Cidades

Suspeita de invasão do coral-sol acende alerta de órgãos em Alagoas

Presença de intrusos trazidos por navio-sonda traz risco a biodiversidade e destruição de bancos recifais

30/04/2017 07h33
Suspeita de invasão do coral-sol acende alerta de órgãos em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Um predador nocivo e perigoso, assim é conhecido o coral-sol, que ameaça espécies marinhas na costa brasileira. Com uma beleza sem igual, o animal é uma das maravilhas do mundo submarino, porém a sua presença ameaça a biodiversidade, isso porque, onde quer que ele se instale é considerado uma verdadeira praga, que mata corais nativos, acaba com arrecifes e consequentemente com outros animais marinhos, como tartarugas e peixes.

O biólogo e membro do Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL), Juliano Maurício Fritscher, explica que o aparecimento da espécie é causado pelo trânsito de navios-sonda e plataformas de petróleo na costa brasileira, que servem de meio para fixação do coral-sol. A suspeita de um deles no litoral alagoano acendeu o sinal de alerta de pesquisadores e órgãos no Estado.

Preocupados com a possível bioinvasão no litoral de Alagoas, membros do IMA, Universidade Federal de Aagoas (Ufal) e Porto de Maceió montaram uma Força-Tarefa, em outubro de 2015, para monitorar a suposta ocupação do coral-sol.

Detecção do animal ao Norte, no Ceará, preocupou ambientalistas (Foto: Sandro Lima)

Juliano, no entanto, ‘tranquiliza’ acerca da dificuldade do coral-sol chegar a Alagoas por conta do Rio São Francisco que serve de obstáculo. “O medo seria se a espécie viesse alojada em algum casco de navio, como se suspeitou e ‘corremos’ para ver se o animal teria chegado ao litoral alagoano”.

O especialista lembrou que o IMA fez o monitoramento de um navio-sonda que atracou no Porto de Maceió para manutenção, em 2015, e foi feita uma vistoria com um mergulho por baixo do casco, e não foi encontrada a espécie marinha coral-sol.

Mergulhadores fazem o monitoramento do navio-sonda atracado no Porto de Maceió

Juliano disse que a preocupação dos órgãos ambientais diz respeito à informação da invasão do coral-sol no Estado do Ceará, do qual, não se tinham conhecimento da detecção do animal ao Norte. “A Força-Tarefa ainda não registrou coral-sol em Alagoas. Foi feito um convênio com operadoras de mergulho para verificar”. Ele explicou também que a chegada da espécie é desagradável, e que acaba modificando muito a biodiversidade, tendo muito mais vantagem de crescimento do que os corais nativos.

Invasão significa rebaixamento da costa e avanço da maré

“O coral-sol como é bastante agressivo diminui a vida de mariscos, pescados, que acaba prejudicando toda a linha de costa. Levando ao extremo do problema, tomando como base a cidade de Maceió, por exemplo, onde é definida por corais na orla da Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca, representaria o rebaixamento, e consequentemente o avanço da maré, podendo chegar aos prédios, e as calçadas virariam beira de praia”, ressaltou o biólogo Juliano Maurício Fritscher.

De acordo com o assessor jurídico do Porto de Maceió, Marcelo Madeiro, a administração solicita a inspeção de todas as embarcações e plataformas que venham a trafegar na área, e tenham qualquer relação com a exploração e/ou prospecção de petróleo.

Ele salientou ainda que o Porto de Maceió está atento às medidas preventivas como forma de impedir introduções do organismo invasor. Porém, reforça que não é comum a atracação de navios-sonda na capital, mas quando ocorre solicita a inspeção por meio de mergulhadores do IMA. 

AL é o primeiro a prevenir chegada do coral-sol

Órgãos atuam preventivamente, evitando a instalação do coral invasor ao ambiente marinho

Alagoas é o primeiro Estado a trabalhar com prevenção, isto é, não deixar que coral-sol chegue ao litoral. Segundo Juliano Mauricio Fritscher, este é o principal objetivo da Força-Tarefa. “A gente está empenhado na elaboração de um documento que exija uma vistoria antes dos navios-sondas saírem de outros estados para atracar aqui”.

“Temos corais do Maranhão até o Espírito Santo, mas a concentração maior está em Pernambuco e Alagoas, com a APA Costa dos Corais (Maceió até Tamandaré). Por isso há uma maior preocupação do coral-sol chegar, e ter um desequilíbrio grande nesta área”, colocou.

