Cidades

Quase 1.900 estudantes ficam sem aula por risco de choque elétrico

Três mortes de adolescentes foram registradas no país envolvendo acidentes com eletricidade

Por Ana Paula Omena 12/05/2017 16h32
Quase 1.900 estudantes ficam sem aula por risco de choque elétrico
Reprodução - Foto: Assessoria

Com a proximidade da chegada do inverno cresce a preocupação com infiltrações que ocasionam choques elétricos que podem levar à morte. No ambiente escolar não é diferente, e o risco iminente acende o alerta de estudantes, professores e funcionários de unidades de ensino. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), apenas no ano de 2016 foram registrados 599 acidentes de origem elétrica pelo país, destes, 37 aconteceram em escolas, sendo oito choques elétricos e 28 incêndios por curto circuito. Esses acidentes levaram à morte três adolescentes entre 11 e 15 anos.

Na Escola Estadual Dom Otávio Aguiar, localizada na parte alta de Maceió, na capital alagoana, não foi à primeira vez que as aulas tiveram que ser suspensas por risco de choque elétrico. Desta vez nem precisou chover muito para que as salas e corredores ficassem encharcados e paredes energizadas pela infiltração.

Salas de aula também foram alvo de infiltração e alunos tiveram que ser dispensados

A reclamação partiu dos próprios alunos, sobretudo aqueles que sentam em cadeiras próximas das paredes do estabelecimento de ensino, e sentiram que elas estavam passando corrente. A unidade que tem quase 1.900 estudantes, e aproximadamente 50 servidores, entre professores e funcionários, teve que ser fechada na esperança de uma manutenção adequada nas instalações elétricas para o possível retorno das aulas.  

A professora Rosa Bernardes revelou que desde 2003, a escola não recebia verba em decorrência do mau uso na prestação de contas, e os recursos tiveram que ser bloqueados. Segundo ela, somente no final de 2015, a verba foi desbloqueada e os serviços de infraestrutura começaram a ser refeitos. Porém, a manutenção precisaria acontecer anualmente, o que não tem ocorrido.   

“Alunos vieram nos reclamar que as paredes estavam passando corrente, e assim fica impossível de assistir aula. Basta iniciar uma chuvinha para a pintura começar a descascar e água infiltrar”, ressaltou. “Desde o ano passado que foi enviada uma verba para os reparos antes do inverno, inclusive para fazer o retelhamento, só que até agora nada. As infiltrações afetam as instalações elétricas, bem como as ferragens que vão enferrujando e ficando ainda mais frágeis e vulneráveis”, frisou.

Ainda de acordo com a professora, os principais prejudicados são os alunos com a suspensão das aulas, no entanto não são os únicos que correm riscos de choque elétrico devido às infiltrações na unidade escolar. “O forro de alumínio que é colocado para proteger a laje também foi retirado pelos vândalos para possivelmente ser vendido, o que acaba facilitando a entrada da água da chuva, por isso a importância de se ter uma manutenção adequada, principalmente com a chegada da quadra chuvosa no próximo mês”, avisou.

Rosa Bernardes frisou também que há alguns anos as aulas tiveram que ser suspensas por cerca de um mês, porque um aluno sofreu um choque elétrico devido às infiltrações da água da chuva nas paredes. “Foram feitos os reparos, mas não resolveu, porque está acontecendo de novo. Volto a dizer, não tem manutenção e agora já tem verba”, alertou.

“São 16 salas de aula nesta escola, mas algumas ainda não tiveram infiltrações, agora os interruptores passam correntes e os espelhos foram retirados ficando os fios expostos, um risco ainda maior para a comunidade escolar”, enfatizou.

PROBLEMA NÃO É ISOLADO

A presidente do Sinteal (Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas), Consuelo Correia, mencionou que o problema não seja isolado, e que as mais de 250 escolas da rede pública de ensino na capital devem também apresentar situações semelhantes, entretanto não soube mensurar os problemas de infraestrutura de cada uma delas, porque precisa receber a demanda.

“A olho nu se percebe que há escolas que deixam a desejar, a gente sabe que são muitas que têm problemas na estrutura. Sabemos que os alagamentos e infiltrações existem, o que acaba colocando a vida de todos em risco, quando suspende as aulas sabemos também que causa prejuízos, mas precisamos ser provocados, isto é, que a denúncia chegue até nós para cobrarmos da Secretaria Estadual ou Municipal de Educação”, recomendou.   

Refeitório com maior risco de choque elétrico

A Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) indica que um dos locais em que a eletricidade é ainda mais importante são os refeitórios, onde são preparadas toneladas de alimentos para a merenda escolar.

Um levantamento apontou que a cozinha é uma área de grande risco, principalmente quando se ligam na mesma tomada, diversos equipamentos elétricos como batedeiras, liquidificadores e tudo em tamanho família. “Por ser uma área em que água e eletricidade convivem muito perto, existe maior probabilidade dos choques elétricos acontecerem”.

Nas escolas, os equipamentos de cozinhas industriais demandam bastante energia e, além do risco de choque elétrico, facilmente podem aquecer os fios das tomadas que os alimenta, causando um curto circuito e possível incêndio.

Os dados de 2016 recentemente divulgados pela Abracopel dão conta de que 35 pessoas perderam a vida manuseando eletrodomésticos como geladeiras, micro-ondas e máquinas de lavar.

O uso de extensões, benjamins ou T’s são muito comuns, tanto em nossas casas, como nas escolas. E é preciso lembrar que o uso de benjamins e T’s requer muito cuidado, senão os fios aquecem, a camada protetora derrete e eles podem pegar fogo. Números da Abracopel para acidentes envolvendo benjamins dão conta de que, T’s e extensões em 2016 totalizaram 33 acidentes que levaram 30 pessoas à morte.

Outro local em que é preciso ficar atento dentro das escolas são as quadras esportivas. Dois exemplos mostram o perigo de fios desencapados em locais de grande afluência de pessoas: em Cruz Alta-RS, o aluno de uma escola pública levou um choque na quadra durante a aula de educação física. Por sorte, ele sobreviveu. Já outro aluno de Itanhém, na Bahia, não teve a mesma sorte. Ele estava igualmente na aula de educação física quando foi pegar uma bola que caiu em um local mais afastado do pátio da escola, pisou em um fio desencapado e morreu.

Outro perigo são os bebedouros, em 2016 não houveram ocorrências deste tipo de choque, mas em 2014 e 2015 alguns casos fatais chamaram a atenção.

Cano entupido

Seduc diz que problema foi resolvido

A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) por meio da assessoria de comunicação informou que os engenheiros estiveram na Escola Dom Otávio Aguiar, e o que ocorreu foi o entupimento de um cano, e que a água não teve para onde escorrer ocorrendo à infiltração, afirmando que o problema já teria sido sanado e as aulas voltado ao normal.

Disse ainda que a referida Escola obteve recursos do Programa Escola da Hora, e que a gestão da escola, que assumiu há um ano, fez alguns reparos, além da compra de alguns equipamentos e materiais com o aval do conselho escolar. Com relação a manutenção das escolas, questionada pela reportagem, o Escola da Hora foi criado para que os gestores possam realizar os pequenos reparos. Todas as escolas da rede estadual recebem o recurso que é calculado pelo número de alunos.

A Seduc frisou que nesta gestão, já reformou mais de 120 escolas. E continuará com as reformas. Ressaltou também, que muitas delas estavam em condições precárias, abandonadas, algumas até com risco de cair.