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Objetos sem utilidade ganham forma nas mãos de artesãos alagoanos

IBGE aponta que o Brasil gera 194 mil toneladas de lixo por dia, a maioria reciclável

Por Ana Paula Omena / Andrezza Tavares com Tribuna Hoje 03/05/2017 11h42
Objetos sem utilidade ganham forma nas mãos de artesãos alagoanos
Reprodução - Foto: Assessoria

Para a maioria da população lixo é descartável, mas não aos olhos de dois artesãos que nem se conhecem, possuem histórias de vidas diferentes, porém compartilham da mesma paixão, eles transformam, dando forma especial para aquilo que não teria mais nenhuma utilidade.

Um mora em Limoeiro de Anadia, interior de Alagoas, distante 118 quilômetros de Maceió. Não parece, mas há 2 km da entrada da cidade, percorrendo uma longa e íngreme estrada de barro, se encontra uma casa simples de alvenaria com efeito semelhante ao de taipa, que transborda um universo de ideias vindas do lixo encontrado nas ruas do município.

Autodidata, Jackson Lima, de 50 anos, iniciou sua vida artística ainda menino, com 8 anos de idade, pela necessidade de brincar e ‘limpar’ o meio ambiente. Ele contou que desde pequeno sempre foi apaixonado pela natureza, e flashes e sonhos retratando formas e movimentos que não sabia o significado, seria um sinal para que fluísse a arte em prol do meio ambiente.

Conhecido por suas esculturas que mais parecem obras em ferro, Jackson Lima trabalha com materiais recicláveis de todo o tipo, como plástico, ferro, vidro, madeira, papel. Sua obra retrata desde animais, plantas, objetos inanimados, até arte sacra e figuras humanas, as suas preferidas. “Gosto principalmente de fazer mulheres grávidas e figuras que retratem todo o sofrimento e dificuldades da nossa região”, conta o artista, que também é professor de educação infantil, na Prefeitura de Limoeiro de Anadia.

Ele se diz orgulhoso do que faz, e pode parecer uma gota no oceano, no entanto, se todos tiverem a mesma iniciativa e repassar para as gerações futuras o planeta vai agradecer. “Sempre fiquei muito triste, desde criança quando via lixo, aliás, a palavra lixo não existe no meu vocabulário, para mim é reuso”, afirmou em tom de encantamento. “A veia artística gritava dentro de mim, observava o descarte e ficava imaginando o que fazer, ver a natureza suja nunca combinou comigo”, disse.

“Até que já adulto, no meio da noite, levantei e fui até o galinheiro de casa, peguei alguns descartes de lixo, e o transformei na minha primeira peça de arte. Pronto! Depois do sonho se tornar realidade, nunca mais voltei a ter aqueles flashes, era um sinal para transformar lixo em arte e ser um guardião da natureza”, acredita.

De lá para cá, cerca de 25 anos, Jackson não parou mais e disseminou a ideia entre os moradores da cidade de Limoeiro. Hoje, ele conta que a população não somente do município, mas também da capital e região próxima, que conhece o seu trabalho, separa o lixo doméstico e leva até a sua casa. “A van que faz a linha para Maceió traz aqui em casa o material que iria para o lixo”, diz com satisfação.

Em muitos banhos no Rio Coruripe, o artesão revela que descobriu a argila ainda menino, e foi amor à primeira vista pelo barro. “Tinha uma inquietação quanto à consciência ecológica, a proteção do meio ambiente; não podia e nem posso deixá-lo morrer”, ressaltou o artesão que também faz esculturas em argila.

“Olho para o lixo como uma escultura quando penso, a forma já começa a existir. Me inspiro no que vivo e nas pessoas do cotidiano, sobretudo as da minha região. Tenho inspirações 24 horas por dia, muitas vezes acordo de madrugada para anotar a ideia, e pôr em prática no dia seguinte. É um universo fascinante, e que de certa forma, estou ajudando a salvar o mundo”, frisou.

ESTAVA ESCRITO

Para o artesão, também considerado atualmente um artista plástico, a consciência ecológica tem um objetivo a ser conquistado no dia a dia pelo cidadão, pela sociedade e pelos governos, e exige a criação de novos valores e conhecimentos para transformar a realidade a partir da racionalidade dos bens ambientais, e da prática do desenvolvimento sustentável.

