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Jovem com suspeita de coronavírus relata preconceito sofrido nas redes sociais

Yasmin Nicolielo, de 26 anos, esteve na Europa no início do mês e foi até o hospital de Avaré após sentir sintomas de gripe. Após uma semana em isolamento, jovem recebeu resultado negativo para Covid-19.

Por G1 04/03/2020 12h37
Jovem com suspeita de coronavírus relata preconceito sofrido nas redes sociais
Reprodução - Foto: Assessoria

Uma jovem de 26 anos fez um desabafo nas redes sociais relatando que ela e a família sofreram preconceito durante um período de isolamento domiciliar em Avaré, interior paulista, em razão da suspeita de infecção por coronavírus.

No depoimento, a gerente de relacionamento Yasmin Nicolielo relata que foi ao pronto-socorro da cidade em 26 de fevereiro, depois que começou a apresentar sintomas leves de gripe. Ela afirma que, após fazer o exame e ficar em observação, teve fotos espalhadas em grupos para que moradores evitassem contato. A jovem também conta ter sido alvo de comentários ofensivos nas redes sociais.

"É incompreensível o quanto as pessoas destilaram ódio gratuito com a notícia do caso suspeito. É claro que não preciso expor aqui o quanto batalho diariamente para conquistar cada um dos meus sonhos. Mas, peço mais amor. Hoje, o vírus covid-19, infelizmente, já está no Brasil. A próxima pessoa com suspeita, ou até mesmo com o vírus, vai ser culpada de que? De sair para ir trabalhar? Porque eu fui culpada por viajar, por realizar um sonho", publicou.

Covid-19 é o nome da síndrome respiratória causada pelo novo coronavírus (2019 n-CoV).

Em entrevista ao G1, Yasmin disse que um laudo divulgado nesta segunda-feira (2) apontou resultado negativo tanto para coronavírus quanto para H1N1. Com o resultado, ela pôde retornar à capital paulista, onde mora. "Graças a Deus. Estou doida pra voltar ao normal ao trabalho", comemorou.

Até a última atualização desta reportagem, havia apenas dois casos da doença confirmados no Brasil, ambos no estado de São Paulo.

Jovem fez desabafo sobre período de isolamento em cidade no interior de SP — Foto: Reprodução/Facebook

Ao G1, Yasmin relatou que esteve na Europa no início no mês para passar as férias e chegou da Itália no dia 17 de fevereiro. Ela viajou para Avaré, cidade da mãe, para passar o carnaval.

Após sentir sintomas de resfriado, decidiu ir a um pronto-socorro no dia 26, onde foi orientada a não retornar à capital até que saísse o resultado do teste para coronavírus.

"Como voltaria de ônibus, não pude retornar para São Paulo. Tive que ficar isolada na casa da minha mãe sem contato com a minha filhinha de 4 anos. Só com máscara todos os dias. Fiquei com medo por poder ter passado para meus familiares antes de ir para o isolamento doméstico, principalmente minha filha", conta.

Yasmin viajou para a Itália no início do mês de fevereiro — Foto: Arquivo Pessoal

Yasmin lembra que, depois da divulgação de seu caso no site da Prefeitura de Avaré, soube que fotos suas estavam sendo compartilhadas em grupos de motoristas por aplicativo.

"Quando a notícia saiu, começaram a destilar ódio. Li pessoas falando que a família toda teria que ser isolada. Minha irmã foi gentilmente convidada por uma professora a não ir para a escola, mesmo às vésperas do TCC [trabalho de conclusão de curso] e sem ter nenhum sintoma de gripe. Li pessoas falando que isso era coisa de rico, como viajar para fora e trazer doença para os pobres", afirmou.

A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo divulgou nesta terça-feira (3) que caiu o número de pacientes com suspeita de coronavírus no estado. Enquanto que, na segunda-feira (2) eram 163 casos suspeitos, nesta terça são 130.

Foram descartados, ao todo, 104 casos no estado, destes, 56 foram nas últimas 24 horas. Entretanto, segundo informou a pasta, entre segunda (2) e terça (3), 23 novos surgiram.

Permanecem confirmados apenas 2 casos da doença no país, ambos no estado de São Paulo. Os pacientes estão em quarentena domiciliar. Ambos estiveram em viagem na Itália.

O número de pessoas que tiveram contato com o segundo caso confirmado não foi divulgado pela secretaria. No primeiro caso confirmado, eram 34 pessoas, entre passageiros do voo e familiares do paciente.