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Prejuízos da seca prolongada ainda são observados em Alagoas

Período intenso de chuva não surte efeito imediato nas lavouras e opção para festejos é de milho irrigado, aponta Seagri

Por Tribuna Independente 09/06/2017 08h52
Prejuízos da seca prolongada ainda são observados em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Os efeitos da estiagem prolongada ainda são sentidos na agricultura no estado. Mesmo após o volume intenso de chuvas nas últimas semanas de maio, os plantios não foram beneficiados de imediato. No entanto, a expectativa é que, com as reservas abastecidas e o solo favorável, agricultores consigam melhores resultados nos próximos meses.

Hibernon Cavalcante, superintendente de Desenvolvimento Agrário da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura (Seagri) explica que até o momento apenas um município, Igreja Nova, reportou perdas nos cultivos de arroz.

 “O único relato até agora foi de Igreja Nova, em áreas irrigadas, que deveriam ter sistema de irrigação eficiente, mas tiveram problemas. Até agora ninguém, tanto do Sertão como da região mais próxima da capital, reclamou, a não ser a região do Baixo São Francisco, especificamente o projeto Boacica, programa de irrigação feito com recursos da Codevasf. Eles têm dificuldade de drenagem, tanto é que eles evitam plantio nessa época de inverso. Como estávamos com seis anos muitos secos, justamente esse ano eles arriscaram e perderam a lavoura”, afirma Cavalcante.

Ainda segundo o superintendente, a chuva trouxe “mais benefícios do que malefícios” para a agropecuária do estado que vinha sofrendo há seis anos com a falta de chuvas e improdutividade.

“Há seis anos, vinha sendo retirada mais água do que reposta. Esse ano haverá uma recomposição pelo menos parcial dos aquíferos e muito provavelmente nos rios. Acreditamos que para a agropecuária, as chuvas trouxeram mais benefícios do que malefícios. Até agora os únicos prejuízos foram para alguns agricultores que arriscaram plantar arroz e na questão das estradas em comunidades agrícolas”, aponta.

Estiagem prejudica bastante o plantio

Segundo Rilda Alves, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e secretária de políticas agrícolas da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Alagoas (Fetag), a seca prejudicou os plantios de forma severa. A partir de agora é que serão sentidos os efeitos das chuvas.

“Vínhamos atravessando uma seca muito grande. Então, as chuvas que caíram não prejudicaram totalmente o interior. Principalmente no semiárido, pegando os municípios do Agreste, Sertão, Bacia Leiteira, as chuvas foram realmente muito boas para o os agricultores plantarem e para as barragens que já estavam muito secas. As pessoas estavam no sufoco mesmo. Hoje a gente anda no Sertão e não vê uma barragem vazia. Estão todas cheias. Houve alguns prejuízos, mas voltado para a parte urbana das cidades. De prejuízo para os agricultores apenas em um ou dois municípios”, esclarece a sindicalista.

Rilda Alves diz que as perspectivas para os próximos meses são positivas para a agricultura no estado.  “Esse ano nós vamos ter uma situação melhor porque as chuvas chegaram mais cedo do que no ano passado, onde o inverno durou cerca de dois meses. Ano passado praticamente não tivemos chuva. Em muitos lugares as pessoas não conseguiram que as lavouras ao menos crescessem”.

Hibernon Cavalcante afirma que o período chuvoso chegou de forma tardia para as lavouras antigas. Mas que será positiva para as sementes já plantadas e as próximas lavouras.

“O ideal é que essa chuva que caiu em 15 dias, tivesse sido distribuída ao longo de 30 ou mais dias, isso seria ideal. Essas chuvas, que variaram entre 400 e 600mm que elas tivessem caído de forma contínua porque aí não teria erosão, os rios começariam a encher paulatinamente, recompondo sua vazão sem levar lama, sem trazer prejuízos para o solo, para a lagoa, para o mar, por exemplo. Mas como tudo não é perfeito, para a agricultura foi melhor dessa forma do que do jeito que estava, com seis anos de chuvas abaixo do normal”, ressalta.

Produto típico tem procura na capital

Ainda segundo Rilda Alves, os festejos juninos não serão prejudicados com a falta de milho. Apesar de terem sido colheitas irrigadas, a produção será satisfatória, aponta.

“Este ano teremos mais milho do que no ano passado. Não é a quantidade que a gente esperava, se a chuva tivesse caído mais cedo, mas teremos”, afirma.

Na primeira semana do mês, os pontos de venda já registram procura do milho, produto indispensável para as comidas típicas das festas juninas. Um dos locais de venda, a 26ª edição da Feira Camponesa.

Segundo o feirante Gilvan Gomes, a procura tem sido boa. O vendedor conta que ano passado o milho custava mais barato a mão e que apesar de algumas reclamações sobre os preços, as vendas têm sido satisfatórias.

“Algumas pessoas reclamam, mas esse milho é irrigado e irrigação custa caro. Esse milho vem lá de Coruripe e já me passam a um preço um pouco mais alto”, explica o vendedor.

Para Maria das Graças, o preço não está muito satisfatório. A dona de casa compra milho todos os anos para fazer comidas típicas e vender sob encomenda.

“Para mim o preço está salgado. Eu faço pamonha, canjica para vender na minha casa lá no Jacintinho, mas como preciso fazer, eu compro, mesmo estando caro”, diz.

O casal Albertina e Antônio Rocha comercializa milho e abacaxi na Feira Camponesa. Eles reclamam da falta de chuvas durante o crescimento da lavoura. Segundo Albertina, o preço subiu pela escassez de água.

“O milho está saindo a R$ 40,00. Faltou chuva. Para o abacaxi também. Eles vêm lá de Pindorama, são irrigados e se falta água fica ruim né? Aí para o preço também não fica bom”, diz Albertina.

A 26ª edição da Feira Camponesa começou na quarta-feira (7) e vai até amanhã (10), na Praça da Faculdade, no bairro do Prado, em Maceió. A feira é realizada pela Comissão Pastoral da Terra e reúne cerca de 90 produtores e comerciantes agrícolas.