado, ela decidiu colocar o milho cozido também. Ela começou sozinha, depois a família toda foi ajudar. As coisas foram crescendo e ela não conseguia tomar conta só. A gente tinha um fogareiro e uma mesinha e depois de um ano já tínhamos uma barraca. As coisas sempre aconteceram muito rápido.”, lembra.

Müller conta que as dificuldades acompanharam a trajetória da família. Mudança de ponto e de local de fabricação, separação dos pais e até o tempo influenciava nos negócios.

“Lá no ponto tinha um guarda-chuva que toda vez que batia um vento voava e a gente saía correndo para buscar. Muita gente nos ajudou, passamos para a outra calçada, depois de uns quatro anos alugamos um ponto. Fazíamos as comidas em casa, mas precisava de espaço e chegamos a mudar umas quatro vezes de casa, cada vez que o ponto mudava de lugar a gente passava para outra casa ”, diz.

E não foi só o milho que garantiu o crescimento do comércio. Outros quitutes entraram no cardápio, como a pamonha, canjica, mungunzá, bolos, sopas e café regional. As receitas são originais, criação da mãe, garante Müller.

“Certo dia ela decidiu que ia colocar pamonha e começou a testar. Tentou três vezes para poder dá certo. A receita é dela. É o que a gente costuma dizer, os produtos que têm aqui, não têm em nenhum outro lugar, foi tudo ela que inventou. Eu não sei como ela cria as receitas. Até hoje me pergunto. Mas ela vai testando até dar o sabor que tem hoje. É muito improvável que alguém encontre uma pamonha igual a daqui ou uma canjica. Até o milho cozido é diferente”, explica.

Segundo o rapaz a clientela aprova e acompanha os produtos mesmo com as constantes mudanças de endereço. Apesar de faturarem no ano inteiro, é nas festas juninas que eles garantem renda para os investimentos.

“Os produtos são exclusivos. A gente conseguiu crescer por conta da qualidade de nossos produtos. Já mudamos várias vezes de lugar, mas os clientes nos acompanham. Tem gente que começou conosco lá na barraca e até hoje vem. Cada período junino faturamos o equivalente aos 11 meses trabalhados. É nesse momento que aproveitamos para crescer.”

A cada ano um produto novo entra na lista. Para as festas juninas deste ano as novidades são Pudim de Milho, Cupcake de Milho, Suco de Milho e Pamonha frita com carne de sol.

Apesar da inovação, os pratos tradicionais são os preferidos. O produto campeão de vendas é a pamonha, que custa R$ 5,00 e segundo Müller tem ingredientes especiais. Outro produto famoso é o mungunzá, cada copo sai a R$ 3,00 e leva canjica na preparação.

“As pessoas às vezes se espantam com o valor, acham caro. Mas quando provam, mudam. O preço equivale à qualidade. Nosso segredo é inovar, trazer produtos exclusivos, que os clientes só comem aqui. Trabalhamos com cinco funcionários e três entregadores, atendendo cerca de cem pedidos diários”, afirma.

Com renda de comércio, casal educa quatro filhos

Com 30 anos de tradição na Avenida Rotary, no Farol, não há na região quem não conheça o senhor Jailton de Oliveira e suas comidas típicas. Com a renda do comércio, ele e a mulher criaram quatro filhos, que hoje ajudam na produção e venda.

Durante o ano inteiro, de segunda a sábado a partir das 17h Jailton e a filha, Marília de Oliveira, desempilham as caixas e atendem a clientela na movimentada esquina. A fila é impressionante e só para depois que o último milho é vendido, garante Marília.

A rotina deles é intensa. Atender, passar troco e conferir encomendas. Servir, embalar e distribuir os pedidos. A jovem conta que a família toda é engajada no comércio. Ela e o pai fazem as vendas, mas em casa o trabalho é dividido entre todos e comandado pela mãe, que produz os quitutes.

“É assim o ano todo. A demanda é muito grande e é assim o ano todo. A gente atende encomenda, festas, mas tem pedido que a gente não pega porque não dá conta. Fazemos todos os dias. Montamos às 17h e, quando é 19h30, vamos embora porque não sobra nada. Ficamos com as panelas vazias e o povo pedindo mais”, afirma Marília.

Diariamente eles vendem mais de duzentas pamonhas a R$ 6,00 cada. O milho cozido sai a R$ 2,50, canjica R$ 4,00 e o recipiente com um litro de mungunzá custa R$ 7,00. “É esse trabalho que sustenta a família. Somos quatro filhos e todos dependem desse sustento. Agora no São João aumentamos a produção e a correria tem sido grande”, diz.

O cliente Alexandre Teixeira, costuma comprar os produtos no caminho de volta para casa. Ele diz que sempre leva pamonha, canjica e mungunzá, mas que nesta véspera de São João vai aumentar a lista.

“Eu compro sempre. Com certeza é o melhor que já comi. Tem um concorrente no Centro de Maceió, que eu não vou dizer o nome, que já comi, mas o mais gostoso é aqui, é muito melhor. Hoje além da pamonha, mungunzá e canjica, vou levar um pouco de cada para a família toda”.

Leda Maria e a filha, Laís Mariane, compram pela primeira vez. Leda conta que ouvia falar bem das comidas típicas de Jailton e resolveu experimentar.

“Eu moro próximo daqui e ele sempre passa, estava na porta de casa esperando ele passar para atacar, aí a vizinha disse: Ele já está lá e está uma fila enorme, aí eu vim para conferir. Sabia que era bom, mas não sabia que a fila era tão grande, vou provar hoje, porque já me disseram que é muito bom, perguntei até a umas pessoas na fila e recomendaram”, diz.

Jailton acredita que o sucesso de seus produtos é a qualidade. Manter o ponto durante os trintas anos é um desafio, mas para ele incentiva a clientela.

“O segredo do produto é a qualidade. É o melhor de Maceió. O pessoal vem no São João e fora do São João”, diz o vendedor.