Cidades

Diminuição de vazão no Rio São Fracisco agrava impactos em Alagoas

CBHSF e Casal dizem que nova redução no reservatório de Xingó, determinada pela ANA, é prejudicial para Alagoas em vários níveis

Por Tribuna Independente 27/04/2017 10h23
Diminuição de vazão no Rio São Fracisco agrava impactos em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Cidades alagoanas devem sofre agravamento nos impactos econômicos e ambientais com a nova redução de vazão do reservatório de Xingó, em Piranhas. Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) e Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) são unânimes em afirmar que situação é prejudicial em vários níveis.

Desde 2013, devido à crise hídrica, o reservatório de Xingó tem sofrido redução de vazão. A mais recente, determinada esta semana pela Agência Nacional de Águas (ANA), estipula queda da média diária de 700m³/s para 600m³/s e instantânea para 570m³/s até 30 de novembro deste ano. Além de Xingó em Alagoas, o reservatório de Sobradinho, na Bahia também sofrerá redução.

Com média mensal de 42% da capacidade total em 2016, o reservatório de Xingó encontra-se com 17% da vazão natural durante o mês de abril deste ano. A sequência de redução na vazão é utilizada pela ANA para regular os efeitos da estiagem prolongada que tem prejudicado significativamente a vazão do Rio São Francisco.

Para ser implantada, a mudança depende ainda da autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo a ANA, haverá ampla divulgação nas cidades ribeirinhas pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).

Segundo o presidente da Casal, Clécio Falcão, a decisão, tomada em âmbito federal, prejudica cidades ribeirinhas e também a Companhia, que realiza captação no São Francisco para o abastecimento dos municípios.

“A redução de vazão do Rio São Francisco, nas represas de Sobradinho e de Xingó, é uma decisão que compete ao governo federal, por meio de vários órgãos, como o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico], a ANA e o Ibama, para atender a vários parâmetros, entre eles a produção de energia e a irrigação. Como as chuvas foram poucas, já era esperada essa redução. Por outro lado, ela prejudica as captações de água da Casal ao longo do rio. A companhia possui 14 estações de captação de água do longo do Rio São Francisco”, explica Falcão.

Segundo ele, a Casal precisará arcar com aumento de gastos para garantir água para a população. “Quando ocorre essa redução de vazão, é preciso fazer investimentos nessas captações, pois a água se afasta da margem. Assim, para conseguir retirar a água bruta do rio, precisamos fazer investimentos, que custam muito caro para a companhia”.

Clécio Falcão aponta ainda que a salinização também gera aumento de gastos. “O problema mais grave, quando ocorrem essas reduções, é em Piaçabuçu, onde a cunha salina tem avançado sobre o rio até o local onde fica a captação de água. As demais companhias de saneamento sofrem com a redução de vazão do rio, mas a Casal tem um problema a mais que é a salinização da água em Piaçabuçu. Essa situação somente ocorre em Alagoas. Já temos um projeto para construir uma nova captação de água para Piaçabuçu, num local próximo à comunidade Penedinho. Com essa redução, talvez tenhamos que fazer novos estudos para saber onde teremos que instalar essa captação de água.”

O problema da salinização também é reforçado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco.

“A salinização impacta diretamente na saúde pública. Se aumenta a salinidade as pessoas passam de fato a beber água mais salgada. Aumentam os casos de hipertensão, os municípios tendem a gastar mais com esses casos. Fora isso, tem a vida lacustre. A vida dos peixes, as quantidades e variedades vão sendo reduzidas drasticamente. Hoje é o mar que está entrando no rio. E quanto você escuta dizer que pescadores pegam peixes de alto mar, é verdade. A água do mar está invadindo o rio quando o natural seria o inverso”, esclarece a assessoria de comunicação do comitê.

Para o Comitê, a redução de vazão foi a única alternativa viável diante da estiagem. Segundo o órgão, os prejuízos ultrapassam o fator econômico. A questão ambiental tem sido evidenciada.

“Nesse momento o comitê não se posiciona. Esta não é a melhor alternativa, é a única. Está entrando menos água do que está saindo, por isso tem de haver esse controle. Para a população do baixo, além do impacto da água salina, tem também a questão do abastecimento. Porque com o rio mais baixo, quando as bombas começam a funcionar, ao invés de sugar água, tiram areia. Os impactos são vários. A Piracema também é prejudicada porque os peixes com a vazão baixa não conseguem subir para se reproduzir”.

“O setor elétrico já antecipou que deve perseguir a vazão de 570m³/s. Mas neste momento o que o setor elétrico deveria pensar é utilizar o volume morto como geração de energia, essa é a discussão que o setor elétrico deve adotar agora”, diz o comitê.

Segundo ONS, o órgão atua de acordo com as determinações da ANA. “Essa é realmente uma crise hídrica, que tem ocorrido há oito anos. São oito anos de seca, é uma situação crítica. Essa é uma operação determinada pelos organismos de Meio Ambiente para fins hídricos para tentar deixar nos reservatórios o maior volume possível”.

O órgão explica que a situação chuvosa na bacia do São Francisco para 2017  já foi definida, porque o período chuvoso compreendido entre novembro e abril foi finalizado. “O período de seca vai de maio a outubro. Aí é o regime de seca, no regime hidrológico anual em que temos seis meses de chuva e outros seis meses no chamado período seco que vai entrar agora”.

No entanto, o ONS afirma que a geração de energia para a região não sofrerá impactos. “Independente de estar nessa situação, o atendimento energético está absolutamente garantido esse ano pelo potencial eólico, pelo parque térmico e pelo recebimento de energia de outras regiões”, informa o órgão.