Cidades

"Falta chuva, mas não falta água em Alagoas", diz meteorologista da Ufal

Luiz Carlos Molion afirma que recurso do Rio São Francisco não é usado apropriadamente

Por Tribuna Independente 24/01/2017 12h13
'Falta chuva, mas não falta água em Alagoas', diz meteorologista da Ufal
Reprodução - Foto: Assessoria

Falta chuva no Estado, mas não falta água! A afirmação é do professor e meteorologista Luiz Carlos Molion, da Ufal.  De acordo com o especialista, em qualquer lugar do mundo seria um absurdo deixar 700 metros cúbicos por segundos de água serem despejados no mar - ele se refere ao Rio São Francisco, cujas águas, segundo ele, não estão sendo sendo usadas apropriadamente.

Para Molion, as soluções para o abastecimento em parte do Estado seriam retirar e usar água do Rio São Francisco. “Temos 260km de rio e qualquer adutora perpendicular a ele atravessaria o Estado com menos de 100km de extensão. Portanto, falta chuva no Estado, mas não falta água! Para qualquer outro país no mundo, seria um absurdo deixar 700m³ por segundo serem despejados no mar, como está acontecendo, numa situação em que a vazão do rio está baixa.”

Outra possível solução citada pelo meteorologista é trazer água de outros rios, como o Rio Tocantins, que no período de cheias (fevereiro-março) já se comunica com o Rio São Francisco.

Luiz Carlos Molion acredita que falta no Estado uma gestão mais equilibrada dos recursos hídricos. “Temos 105km de Canal do Sertão com água, sem gestão. Ainda não foi instituído um comitê ou comissão gestora das águas do canal, disse.”

O meteorologista Vinícius Nunes Pinho da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) tem uma visão diferente de Molion. Para ele, se falta chuva, consequentemente falta água também. “Certamente, até por isso (pela falta de chuva) que a vazão do São Francisco hoje é uma das mais baixas da história”, concluiu.

Vinícius também disse que á água do canal do sertão já é utilizada. E que quando o canal estiver concluído, ele terá seu uso potencializado exponencialmente. E que as ações sugeridas pelo professor Molion poderiam ajudar. No entanto, em curto prazo elas não têm como serem feitas, garante.

A assessoria de comunicação da Semarh também disse que água do Canal do Sertão é usada para abastecer a Região do Semiárido.

Estado passa por uma das piores secas da história

Os meteorologistas Vinicius Pinho e Luiz Carlos Molion acreditam que esta já é uma das piores secas da história de Alagoas.

Desde 2012, as chuvas têm ficado abaixo do normal, segundo explicou Molion. Ele disse que a deficiência acumulada de chuva vem agravando a situação. A ocorrência do fenômeno El Niño severo em 2015/2016 piorou o a situação do Estado, uma vez que o fenômeno provoca secas no Nordeste e na Amazônia.

Vinícius disse que em regiões onde historicamente chove bastante, como na Zona da Mata, em 2016 choveu cerca de 500 milímetros (mm) a menos do que é esperado em um ano normal.

SECAS SEVERAS

De acordo com Molion, o Estado já passou por outras secas severas. A pior aconteceu em 1926 e foi seguida por uma série de anos até 1938, com chuvas abaixo da média. Em 1979 também foi ano de seca, e mais recentemente, em 1991 a 1994.

Mas, segundo o especialista, as secas no passado não tinham tanto impacto social e econômico, pois a população era pequena. Uma seca moderada agora tem impactos muito maiores.

A seca que já dura cinco anos consecutivos afeta toda a Região Nordeste e praticamente o País inteiro, com exceção da Região Sul, de acordo com Molion.

“Todos Estados nordestinos sofreram e sofrem com essa seca prolongada. Porém, o sofrimento dos Estados é relativo. Em termos de chuva, certamente, Rio Grande do Norte foi mais afetado. Mas, as populações da região central da Paraíba, Campina Grande, por exemplo, e de Palmeira dos Índios (AL) ficaram sem abastecimento de água”, explicou o meteorologista.

O especialista diz que 2017 ainda deve ser um ano com chuvas abaixo da média com um inverno menos chuvoso. E que a situação deve melhorar no segundo semestre de 2018.

“Espero que 2018 seja um ano chuvoso, pois o La Niña que está se instalando deve se intensificar a partir do segundo semestre”, comentou Molion.