Jackson diz que é complicado sobreviver de arte, e por isso complementa a renda da família lecionando, mas reforça que essa é a sua missão na terra, e que não quer morrer sem deixar o seu legado. Esse dom deseja repassar para outras pessoas, principalmente para as crianças do seu Estado.

Com muito carinho e entusiasmo, ele disse que, focado nessa conscientização ambiental para o bem estar da natureza, turmas de crianças serão formadas, e em breve seu atelier também se transformará em sala de aula. Para o artesão nunca se pode deixar de acreditar num mundo sustentável e mais feliz.

Ele acredita que o lixo nunca deixará de existir, mas pensa na redução com a conscientização. “Espero passar o recado fazendo a minha parte, devolvendo para a natureza tudo aquilo que ela nos deu através da arte”. “Tento passar essa mensagem a todos, crianças e adultos, porque acredito, e sei que o trabalho de educação e conscientização começa cedo, em casa. Penso num mundo saudável se fizermos a nossa parte, não se pode parar”, salientou.

“Meus filhos de 22 e 21 anos me auxiliam quando estou atarefado com as encomendas, mas eles trabalham e não estão aqui sempre; a minha felicidade é morrer e meu trabalho de conservação da natureza ser efetivado. As pessoas devem adotar novos comportamentos quanto à preservação do meio ambiente, do contrário, nós e as gerações futuras iremos sofrer severamente”, declarou.

Seu José do Carmo Santos, 66 anos, elogia o artesão pela iniciativa e reforça que sem o pensamento de preservar a natureza, a cidade estaria suja. “Tem a coleta, mas a ação do Jackson é linda e deve ser repassada; ele é um ‘menino’ muito bom e merece ter um destaque ainda maior pelo trabalho desenvolvido a partir do lixo”, salientou.

Para dona Maria do Carmo a consciência ecológica é fundamental para termos um mundo melhor e verde. “O Jackson já ensinou muito e ensina a todos da cidade sobre reciclagem. Fico impressionada com a inteligência dele, ele transforma qualquer coisa sem utilidade, que simplesmente ao nosso olhar não serviria de nada e traz uma forma diferente, que serve como peça de decoração”, considerou.

E por falar em encomendas, Jackson tem obras até no exterior, como Alemanha, Irlanda e Portugal. Ele já expôs sua arte em Londres e Inglaterra, em breve sua próxima viagem será a Paris, onde três peças dele foram selecionadas: o pequeno príncipe, a camponesa e o homem do campo.

São mais de oito mil peças produzidas, muitas delas espalhadas também pelo Brasil afora, no Rio de Janeiro, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, e é claro Maceió. Jackson é chamado para diversas exposições, e diz que toda arte é única, e que as obras são resistentes ao tempo.

Sinal divino: Do sonho à mudança

(Fotos: Andrezza Tavares)

 

Enquanto isso no Mercado do Artesanato, no bairro da Levada, em Maceió, o famoso artesão Arlindo Monteiro, usa palitos de fósforos para esculpir verdadeiras obras de arte em miniatura. Além da beleza e do encantamento que as esculturas causam nas pessoas que as apreciam, elas têm todo um contexto ambiental, uma vez que os palitos de fósforos são feitos de madeira de reflorestamento.

Apaixonado pela natureza, Arlindo assim como Jackson, sentiu que podia fazer algo para ajudar o planeta. E não contou história, depois de um sonho, decidiu usar palitos de fósforos de reflorestamento para esculpir miniaturas, a partir dai, sua vida de artesão mudou pra melhor.

Hoje, pelo conhecimento na cidade, Arlindo recebe de restaurantes palitos queimados, que ganham formas e fazem os ricos detalhes das mais variadas esculturas que produz. Um palito de fósforo leva dois anos para se decompor na natureza, é o que revela o site Delta Saneamento.

E pensa que parou por aqui? Nada disso. Arlindo também usa lâmpadas fluorescentes para proteger as mini esculturas. Isso mesmo, aquelas lâmpadas carregadas de mercúrio que são altamente prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana são reaproveitadas como tubos para proteção da arte. Segundo o blog Trabalhando com Saúde e Segurança, quando lançado na natureza, o vidro dessas lâmpadas fluorescentes levam 10 mil anos para se decompor.

