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Delegado atira em ambulante em Fernando de Noronha: saiba o que falta esclarecer sobre caso

Luiz Alberto Braga de Queiroz atirou na perna de Emanuel Pedro Apory em evento de samba no Forte dos Remédios

Por G1 06/05/2025 15h52
Delegado atira em ambulante em Fernando de Noronha: saiba o que falta esclarecer sobre caso
Morador foi abordado pelo delegado na saída do banheiro - Foto: Ana Clara Marinho/Reprodução

O delegado substituto de Fernando de Noronha, Luiz Alberto Braga de Queiroz, atirou num homem durante uma festa no Forte dos Remédios, fortaleza histórica do arquipélago, na madrugada de segunda-feira (5).

Segundo testemunhas, os tiros foram disparados após uma discussão provocada por ciúmes. O ambulante Emanuel Pedro Apory foi atingido na perna e precisou ser transferido para o Recife, onde está internado no Hospital da Restauração, no bairro do Derby (veja vídeo acima).

Como foi a briga e qual a motivação dos tiros?


O delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz estava substituindo o delegado titular de Fernando de Noronha durante as férias dele.

Ele e uma mulher estavam numa festa no Forte dos Remédios, fortaleza histórica da ilha, quando, segundo testemunhas, Queiroz teria se incomodado com um suposto assédio do ambulante Emanuel Pedro Apory à sua acompanhante.

Nas imagens de uma câmera de segurança é possível ver que o delegado espera Emanuel sair do banheiro. Quando o ambulante se aproxima, ele mostra uma arma para o rapaz e o empurra em direção a uma parede (veja vídeo acima).

Em seguida, o policial dá um tapa no peito de Emanuel, que revida com outro tapa e um empurrão. Neste momento, a arma do delegado dispara e atinge a perna de Emanuel, que tenta sair do local mancando.

Moradores de Fernando de Noronhao realizaram um protesto, com queima de pneus, na BR-363, para protestar pedindo justiça.

Quem é a vítima e qual é o estado de saúde?


Emanuel Pedro Apory tem 26 anos e trabalha como ambulante na praia, alugando guarda-sol e vendendo bebidas.

Depois de ser atingido na perna, Apory foi levado para o Hospital São Lucas, em Fernando de Noronha, onde foi atendido, e ficou aguardando uma UTI aérea para transportá-lo ao Recife.

Segundo a equipe médica do São Lucas, o quadro de Emanuel Pedro Apory foi estabilizado e foi feito um torniquete na perna.

A mãe de Emanuel, Maria do Carmo da Silva, disse à TV Globo que o filho passou a noite perdendo muito sangue e que corria risco de ter a perna amputada.

Ele foi transferido no início da tarde de segunda (5) para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na região central do Recife, onde passou por exames, foi medicado e passou por avaliação dos especialistas.

Em novo boletim divulgado nesta terça (6), o hospital informou que o paciente passou por uma cirurgia para corrigir uma fratura exposta na perna. Apory segue internado na unidade, com quadro de saúde estável.

Quem é o delegado e o que aconteceu com ele?


O delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz estava substituindo o titular da delegacia de Fernando de Noronha.

Segundo o site da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), que concedeu o título de cidadão pernambucano ao delegado, Luiz Alberto Braga de Queiroz nasceu em Brasília, em 1988, e mudou-se para Natal ainda criança com a família;

Ele é formado em Direito, desde 2009, pela Universidade Potiguar.

Em 2013, foi aprovado como escrivão de Polícia do Distrito Federal e retornou a Brasília.

Tem pós-graduação em Direito Penal e assumiu o cargo de delegado da Polícia Civil de Pernambuco em maio de 2018.

Já atuou como delegado adjunto da Delegacia de Roubos e Furtos e já foi titular na Delegacia de Fernando de Noronha por um ano.

Luiz Alberto Braga de Queiroz embarcou de Fernando de Noronha para o Recife no início da tarde, junto com a mulher que teria sido o pivô da briga.

O que disse a Secretaria de Defesa Social?


A Secretaria de Defesa Social (SDS) se manifestou sobre o caso por meio de nota, informando que a Corregedoria Geral instaurou um procedimento preliminar para apurar a conduta do delegado e acompanhar as investigações conduzidas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Também disse que:

Um inquérito foi instaurado por portaria da Polícia Civil e que Luiz Alberto Queiroz prestou depoimento e teve sua arma recolhida.

Testemunhas do caso prestaram depoimento na Ilha de Fernando de Noronha e imagens de câmeras de videomonitoramento foram solicitadas para análise.

O que disse a defesa do delegado?


O advogado Rodrigo Almendra, que defende o delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz, disse que se pronunciaria apenas replicando nota da Associação dos Delegados do Estado de Pernambuco (Adepe).

No texto, a Adepe manifestou o apoio a Luiz Alberto Braga de Queiroz e afirmou que ele atuou em "legítima defesa, diante de agressões injustas”. Disse também que:

O delegado identificou-se como policial ao agressor, recolhendo a arma ao coldre em seguida;

A abordagem ocorreu em razão de comportamento “reiterado de perseguição/importunação contra sua companheira”;

Mesmo ciente da condição funcional e do fato de o delegado portar arma de fogo, o agressor deu início a violentas agressões físicas, demonstrando intenção de desarmá-lo;

Diante da agressão injusta, ele reagiu com um único disparo, atingindo a perna do agressor, com objetivo de cessar a agressão e preservar vidas;

A escolha do local do disparo "demonstra preparo técnico e equilíbrio emocional do policial, que agiu para neutralizar a ameaça com menor dano possível, impedindo que a arma fosse subtraída".

Não havia consumido bebida alcoólica e apresentou-se espontaneamente ao delegado da Polícia Federal, única autoridade policial disponível na localidade no momento.

Luiz Alberto Braga de Queiroz sugeriu e foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) "para realizar exame de sangue (para comprovar ausência de ingestão alcoólica); e exame de corpo de delito (para atestar lesões sofridas durante agressão que motivou a reação legítima".