Cidades

Sites de namoro vencem o preconceito, aponta pesquisa

Estudo nacional elaborada com solteiros aponta que 83% dos entrevistados não têm vergonha de admitir que usam app de gênero

Por Tribuna Independente 24/06/2017 09h10
Sites de namoro vencem o preconceito, aponta pesquisa
Reprodução - Foto: Assessoria

Cada vez mais as pessoas estão perdendo o preconceito e usando a internet como aliada na hora de buscar o par ideal. É o que aponta uma pesquisa denominada “Estudo dos Solteiros 2017”, do Match Group LatAm, com quase 5 mil solteiros online no Brasil. De acordo com o estudo, 83% dos entrevistados garantem que não têm problema em contar aos seus amigos sobre ter conhecido seu parceiro por um site ou app de gênero e 57% dizem que conhecem alguém que já se casou com uma pessoa por meio da internet.

A pesquisa aponta ainda que 70% dos solteiros dão prioridade a pessoas que tenham os mesmos valores. Em seguida vem bom papo e inteligência. Ambos receberam 51% de votos dos entrevistados. E desmistificando a ideia de que a beleza é prioridade, apenas 20% das intenções correspondem à aparência na hora da escolha.

Em Alagoas, enxergar a internet como uma aliada na busca por um amor tem ganhado cada vez mais adeptos. A reportagem do jornal Tribuna Independente ouviu algumas pessoas que usam ou já usaram sites de relacionamento.

O jornalista Rodrigo Rosas, solteiro, de 27 anos, sempre se comunicou por meio de redes sociais e aplicativos de relacionamento, além dos mais convencionais como Instagram, Facebook e Linkedin. Ele também já fez o cadastro no Badoo e Tinder. Para o jovem, o meio digital possibilita conexões com diversos níveis de interesse. “Independente de amizades, relacionamento ou negócios, as redes sociais te dão muitas opções, desde conversas informais até as formais”, disse Rodrigo.

Rodrigo conta que já teve dois relacionamentos sérios por meio de aplicativos de relacionamento. Sobre o critério aparência na escolha, sua opinião vai na contramão do resultado da pesquisa. Para ele, a aparência é o ponto inicial que deve ser observado. “Mas o caráter e valores são fatores imprescindíveis, coisa que a gente só conhece depois de um tempo”, avalia Rodrigo.

O jornalista confessa que já passou por uma situação indelicada. Ele conheceu uma garota pela internet e, ao ter o encontro real foi surpreendido. “Ela era diferente fisicamente das imagens que apresentava nas redes sociais. Depois ela me confessou que alterava a própria imagem [com photoshop]”, concluiu o jovem. Ele não aprovou a atitude. “Eu nunca precisei alterar ou inventar nada a meu respeito.”

Histórias evoluem e chegam ao altar

Algumas histórias inciadas no meio digital evoluíram para o casamento. Esse foi o caso da brasileira Denise, administradora de empresas, e o mexicano Enoc, da Cidade do México, que é analista de sistemas. Eles se conheceram em 2014 pelo “Amor em Cristo”, um aplicativo de relacionamento, e no início de 2017 se casaram. Na época, a carioca Denise morava em Maceió.

“Me cadastrei após sofrer uma desilusão amorosa em 2011, porém, não era visitante assídua. Os tempos passaram e, em 2014, resolvi acessar o site depois que minha irmã também conheceu o atual esposo por meio da mesma rede social. Crente que poderia ter a mesma sorte que ela, no primeiro acesso, conheci meu esposo Enoque, que estava online. A partir dali iniciamos longas conversas diárias por cerca de um mês. Fiquei com receio. Conversei com meus pais. Mas sempre com um pé atrás”, informou Denise.

Questionada sobre o que ela deu prioridade na hora de escolher o parceiro, Denise afirmou que características em comum, como visão de futuro e interesses foi o que chamou sua atenção. Após um ano e meio de conversa, Enoc veio a Maceió conhecer a atual esposa. E Denise garante que ele não a decepcionou.

