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Laudo aponta problemas no sistema de drenagem na barragem da Vale em Brumadinho

Documento aponta que barragem era segura, mas recomendou melhorias; Mineradora afirma ter acatado as sugestões; Tragédia deixou 134 mortos, e 199 estão desaparecidos

Por G1 05/02/2019 10h06
Laudo aponta problemas no sistema de drenagem na barragem da Vale em Brumadinho
Reprodução - Foto: Assessoria
Um laudo de vistoria feito em 2018 sobre a barragem I da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, detectou problemas no sistema de drenagem da estrutura. A barragem, que estava sem receber rejeitos desde 2015, rompeu em 25 de janeiro despejando um tsunami de água, terra e rejeitos sobre funcionários da Vale e moradores da região. Até segunda-feira (4), 134 mortes haviam sido confirmadas e 199 pessoas seguiam desaparecidas. O laudo foi feito pela empresa alemã Tüv Süd, a pedido da Vale, e conclui pela estabilidade da estrutura. Mas registra que, em determinada área da barragem que estava parcialmente saturada de água, havia um dreno seco. Outros continham trincas de onde vertia água. [caption id="attachment_277812" align="aligncenter" width="600"] Imagens mostram trecho trincado em canaleta na barragem de Brumadinho (Foto: Reprodução/Tüv Süd)[/caption] Além disso, o documento recomendou a instalação de novos piezômetros, equipamentos que medem a pressão e o nível da água no solo, e de um mecanismo de registro sismológico no entorno da barragem. Por fim, o estudo recomenda que, para aumentar a segurança da barragem e evitar a liquefação – uma das possíveis causas da tragédia –, a Vale deveria tomar atitudes que diminuíssem a probabilidade de gatilhos, como proibir detonações nas redondezas, evitar o tráfego de equipamentos pesados, e impedir a elevação do nível da água na estrutura. A Vale afirmou que todas as recomendações foram atendidas ainda no ano de 2018. “Cabe reforçar que se tratavam de recomendações rotineiras em laudos deste gênero”. A mineradora não diz na nota se comprovou à Justiça que as recomendações foram cumpridas. A nota diz ainda que a barragem era monitorada por 94 piezômetros, equipamentos especiais, e 41 indicadores de nível da água. As informações dos instrumentos eram coletadas periodicamente e todos os dados analisados pelos geotécnicos responsáveis pela barragem. Para professor, acúmulo de água pode ter levado à ruptura Os engenheiros da Tüv Süd elaboraram dois relatórios sobre as condições de segurança da barragem de Brumadinho. O primeiro, de agosto de 2017, conclui que “o desempenho da barragem se encontrava adequado, atendendo às exigências das normas brasileiras de segurança para barragens”. O segundo, de julho de 2018, reafirma a conclusão. O Jornal da Globo mostrou os dois relatórios para o professor Edilson Pizzato, do Instituto de Geociência da USP. Para ele, os critérios técnicos usados na avaliação de risco da barragem de Brumadinho estavam corretos. “A metodologia utilizada é conhecida, utilizada no mundo inteiro. As análises indicam, pela própria conclusão deles, que a barragem tinha condição de segurança", diz Pizzato. Mas algumas fotos chamaram a atenção. Elas mostram problemas no sistema de drenagem interna da barragem. São tubos danificados, entupidos pela vegetação, e a formação de coloide, uma espécie de entupimento provocado pelo acúmulo de minério. [caption id="attachment_277810" align="aligncenter" width="600"] Imagem mostra presença de coloide em dreno (Foto: Reprodução/Laudo Tüv Süd)[/caption] “No próprio relatório foram indicados alguns problemas em relação à drenagem interna. São drenos horizontais profundos. São drenos que vão tirar a água de dentro do maciço. E é aquela água que satura o material, a água que é interna. E é justamente um dos fatores que pode levar à liquefação do material. O material está saturado. Então, se nesse tempo de três meses, praticamente entre o relatório até o rompimento, ocorreu problema na drenagem e acumulou água dentro do maciço, isso poderia ter levado a ruptura. Por que? O estado de saturação estaria diferente do que ele apontou no relatório”, diz o professor. [caption id="attachment_277809" align="aligncenter" width="600"] Canaletas trincadas na barragem de Brumadinho (Foto: Reprodução/Tüv Süd)[/caption] Os laudos são assinados por profissionais da Vale e Tüv Süd. Entre os responsáveis por parte da companhia alemã estão os engenheiros Makoto Namba e André Yassuda. Eles foram presos na semana passada, suspeitos de crimes ambientais, falsidade ideológica e homicídio. O advogado dos dois engenheiros anexou os relatórios no pedido de liberdade feito à Justiça mineira, para tentar mostrar que Namba e Yassuda cumpriram com suas responsabilidades profissionais e apontaram a situação da barragem. O Tribunal de Justiça de Minas (TJ-MG) negou o pedido liminar de habeas corpus. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).