Cidades
Número de acidentes com ciclistas aumenta no interior de Alagoas
Hospital de Emergência Daniel Houly, em Arapiraca, registrou por mês uma média de 106 vítimas este ano contra 95 em 2015
A bicicleta é um meio de transporte alternativo, escolhido por muitas pessoas por ser sustentável, saudável e econômico. Por outro lado, necessita de cuidados redobrados para que os perigos sejam evitados ao longo do caminho. Dados estatísticos do Hospital de Emergência Daniel Houly (HEDH), em Arapiraca, indicam aumento de acidentes envolvendo ciclistas no interior do Estado. Já dados do Hospital Geral do Estado (HGE) apontam redução do registro desse tipo de acidente.
No interior de Alagoas, a falta de segurança viária para os ciclistas tem causado muitos acidentes. No ano passado, o HEDH registrou por mês uma média de 95 ocorrências envolvendo ciclistas contra 106 este ano.
Foram 1.149 pacientes vítimas de acidentes envolvendo bicicleta atendidos pelo HEDH no ano passado. Deste total, 65 sofreram lesões graves, que resultaram em cirurgias ou internações. Quatro pessoas não resistiram à gravidade dos ferimentos e acabaram falecendo no hospital.
As quedas são os tipos de acidentes mais comuns. Somente em 2015, o hospital atendeu 853 pacientes por este motivo. Em segundo lugar vieram às colisões entre bicicletas e motocicletas (190 ocorrências) e as colisões entre bicicletas e carros, com 68 ocorrências.
Os traumas mais comuns nestes tipos de acidentes geralmente acometem os membros superiores e inferiores, a exemplo de fraturas nos braços, pernas e úmero. Nos casos mais graves, as vítimas sofrem traumatismo craniano encefálico, o chamado TCE, que pode deixar sequelas para o resto da vida.
Em 2016, os números seguem são bem expressivos. De janeiro a agosto deste ano, o Hospital de Emergência Daniel Houly atendeu 849 pacientes vítimas de acidentes envolvendo bicicletas. 45 resultaram em internações e foram registrados dois óbitos.
HGE
No ano passado, o HGE registrou por mês uma média de 56 ocorrências envolvendo ciclistas, já este ano, apresentou uma queda, contabilizando cerca de 50. Seis vidas a menos poupadas nas vias urbanas da capital. Foram dois óbitos em 2015 e nenhum registrado até o momento.
De acordo com o relatório, sextas e domingos são os dias da semana com maior incidência de acidentes com ciclistas, na maioria dos casos nos horários entre 12h às 18h. A estatística mostrou ainda que 23,26% dos ciclistas acidentados que dão entrada no HGE tem faixa etária entre 35 a 59 anos, seguida das idades entre 5 a 14 anos. Em 2015, o HGE atendeu 491 vítimas ciclistas da capital e 181 oriundas do interior do Estado. Este ano, de janeiro a junho já somam 301 atendimentos.
Associação diz que motoristas menosprezam quem anda de bicicleta
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu artigo 29, parágrafo 2º, que trata do princípio da proteção do maior veículo ao menor, diz que “os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados, e juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Assim lembrou o presidente da Associação Alagoana de Ciclismo (AAC), Antônio Facchinetti.
“O que observamos é que os motoristas não dá o menor valor a quem anda de bicicleta, nem aqui e nem no Brasil, ao contrário dos outros países. Alegam que os ciclistas atrapalham o trânsito. Existe a pouca educação e a cultura do respeito a quem precisa ou anda de bicicleta”, frisou.
Usada em muitos países como meio de transporte alternativo, reduzindo a poluição e garantindo mais saúde da população, a sociedade, segundo Antônio Facchinetti, não entende a série de vantagens que a bike proporciona. Ele lembra com tristeza das mortes de ciclistas somente este ano em Maceió. “Foram cinco óbitos, até o que nós sabemos. Fora aquelas que não tomamos conhecimento, e temos certeza de que existem”, ressaltou.
Marcos Ferreira, que utiliza sua bicicleta para trabalhar, revelou que já se acidentou várias vezes, e presenciou também. “Já cai e me machuquei bastante, mas graças a Deus nunca ao ponto de quebrar algum osso ou ter uma lesão mais grave, só ferimentos leves. A maioria dos infratores é motorista de ônibus, não respeitam o menor”, comentou.
Everaldo Silva nunca se acidentou e diz que isso se deve ao cuidado e cautela no trânsito. “A gente costuma culpar somente os motoristas, mas tem muitos ciclistas que fazem barbeiragem”, opinou.
O representante dos ciclistas disse ainda que a maioria dos casos envolvendo acidentes e mortes de ciclistas têm como alvo os motoristas de ônibus. “Se acham grandes e muitas vezes não têm culpa também, são vítimas das empresas que, cobram horários, agilidade, e na pressa sobra para os menores, os ciclistas”, ponderou.
Na última terça-feira, a AAC e membros de grupos de ciclistas realizaram um protesto para chamar a atenção para mais uma morte de ciclista em Maceió. No ato foi afixada uma ‘bicicleta fantasma’ pintada de branco para simbolizar mais um óbito na BR-104 próxima à entrada da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A iniciativa foi criada desde 2008 e de lá para cá dezenas de bicicletas foram espalhadas pelo Estado no sentido de marcar o local onde houve a morte, associando-a ao ciclista que perdeu a vida.
O presidente da (AAC) Antônio Facchinetti salientou e sugeriu veementemente que os Centros de Formação de Condutores (CFCs) durante as aulas teóricas e práticas abordem a temática dos ciclistas para que os motoristas saiam com mais consciência do artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Em matéria publicada no dia 29 de setembro deste ano, no jornal Tribuna Independente, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) de Maceió reconheceu a deficiência da infraestrutura viária, no entanto disse que vem buscando retrabalhar as vias da cidade para a presença de ciclistas, porém, grande parte da infraestrutura depende da execução de obras (que não está no escopo de atividades da SMTT).
Lembrou que a área urbana de Maceió conta atualmente com 16 pontos dotados de infraestrutura cicloviária, com ciclovias ou ciclofaixas, somando mais de 40km. “Elas são, entretanto, descontínuas e insuficientes para a estrutura viária existente. Não se configuram como um sistema, assim como não atendem a real necessidade dos ciclistas”, analisou.
A intenção do Órgão é que à medida que se trabalha a sinalização para o tráfego geral (veículos motorizados), havendo a possibilidade de inserção segura da bicicleta na via, já se trabalhe em conjunto ciclofaixas. Destacou ainda que nada impede que futuramente quando o órgão responsável pela infraestrutura urbana obtenha orçamento, execute uma infraestrutura mais permanente e segura, com ciclovias e retrabalho de calçadas e esquinas seguras.
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