Cidades

Clubes sociais se reinventam para reverter inadimplência e falta de interesse

Muito frequentados no passado, ida a esses locais diminuiu bastante nos tempos mais recentes

Por Tribuna Independente 22/12/2016 11h37
Clubes sociais se reinventam para reverter inadimplência e falta de interesse
Reprodução - Foto: Assessoria

Os clubes sociais de Alagoas, sobretudo os de Maceió, já tiveram seus tempos áureos. Era chique na época ser sócio de um clube e frequentá-lo com a família. Eram idas aos finais de semana para aproveitar um dia sol à beira da piscina, bailes de Carnaval, festa de debutante, confraternizações, entre outros. Com o tempo, isso tudo ficou démodé e os clubes entraram em decadência. Alguns não resistiram e não existem mais como o Alagoinhas, Portuguesa, além dos balneários Vale das Cascatas, Passaredo, Lagoa Azul. Esses mais recentes. Outros se reinventaram e se mantêm vivos até os dias atuais.

É o caso do Motonáutica Lagoa Clube localizado no Pontal da Barra criado há 50 anos, que buscou novas formas para atrair sócios, bem como o público externo. O gerente social, Ronaldo Cerqueira, explicou que o fluxo reduziu bastante em decorrência da crise econômica, o que também resulta numa inadimplência maior, que acaba influenciando na economia atual do clube. Porém, ressaltou que os custos estão dando para serem mantidos.

Composto de aproximadamente 300 associados, o motonáutica possui o clube náutico, social e o balneário Broma, que é a extensão do lazer. “A parte social estava parada há muitos anos, agora que estamos tentando reativar o segmento. A expectativa é de criar novas opções de recreação porque o espaço já apresenta boa estrutura. Mas há necessidade de ser mais divulgado”, frisou.

Ele disse que como atrativo, a direção social pretende inserir nos finais de semana, almoço musicados, como forma de entretenimento do público presente. Ronaldo Cerqueira salientou que o Broma é o braço do Motonáutica, e que lá, está aberto também para o público externo, que deve pagar uma taxa de acesso.     

O local oferece restaurante, piscina, campo society, quadras de tênis e futebol, garagem para  embarcações, brinquedoteca,

Outra medida adotada para que o clube sirva de atração é o aluguel do espaço para festas e eventos. “Estamos ainda com o projeto de buscar junto às agências de turismo pacotes que incluam o motonáutica na rota de passeios. O espaço oferece uma vista privilegiada para a Lagoa Mundaú. Alagoas não se resume apenas as praias”, mencionou.   

Atualmente o clube passa por um processo de restauração das áreas do parque esportivo.

Administradores buscam novos entretenimentos para atrair público

A inadimplência e a falta de interesse dos sócios em frequentar os clubes sociais estão entre os principais problemas listados por seus administradores em Alagoas. E, para contornar a situação, eles buscam investir em diferentes formas para atrair o público. No caso do Lindoya – Hotel Fazenda de Satuba, que se reinventa para continuar de pé, o gerente Vinicius Conti, diz que os eventos como festas, shows, apresentações, e mudanças na infraestrutura do clube, como piscinas, tobogã, entre outros, fazem com que a ‘casa’ esteja sempre cheia nos finais de semana.

Porém, Vinicius Conti enfatizou que os desafios são diários. Sendo o principal, manter o sócio entretido quando vai ao clube, bem como manter os eventos regulares. “Se o sócio gosta de ir todo mês ao clube, ele não verá o pagamento da manutenção como uma obrigação, mas como forma de manter e desenvolver o que lhes dá prazer. Com relação às despesas, há muitas diante da dimensão que tem o nosso clube, por isso a quantidade de sócios deve ser suficiente para cobrir todos os gastos com a manutenção diária”, destacou.