Cúpulas feitas de lâmpadas fluorescentes

“Essas lâmpadas, são lâmpadas fluorescentes que iam para o lixo. Tem um artesão que recicla para mim e faz os tubos. Como eu vivo do trabalho de artesanato, para o pessoal viajar só com o palito não ia ficar legal porque poderia quebrar, já com essa cúpula, ela cobre e protege a peça durante o seu transporte”, contou o artesão.

Antes de iniciar os trabalhos com palitos de fósforos, Arlindo Monteiro, que tem 55 anos de idade e é natural de Bezerros-PE, fazia esculturas em troncos de coqueiros, jaqueiras e imburanas. “O pessoal cortava o pé de coco, as árvores e jogavam pra lá, e eu aproveitava para fazer imagens de santo, animais... Eu faço o que você quiser na madeira, no barro, na pedra e atualmente, estou me dedicando as miniaturas feitas com palitos de fósforos. Nunca fiz nenhuma escultura que eu tenha cortado uma árvore pra fazer”, frisou com orgulho, demonstrando sua preocupação com a natureza.

INSPIRAÇÃO

Há 45 anos, o artesão trabalha com madeira, mas há 30, um sonho, mudou o rumo da sua vida. Num dia difícil, Arlindo contou que estava trabalhando no Mercado do Artesanato quando chegou um rapaz dizendo que tinham cortado 10 pés de coco na praia e perguntou se ele não queria ir buscar, já que nessa época, fazia esculturas em troncos de coqueiros.

“Eu disse que estava com muitas peças, mas como era matéria-prima decidi pegar o machado, fui lá e cortei 10 rolos de coqueiro, cada um com quatro metros e uns 300 quilos, e os trouxe embolando no pé. As pessoas diziam: ‘esse cara é maluco!’. Cheguei em casa com as mãos em sangue. Ai, aquelas horas que você está sozinho e reflete: Meu Deus, por que a gente que trabalha tanto passa tanta dificuldade? Ai fui dormir e vi um cristo entalhado no palito de fósforo. Eu tinha um pacote com 10 caixas de fósforos pequenas, 400 palitos no total. Gastei os 400 para fazer um Cristo Crucificado”, contou Arlindo que não tinha material, apenas uma faquinha usada para fazer chaveiro com o nome das pessoas.

O artesão levou a peça com cuidado para o Mercado do Artesanato, quando percebeu um turista olhando suas peças pela brecha da porta. “O cara disse rapaz o seu trabalho é muito interessante, eu disse: interessante é esse aqui. Mostrei a peça na palma da minha mão e contei a história do sonho, o cara encheu os olhos de lágrimas e eu também”, relatou.

A história é mesmo incrível! Arlindo não queria vender a peça, mas diante das dificuldades, da necessidade de pagar as suas contas e da proposta de R$ 50, o artesão vendeu a peça para o turista. “Tudo foi coisa de Deus! Para se ter uma ideia, hoje um Cristo Crucificado com vidro, base e tudo custa a metade (R$ 25). Acho que dificuldade todo mundo passa, mas a partir desse dia nunca mais passei”, desabafou.

Arlindo Monteiro garante que faz qualquer escultura no palito de fósforo, inclusive a própria imagem do cliente em miniatura, caso ele deseje. E foram tantos os pedidos que o artesão não soube precisar quantos, mas destacou alguns famosos que tiveram suas imagens transformadas em miniaturas como os ex-técnicos da Seleção Brasileira Zagalo e Felipão, a ex-globeleza Valéria Valença e a atriz global Paloma Bernard.

Flores, árvores, borboletas, beija-flores, tucanos, imagens de santos, Cristo, palhaços, pescadores, personagens do folclore alagoano, trio forrozeiro, anjos, jogadores de futebol, aviões, e cenas da história do Brasil estão entre as obras retratadas pelo artesão. Arlindo faz uma média de oito a dez esculturas por dia para não perder a qualidade do seu trabalho, mas tem peças que são necessários até 15 dias para serem concluídas como é o caso da Primeira Missa no Brasil, obra que pode ser vista dos quatro lados, cada um com uma vista diferente.

 1ª Missa no Brasil

O carro-chefe do trabalho do Arlindo Monteiro são as imagens religiosas, entre as mais vendidas estão as esculturas de Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio e São Francisco. Mas outros santos também são transformados em miniaturas, como é o caso de São Jorge, uma de suas obras preferidas.

