O resultado das urnas deste domingo, 02, aumentou a procura de brasileiros por informações sobre como obter cidadania na Europa e vistos nos Estados Unidos. Um levantamento da consultoria Aquila Global Group, especializada em mobilidade global, já havia demonstrado que a motivação política como o maior fator responsável pelo aumento. A empresa que recebia antes das eleições 100 ligações diárias registrou, somente nesta segunda-feira, mais de 400 chamadas.

De acordo com o levantamento da empresa, entre agosto de 2021 e agosto de 2022, houve um aumento de 34% na procura por informações sobre mudança para o exterior, em relação ao mesmo período no ano anterior. A empresa coletou os dados no processo de triagem e atendimento a pessoas interessadas em deixar o país. O que chamou atenção neste levantamento, foi a quantidade de pessoas que usaram a polarização política como justificativa para deixar o Brasil. Nos anos anteriores a motivação política para solicitar a dupla cidadania europeia alcançou 5% em 2019 e 7% em 2020.

“Identificamos que a maior justificativa para deixar o país entre aqueles que nos procuram está centrada no resultado das eleições presidenciais deste ano. De um lado a outro na polaridade política, os brasileiros afirmam que se o seu candidato não ganhar, pretendem deixar o país no curto prazo”, explica Lucas Lima, especialista em mobilidade global e presidente da consultoria.

O número de brasileiros no exterior chegou a 4,2 milhões, segundo dados recentes do Itamaraty. Em 10 anos, houve crescimento de 36%. Além disso, dados recentes da Polícia Federal confirmam este movimento: mais de 130 mil brasileiros deixaram o país e não voltaram no 1º semestre deste ano, quando houve aumento de 40% na procura por novos pedidos de dupla cidadania. Neste período, cerca de 11.616 pessoas procuraram os serviços de consultoria, no intuito de sair do país devido a motivações políticas.

Mais de 30 milhões de brasileiros são descendentes de italianos. Grande parte dessa população vive na região sudeste ou sul, como em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. De acordo com a consultoria, uma parcela considerável da população busca agora reconhecer sua cidadania europeia e ter alternativa para sair do Brasil. “Somente em São Paulo vivem 13 milhões de descendentes de italianos, o que equivale a 32,5% da população paulista. Em outras capitais, o número de pessoas que têm direito a obter cidadania na Europa também é grande. Independente de qual seja o resultado das eleições, o certo é que devemos esperar uma grande onda migratória nos próximos meses”, descreve Lima.

A Polaridade e o Plano B

O brasileiro, Bruno Simonetti, é um dos que procuraram a consultoria para solicitar sua dupla cidadania. Segundo ele a estratégia é manter um plano B para deixar o país a depender do resultado das eleições. Simonetti solicitou a cidadania italiana e pondera que o movimento representa a chance de estar seguro.

“O cenário político, além do cultural, influenciou muito na minha decisão que, como pertencente da sigla LGBTQIA+, sempre me senti inseguro no país. A depender do resultado das urnas pretendo sim deixar o país”, afirma Bruno Simonetti.

*Lucas Lima é especialista em mobilidade global com 15 anos de experiência. Palestrante expert em cidadania europeia (italiana e portuguesa) e processos de naturalização no exterior. Presidente da multinacional Aquila Global Group -- a maior consultoria de mobilidade global. Coordena equipes de migração nos EUA, Brasil, Itália e Portugal. Mais informações: AquilaGlobalGroup