Ele pontuou que a administração ‘bate forte’ na realização de eventos para manter o sócio interessado. Segundo o gerente, o clube oferece música ao vivo todos os domingos, com estilos variados, para tentar agradar os diferentes tipos de sócios, além das piscinas, quadras de vôlei e futebol, bicas, passeios de cavalo, atividades recreativas, aulas de dança e churrascaria.

Outro diferencial que sempre teve no clube foi o livre acesso do sócio com a sua alimentação. “O sócio pode levar comida e bebida (proibido recipientes de vidro), vemos que em cada mesa, acontece um churrasco diferente”, disse.

Livre acesso do sócio com alimentos é um dos atrativos do clube social Lindoya, que ainda se mantém (Foto: Divulgação)

Vinicius Conti frisou que o nome fantasia do clube foi modificado em virtude das pessoas associarem o espaço como sendo um hotel. “Resolvemos modificar de Lindoya Hotel para Lindoya Parque. Recebíamos diversos e-mails perguntando o valor da diária no hotel e não trabalhamos com hospedagem, com exceção do Carnaval. Por isso, não poderíamos manter o nome de hotel, pois não fazia sentido”, declarou.

De acordo com o gerente, houve uma ‘baixa’ de sócios devido à crise financeira do País. No entanto, ele afirmou, sem a mesma intensidade do comércio. Para Vinicius Conti, em tempos de crise, as pessoas cortam gastos, mas elas sempre vão fazer um esforço para manter o lazer. “Vimos que frequentar o clube estava mais barato do que levar a família para outros passeios, pois lá, muitos levam sua comida e bebida, fazendo com que seja um divertimento de custo baixo”, analisou.

Conti concluiu que as perspectivas de futuro são as melhores, como medida de atrair ainda mais o público. “Estamos inaugurando um salão de jogos, e pretendemos dar mais opções de lazer para as crianças. Porque só as piscinas não são suficientes, estamos investindo em recreação e brincadeiras. Também estamos com planos para pesque e pague, em nosso lago, e pedalinhos”.

“As pessoas perderam o costume de frequentar clubes, mas fazer parte de um é muitas vezes mais barato do que realizar outras atividades de lazer. Acabamos juntando mais as famílias, porque os pais fazem o churrasco e relaxam, enquanto as crianças brincam nas piscinas. Proporcionamos momentos de diversão e felicidade, e isso é o que realmente importa”.

Ápice ocorreu no final do século XIX, diz produtor cultural

O pesquisador, jornalista e produtor cultural Edberto Ticianelli diz que os clubes eram constituídos refletindo uma cultura associativista que teve seu ápice no final do século XIX e se estendeu até meados do século XX. No início, segundo ele, como organizações profissionais ou desportivas, e depois como espaço privilegiado para a realização de festas de alguns segmentos sociais.

O autodidata na área cultural alagoana explica que foi a partir dos anos 60, com a juventude se envolvendo em movimentos libertários, que veio a crise das famílias tradicionais, que tinham nos clubes um instrumento de perpetuação. Os filhos fugiram do controle férreo dos pais. Criaram novos círculos sociais além dos familiares.

(Foto: Adailson Calheiros / Arquivo)

Ticianelli: “De organizações esportivas, clubes passaram a ser espaços privilegiados de alguns segmentos sociais”

“A crise dos clubes foi mundial naquele período. Como reflexo dessa saída dos clubes, surgiram os bares da moda e classe média descobriu as ruas também como espaço para a festa. Os principais eventos de rua a partir dos anos 70 tinha a presença da classe média”, salientou.

Conforme Ticianelli, não há um levantamento de quantos clubes existiam nos tempos áureos e quantos restaram, mas assegura que pelas pesquisas realizadas do século XIX e do início do XX, dezenas deles não existe mais. O mais antigo em atividade é o Clube Fênix Alagoano.

Os mais recentes considerados balneários não resistiram a ação do tempo e não sobreviveram, como, por exemplo: Vale das Cascatas em Ipioca, Passaredo e Lagoa Azul no Benedito Bentes.