SÃO JORGE (Foto: Arlindo Monteiro)

É cada obra de arte mais bonita que a outra, e elas são facilmente encontradas no Mercado do Artesanato, na Capital Alagoana, na Feirinha da Pajuçara e no aeroporto Zumbi dos Palmares. Outros aeroportos espalhados pelo Brasil como Recife, Rio de Janeiro e São Paulo também comercializam as obras do artesão.

A riqueza de detalhe impressiona nativos e turistas amantes das artes. A magia das obras, principalmente, as que são feitas de materiais diferentes e, sobretudo, materiais reutilizáveis, é de encantar a primeira vista sem que o expectador identifique sua matéria-prima. A arte de Arlindo Monteiro é assim: fascina, prende a atenção, desperta curiosidade e mesmo tomando conhecimento de sua matéria-prima, é difícil acreditar que um simples palito de fósforo pode se transformar numa obra tão rica de detalhes.

Borboleta tirando néctar da flor

Atualmente, o artesão sobrevive exclusivamente das miniaturas feitas em palitos de fósforos. O pai de Arlindo também era artesão, fazia sapatos em sua cidade natal.

DE ALAGOAS PARA O MUNDO

Turistas de vários lugares do Brasil e do mundo conhecem as obras do famoso artesão que esculpe em palitos de fósforos. A arte de Arlindo Monteiro já o levou para exposições no Chile e na Argentina, onde expôs seu trabalho por nove anos consecutivos na cidade de Córdoba.

“No Brasil, já expus em quase todas as capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Recife, Natal, entre outras. Em dezembro passado, participei de uma exposição em São Paulo, no Anhambi, foi a Brasil Original que o Sebrae fez. Quando tem a Fenearte (maior feira de artesanato da América Latina) em Recife, a gente participa da licitação para mostrar o nosso trabalho e quando surge a oportunidade a gente vai representando o Estado de Alagoas”, ressaltou.

Suas peças são pequenas e ocupam pouco espaço, por isso facilita o transporte. “Com duas caixas eu levo 600 peças. Antes, gastava muito para transportar a esculturas de tronco de coqueiro”, contou.

IMPORTADOS

A maior dificuldade de Arlindo Monteiro é encontrar palitos de fósforos grandes, os mais comuns vendidos no Brasil são pequenos. Mas o artesão conta com a ajuda de alguns turistas que conhecem o seu trabalho e o ‘presenteia’ com fósforos dos seus países. Arlindo tem palitos do Japão, Inglaterra, Itália e de Itú, cidade do interior de São Paulo conhecida por ser a cidade das coisas exageradas.

 Miniaturas foram parar na abertura de novela

 Quem passa pela barraca de Arlindo Monteiro no Mercado do Artesanato, em Maceió, ouve o artesão dizer com orgulho: esse  trabalho fez a abertura daquela novela da Globo, Da Cor do Pecado. O artesão pernambucano radicado em Alagoas contou que  ficou sabendo que o designer gráfico Hans Donner estava na praia de Pajuçara para inaugurar o relógio em comemoração aos 500  anos do Brasil. O fato ocorreu em 1999.

Arlindo colocou algumas de suas peças numa sacola, pegou a bicicleta e foi ao encontro do designer, responsável pela abertura de várias novelas da Rede Globo. Chegando lá, emendou uma conversa e a partir dai foi uma sucessão de coincidências. O artesão contou o que trabalhava com palitos de fósforos e tirou do saco uma imagem de São Jorge, justamente o santo que Hans Donner é devoto. Arlindo também é o nome do “anjo da guarda” do designer, o responsável por levá-lo para a Rede Globo. No dia seguinte, a convite do artesão, Hans Donner foi ao Mercado do Artesanato ver de perto as suas obras.

Em 2004, cinco anos depois do primeiro encontro com o designer, Arlindo Monteiro estava no Rio de Janeiro e decidiu ligar para Hans Donner. O designer também estava à procura do artesão, pois planejava fazer uma abertura de novela com suas peças. Depois de esculpir na frente do autor João Emanuel Carneiro a sua miniatura, decidiu-se que a abertura da nova novela da Globo teria as suas obras esculpidas em palitos de fósforos.