A APA Costa dos Corais é a maior unidade de conservação marinha do Brasil, com 413 mil hectares, compreendendo os municípios de Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande, em Pernmabuco; Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo de Camaragibe, Barra de Santo Antônio e Paripueira, em Alagoas.

O biólogo reforça sua preocupação acerca de crescimento fora do comum do Coral-Sol. Segundo Juliano Fritscher, a espécie tem todos os mecanismos necessários para se manter e prevalecer num ambiente de baixa competitividade. “A concorrência é desleal, enquanto ele cresce rapidamente tomando conta, os corais nativos evoluem cerca de um centímetro por ano”, revelou.

Coral-sol sendo retirado por ambientalistas na Ilha Grande, Rio de Janeiro.  

“Todo cuidado é pouco, se mexer nele, o coral libera células de reprodução, então o trabalho de retirada tem que ser específico, de isolamento antes de retirá-lo, tem que ter um manejo na quebra. Quem mexe tem que saber que ele faz mal a natureza, e retirar de qualquer jeito é bem pior”, deixa o recado aos leigos.      

ERRADICAÇÃO DO CORAL-SOL

Para evitar que a espécie chegue à costa alagoana, um grupo formado por representantes de órgãos ambientais e de fiscalização vem realizando ações preventivas em navios-sonda e plataformas de petróleo que chegam ao Estado. A presença da espécie assusta os pesquisadores.

Em abril do ano anterior, uma Ação Civil Pública (ACP) foi ajuizada no Ministério Público Federal de Alagoas (MPF/AL), derivando em inquérito civil que tramitou na Procuradoria da República para apurar denúncia apresentada pela professora da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Mo?nica Dorigo Correia, acerca da ocorrência de bioinvasa?o causada pelo trânsito de plataformas de petróleo na costa brasileira.

Reunião discutiu medidas para impedir invasão de coral-sol em Alagoas (Ascom IMA)

Além dos pedidos referentes à liminar, o MPF/AL pediu ainda a coordenação da administração do Porto de Maceió e IMA para estabelecerem métodos para a inspeção de todas as embarcações e plataformas que venham a trafegar na área e tenham qualquer relação com a exploração e/ou prospecção de petróleo, no intuito de impedir introduções do organismo invasor, bem como a exige?ncia de apresentac?a?o de certificado de limpeza/retirada pre?via das espe?cies invasoras (coral-sol) de seus cascos.

Para procuradora da República Raquel Teixeira, autora da ação civil pública em Alagoas, “a preocupação com a invasão do coral-sol no litoral alagoano é importantíssima para o meio ambiente alagoano, e deve ser pautado pelo princípio da precaução”, frisou.

MONITORAMENTO

Para evitar a invasão do coral-sol que resulta em numerosos impactos negativos aos ecossistemas, aos seus componentes, às interações e funções e à população humana. O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) em parceria com diversos órgãos ambientais selecionou áreas para monitorar presença da espécie na costa alagoana.

Locais terão placas de recrutamento para verifcar existência da espécie. (Ascom/IMA)

Esta fiscalização será realizada pelos técnicos do Gerenciamento Costeiro (Gerco), com o auxílio de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O IMA irá elaborar um ofício que será entregue à administração do Porto de Maceió, solicitando autorização para a instalação das placas e realização de mergulhos periódicos de inspeção.

Foram escolhidos três locais no Porto de Maceió onde serão instaladas placas de recrutamento para verificar se há presença de pólipos (indivíduo) de coral-sol. Os equipamentos ficam entre três e quatro metros de profundidade e são verificados trimestralmente.

“As placas foram confeccionadas em aço, já que essa espécie de coral se adapta bem a esse tipo de metal”, explicou Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA.

CONSEQUÊNCIAS

Dentre as consequências mais relevantes e já comprovadas da presença do coral-sol estão a redução da biodiversidade e da abundância das espécies nativas; redução da produtividade primária e pesqueira; redução de espécies de bentos, do nécton e do plâncton; modificação do clico de carbono e cálcio no ambiente marinho e a redução de riqueza e diversidade biológica.

No Brasil, o Coral-Sol (Tubastrea tagusensis eTubastrea coccinea) já foi encontrado no Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo, Sergipe e Bahia. A espécie invasora, que é nativa do Oceano Pacífico, chegou ao país no início da década de 1980, possivelmente incrustada em navios e plataformas de petróleo e óleo.

A porta de entrada em águas brasileiras foi pela Baía de Ilha Grande (RJ), e muito embora não tenha havido a confirmação da invasão na costa alagoana, todo cuidado é pouco.