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MP denuncia homem suspeito de matar Moa do Katendê por homicídio por motivo fútil na BA

Crime ocorreu após discussão política, no primeiro turno das eleições, em Salvador

Por G1 BA 18/10/2018 17h53
MP denuncia homem suspeito de matar Moa do Katendê por homicídio por motivo fútil na BA
Reprodução - Foto: Assessoria
O barbeiro suspeito de matar o capoeirista Moa do Katendê a facadas, em Salvador, foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), nesta quinta-feira (18), por homicídio duplamente qualificado e tentativa de homicídio também duplamente qualificado, por motivo fútil e impossibilidade de defesa das vítimas. De acordo com o MP, o homem, identificado como Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, também foi denunciado por tentativa de homicídio, por esfaquear o primo de Moa, Germino do Amor Divino Pereira, de 51 anos, que tentou defender a vítima das agressões. "A polícia concluiu que a motivação do crime foi está [discussão política], por conta das testemunhas. Foram ouvidas oito testemunhas, além da vítima sobrevivente. Era um bar e tinham várias testemunhas. Essas pessoas foram ouvidas, o proprietário do bar, a esposa dele. Não houve contradições nos depoimentos. Não há contradição, exceto dele (o suspeito), que tenta justificar o ato dele com evasivas", disse Davi Gallo, promotor do caso. O ministério público encaminhou a denúncia ao 1º juízo da 1ª vara do tribunal do júri. O promotor Davi Gallo disse que, por ter sido um crime praticado contra a vida, acredita que o suprirá irá a júri popular. Se condenado, conforme o promotor, pode pegar de 25 a 45 anos de prisão pelos dois crimes. A pena ainda pode ser agravada, segundo Gallo, porque o homicídio foi praticado contra uma pessoa maior de 60 anos. "Isso é uma causa de aumento de pena previsto no Código Penal, assim como crimes contra menores de 14 anos. Então, no caso de condenação, a pena é aumentada em um terço. nós pedimos isso, está na denúncia. Sobre a qualificação, a motivação do crime foi fútil, vazia. Ela decorre de uma discussão por uma divergência de opinião entre vítima e acusado. Essa divergência é desrazoável, desproporcional, fútil por natureza. Ele [o suspeito] se retira do recinto após a discussão, vai até em casa, arma-se com uma peixeira e, de surpresa, ou seja, não dando nenhuma chance de defesa a vítima, ele começa a golpeá-la pelas costas", disse. Caso a Justiça receba a denúncia, a defesa do suspeito terá 10 dias para se pronunciar. "A partir de agora, com o recebimento da denúncia, caso o juízo receba, a primeira ordem é do juiz é determinar que a defesa dele ofereça resposta escrita à denúncia num prazo de 10 dias". Segundo o promotor David Gallo, após receber a reposta da defesa do suspeito, a justiça seguirá com os demais atos processuais, como a marcação de audiências. Caso O crime ocorreu na madrugada de 8 de setembro, horas após a votação do primeiro turno das eleições. As vítimas e o suspeito estavam em um bar, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador. A investigação da Polícia Civil concluiu que Paulo e Moa brigaram por disputa política. Segundo a polícia, o capoeirista, de 63 anos, teria criticado o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), gerando o desentendimento com o suspeito. Os dois discutiram em voz alta e “agrediram-se mutuamente de forma verbal”, conforme o MP. Em seguida, ainda segundo o órgão, Paulo Sérgio saiu do estabelecimento em direção à casa dele, onde pegou uma faca tipo peixeira e retornou ao bar para agredir Moa do Katendê. A vítima foi atingida por 13 facadas. Conforme o MP, a maior parte dos ferimentos foi no pescoço e no tórax do capoeirista. Em depoimento, no entanto, Paulo Ségio negou que o crime tenha sido motivado por política. A versão, contudo, é contestada por testemunhas, que apontam a situação como causa inicial da discussão. Paulo Sérgio está preso desde o dia do crime. Ele foi detido em flagrante, mas, no dia 9 de outubro, o homem passou por audiência de custódia e teve prisão preventiva decretada pela Justiça. O suspeito está no sistema prisional. Homenagens Desde que morreu, Moa do Katendê foi homenageado por diversos grupos culturais e artistas brasileiros e internacionais. Nomes como Gilberto Gil, Caetano e Roger Waters prestaram tributo ao capoeirista. Na noite da quarta-feira (17), Waters chegou a chorar após exibir uma foto de Moa durante um show, em Salvador. Na manhã desta quinta, ele usou as redes sociais para comentar o caso novamente. Na terça-feira (16), uma multidão lotou o Largo do Pelourinho, no centro da capital baiana, em um ato em homenagem a Moa. Vestidos de branco, grupos de coletivos de identidades negras e capoeiristas participaram da mobilização após a tradicional missa celebrada às terças-feiras, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Centro Histórico. Integrantes dos grupos Ilê Aiyê, Olodum e Filhos de Gandhy marcaram presença. Uma faixa grande com a hashtag "Moa vive" foi colocada na fachada do Museu da Cidade. O compositor, dançarino, capoeirista, ogã-percussionista, artesão e educador na propagação da cultura afro-brasileira completaria 64 anos de vida no dia 29 deste mês de outubro.