“Fiquei 30 dias trabalhando com o Hans, ao todo fiz as miniaturas dos 29 personagens. Foi uma experiência muito boa. Meu trabalho ficou 24 meses na mídia, contando com as reprises da novela”, contou todo orgulhoso.

A História do Brasil contada em 21 mil peças

Expor suas obras e ajudar a quem mais precisa. Esse é o próximo passo que o artesão Arlindo Monteiro pretende dar: fazer a história do Brasil em palitos de fósforos.

“A ideia é fazer 21 mil esculturas de fósforos contando a história do Brasil, desde o descobrimento a padroeira de cada cidade brasileira. Quero fazer uma procissão, resgate da cultura popular, e fazer uma exposição pelo Brasil com entrada de 1kg de alimento não perecível para doar para outras pessoas, e assim fazer a minha parte. Acho que falta a gente fazer a parte da gente”, frisou o artesão.

Arlindo começou a trabalhar no projeto e já esculpiu o enterro do matuto e as sete beatas carpideiras e está montando outras peças.

Em todo o Brasil, cerca de dez artesãos trabalham com miniaturas em palitos de fósforos. Dois sobrinhos do Arlindo estão seguindo os passos do tio famoso e esculpem em palitos de fósforos, um mora em Portugal e o outro em São Paulo.

194 mil toneladas de lixo por dia

Para se ter uma ideia do impacto ambiental, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por meio dos informativos do Cempre (Compromisso Empresarial com a Reciclagem), indicam que só no Brasil são gerados 194 mil toneladas de lixo por dia. Entre os materiais mais descartados estão o plástico, papel, papelão e longa-vida, vidro, aço, alumínio e matéria orgânica.

(Foto: Sandro Lima)

O País perde por ano R$ 8 bilhões ao enterrar o lixo que poderia ser reciclado. O aterro sanitário da capital alagoana recebe em média 61 mil toneladas de lixo por mês, ganhando em disparado o lixo domiciliar representando quase 34 mil toneladas, seguido de resíduos da construção civil, e podas de árvores, além de animais mortos.

Mais de 25% do lixo domiciliar que chega ao aterro poderia ser reclicado. O índice diz respeito aos estudos gravimétricos publicados, em Maceió. Na busca pela preservação ambiental 30% dos resíduos de construção civil que chegam ao aterro são separados para reciclagem. Lá, após uma nova triagem, metade do material é reciclada e transformada em diversos tamanhos de brita que são utilizadas em obras da própria Prefeitura de Maceió. No caso dos resíduos de poda, 95% deles são reciclados e transformados numa espécie de adubo para utilização nos jardins e praças sob manutenção da gestão municipal.

Para Ricardo Vieira - presidente da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental em Alagoas) não basta conhecer, a força está na formação da consciência e responsabilidade ambiental. “Não basta dizer eu já sei disso, é preciso arregaçar as mangas e colocar em prática, assim como tantos Jacksons e Arlindos pelo mundo. É ter um tipo de conhecimento muito rico e verdadeiramente vital para a preservação dos recursos naturais, da biodiversidade e, por consequência, de todos nós”, completou.

O reaproveitamento de resíduos sólidos é sempre algo bem-vindo. “Lembro que nesta área são sempre presentes os cinco Rs (repensar, reduzir, recusar, reutilizar e reciclar) onde a reciclagem tem papel importante”, destaca.

“A utilização de resíduos descartados para composição ou participação em obras de arte dá novo significado ao material e impõe a todos, que a elas tem acesso, um repensar sobre suas práticas e modos de perceber o que está à nossa volta. Portanto, o papel dos artesãos, também nesta área, é muito importante”, frisou.

De acordo com Vieira, a “salvação do planeta” nos exigirá muito mais que uma nova percepção sobre os descartes, mas também passa por isso. Ela lembra que ao perceber novos significados apresentados pelas mãos e sensibilidade dos artesãos, a sociedade está instada a se envolver mais e mais na busca de soluções e na implementação de ações visando, efetivamente, a construção de um planeta melhor.

Não basta apenas conhecer, tem que refletir e agir. Ricardo Vieira observa que o essencial é que todos se juntem no esforço de realizar ações que são magistralmente reunidas nos princípios denominados de 5Rs. Segundo ele, o conhecimento é um passo inicial para a reflexão e esta, para a ação. “E é a ação de todos e de cada um que permitirá a existência de um novo futuro”, completou.