Brasil
Relatório indica que montadora Volkswagen 'foi leal' ao governo da ditadura no Brasil
Estudo concluiu que, em 1972, seis trabalhadores foram presos e, pelo menos um, torturado nas dependências da fábrica de São Bernardo
A montadora alemã Volkswagen divulgou nesta quinta-feira (14), em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP), um relatório sobre sua participação na ditadura militar no Brasil.
O documento, que foi feito a pedido da marca, é do historiador alemão Christopher Kopper e retrata a "lealdade" da marca ao regime.
Estudo concluiu que, em 1972, 6 trabalhadores foram presos e, pelo menos 1, torturado nas dependências da fábrica de São Bernardo.
O texto traça o relacionamento da Volkswagen com o governo brasileiro durante o período militar, entre 1964 e 1985. No início da publicação, Kopper aponta que a "diretoria executiva da Volkswagen Brasil não participou do golpe contra o último governo eleito em 1964 e da posse da ditadura militar".
No entanto, o historiador ressalta o modo como a montadora enxergava os militares no poder.
“O golpe militar de 1964 e a instituição de uma ditadura militar cada vez mais repressiva foi avaliado positivamente pela empresa”, explica Christopher Kopper, historiador. Setor de segurança informava militaresEm outro trecho, Kopper afirma que "a Volkswagen do Brasil foi irrestritamente leal ao governo militar e compartilhou os seus objetivos econômicos e da política interna".
Entre as colaborações com o governo, estava a do setor de segurança industrial da empresa, que informava ao regime militar possíveis atividades políticas e sindicais de funcionários da Volkswagen.
"Lamentamos profundamente por episódios que possam ter acontecido naquele período", afirma o presidente da Volkswagen do Brasil, Pablo Di Si. Trabalhadores cobram indenizaçõesNo início do mês, a agência EFE informou que a empresa negociava, através de sua filial brasileira, indenizações para as vítimas da ditadura no Brasil.
Durante a divulgação do relatório, um grupo de ex-funcionários da empresa fez protesto na frente da fábrica da Anchieta. Eles reivindicam indenizações da montadora.
“Os trabalhadores precisam ter sua vida reparada, diante da violência que sofreram, não só por esta empresa, mas por todas as outras que tiveram esse papel”, diz Wagner Santana, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC.Mas os trabalhadores apontam que a Volkswagen não foi a única a colaborar com o regime. "Sabemos que houve situação semelhante em concorrentes da Volkswagen, fornecedores da Volkswagen e indústrias químicas. Essas histórias precisam ser contadas", afirma Wagner Santana.
Fábrica da Volkswagen no ABC paulista durante a década de 1970 (Foto: Divulgação)
Relato de torturaLúcio Bellentani é um dos que relatam as tensões vividas durante o período. Em 1972, ele sofreu a ação dos militares dentro da fábrica.
“Estava trabalhando quando 2 policiais do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) entraram no setor de prensar com metralhadoras e me algemaram. Fui levado para o departamento pessoal e comecei a ser torturado por eles”, relembra Bellentani, ex-trabalhador da Volkswagen.Ele ficou 8 meses presos, foi solto e absolvido. Depois, o governo recorreu e foi condenado a 2 anos de prisão por militância sindical e atividade política, dos quais cumpriu 1 ano e 8 meses e acabou solto. Bellentani era militante do Partido Comunista Brasileiro.
“Nunca me procuraram de forma oficial. Nunca quiseram assumir a responsabilidade”, critica Lúcio Bellentani, ex-trabalhador da Volkswagen.
A Volkswagen respondeu que tentou "inúmeros contatos" com os envolvidos, mas não obteve sucesso.
“Não há evidências claras de que houve cooperação institucional. Não estamos pensando em fazer compensações individuais e sim para instituições sociais”, afirma Pablo Di Si, presidente da Volkswagen do Brasil.Lúcio Bellentani, ex-trabalhador da Volkswagen, relata tortura dentro da fábrica em São Bernardo do Campo (SP) (Foto: André Paixão/G1)
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