“Quando ele chegou foram 15 dias nos vendo diariamente e, após esses encontros, decidimos marcar a data do casamento. Ele era tudo que dizia nas conversas. Nos casamos em março e hoje meu único desafio é aperfeiçoar meu espanhol,” concluiu a moça.

A mesma sorte teve o casal da alagoana Beatriz, técnica em enfermagem, e Jathniel, supervisor de vendas. Eles iniciaram uma conversa pelo Badoo, outro aplicativo de relacionamento, e com uma semana começaram a namorar. “Assim que instalei o aplicativo, ele foi a primeira pessoa que puxou conversa comigo no bate papo. Fiquei atenta a tudo que ele falava. Pelas conversas deu pra perceber que era um rapaz tranquilo e principalmente cristão, característica importante na minha escolha. Falei para meus pais e resolvemos nos conhecer após uma semana. Escolhemos o shopping por ser um local público e aberto. Minha irmã deu um print do perfil dele na rede social e ficava me monitorando o tempo todo. Meu pai me levou ao encontro e, desde esse dia, nunca mais nos desgrudamos”, afirmou Beatriz.

O casal não quis perder tempo. Beatriz e Jathniel estão juntos há menos de cinco meses e já marcaram a data do casório: “Vamos casar agora em dezembro e estamos muito felizes, não tem motivo para esperar, vivemos ligados um no outro e queremos aproveitar esse momento mais juntos. Hoje acredito em relacionamento virtual que se torna real”, concluiu a noiva.

Relacionamentos “relâmpagos” são cada vez mais comuns nos dias de hoje e quando não dão certo, podem evoluir para problemas emocionais. Salve algumas exceções, para o psicólogo Roberto, é sempre bom ficar atento para não haver frustrações futuras em namoros instantâneos.

“É preciso adotar cuidados”, alerta psicólogo

A primeira impressão é muito importante. A imagem da outra pessoa, física ou de personalidade, logo é formada. Quando as pessoas se conhecem melhor e essa imagem não se sustenta, logo vem a decepção. Na internet não é diferente.

O psicólogo clínico e terapeuta sexual Roberto Lopes Sales enxerga os sites de relacionamento como um prato cheio para mentiras – inocentes ou não. Ele não condena o meio de interação, mas alerta aos usuários que fiquem bem atentos para não caírem em uma cilada.

“Os sites de relacionamento são uma oferta. Como toda oferta, analisa-se o produto. Em analogia comercial, só se conhece um determinado produto com o tempo. Quando se trata de relacionamento, requer cuidados. Não é um mercado. Trata-se de envolvimento relacional, emocional e psíquico. Os sites e redes de encontro servem como meio para socialização e início para os encontros, porém, do mesmo jeito que é uma facilitação para a comunicação, torna-se um meio de vulnerabilidade para a criminalidade: estupros, extorsões, violência, etc. Quando marcar um encontro, o ideal é checar a veracidade das informações, encontrar-se em locais públicos e ter o cuidado com as exposições do corpo”, destaca Sales.

O psicólogo defende que o recurso da tecnologia deve ser utilizado com o cuidado necessário para a facilitação dos relacionamentos, mas não deve transpor a necessidade do convívio saudável in loco. Ou seja, nada melhor que um bom diálogo presencial, fazendo do virtual apenas um caminho para o processo. Mas e quando a timidez fala mais alto? Este ainda é o caso do jornalista Rodrigo, que confessa ser este um dos fatores que o motiva a se cadastrar em redes sociais. “Sou um pouco tímido e reservado, não sou de sair muito. Acredito que os chats de bate papo e redes sociais são um canal válido, é só saber usá-los”, concluiu.

Algumas pessoas utilizam o meio digital para a minimização de fatores como constrangimento inicial e possibilidade de uma negativa. “Estando atrás de uma tela de monitor, tais fatores tornam-se para alguns, menos intensos”, explica o psicólogo Roberto Sales.