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Escola onde criança desmaiou de fome no DF passa a oferecer almoço aos alunos

Na última semana, estudantes do vespertino passaram a receber refeição salgada às 13h30 e lanche por volta das 16h; Professora das crianças diz que rendimento 'melhorou'

Por G1 29/11/2017 09h05
Escola onde criança desmaiou de fome no DF passa a oferecer almoço aos alunos
Reprodução - Foto: Assessoria

Os alunos do turno vespertino da Escola Classe 8 do Cruzeiro – onde um estudante de 8 anos desmaiou de fome – começaram a receber uma refeição adicional após a repercussão do caso. Desde o último dia 21, as crianças recebem uma refeição salgada assim que chegam ao colégio, segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal.

O G1 pediu à pasta que enviasse o cardápio do almoço ofertado nos últimos dias. Em resposta, a secretaria se resumiu a dizer que "o cardápio é salgado e variado e atende as recomendações nutricionais estabelecidas no Programa Nacional de Alimentação Escolar". A merenda das crianças ainda é reforçada por volta das 16h, com o lanche que já era distribuído pela instituição.

Em entrevista, a professora Sara Regina Damasceno disse que o comportamento dos estudantes mudou dentro da sala de aula. Ela está substituindo a professora Ana Carolina Costa, que responde pela turma onde o aluno desmaiou, no começo do mês, e está afastada por licença médica.

“Eles chegam às 13h30, deixam a mochila na sala, e já recebem o almoço. As crianças têm gostado muito da comida. Tem criança que repete duas e até três vezes. E, agora, a gente percebe o bom rendimento na sala de aula e a animação deles. A mudança é nítida.”

Conforme detalhou Sara Regina, nesta terça-feira (28), as crianças receberam macarrão com frango às 13h30. Às 16h, lancharam pipoca com suco de melão.

Questionada sobre o dinheiro investido para ampliar o cardápio dos alunos, a secretaria informou que “não houve custo adicional". O G1 insistiu, mas a secretaria não explicou como conseguiu oferecer o almoço a custo zero.

Quantidade e qualidade

Segundo o diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) Samuel Fernandes, apesar da iniciativa de estender o cardápio, "a qualidade dos alimentos oferecidos nas escolas, de forma geral, é muito ruim". O sindicalista questiona o valor nutricional dos alimentos disponibilizados:

“Hoje [terça], por exemplo, serviram pipoca. Quando há feijão, ele é enlatado, com alto teor de sódio e conservantes.” Caso reavaliado

A medida foi adotada um dia depois que o secretário de Educação, Júlio Gregório, afirmou à TV Globo que o colégio passaria a oferecer almoço aos estudantes. O gestor disse que já era do conhecimento do governo que havia "muitas crianças" que chegavam para as aulas "sem ter feito nenhuma refeição".

Antes da repercussão da história, a Secretaria de Educação havia dito, em nota, que “lamentava” o caso do aluno. Segundo aquele comunicado, não havia possibilidade de dar almoço aos alunos porque a escola não é de ensino integral.

Em seguida, a pasta recuou e enviou novo posicionamento, informando que "avaliava" a possibilidade de oferecer almoço na unidade. Uma equipe de nutricionistas foi enviada ao colégio para verificar a estrutura da instituição.

Cardápio comum

Na escola onde o menino desmaiou, o cardápio previa biscoito em dois dias na semana (às terças, com vitamina de banana, e às quintas, com suco). O prédio fica no Cruzeiro, uma região de classe média, perto do Plano Piloto.

Desde o começo de 2017, o colégio atende, além dos moradores, 250 crianças de famílias de baixa renda que moram no Paranoá Parque – empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, onde não há escolas.

O Secretário de Educação disse que mandou fazer um levantamento das instituições em que há maior vulnerabilidade para poder reforçar os cardápios e evitar novas situações do tipo.

Ao todo, há 460 mil estudantes na rede pública do Distrito Federal. Segundo o secretário, a melhor forma de resolver a situação é evitar que as crianças estudem em regiões administrativas diferentes das que moram.

O gestor garantiu que os estudantes que percorrem 30 km para estudar, atualmente, serão atendidos perto de casa em 2018. De acordo com Gregório, as aulas serão dadas em um espaço alugado, já que não há condições de construir um novo colégio em tempo hábil.

Fome e pobreza

A equipe da Escola Classe 8 do Cruzeiro contou que a reclamação de fome era comum entre os alunos. As aulas acontecem à tarde mas, por causa da distância e do número de paradas, muitas crianças saem de casa às 11h, e passam o horário de almoço no transporte escolar do governo.

Como as famílias têm renda baixa, muitos desses alunos saem sem almoçar. Segundo a professora responsável pela criança que desmaiou, Ana Carolina Costa, boa parte das crianças nem tem o que comer em casa, e vão à escola contando com a merenda.

"Ficam dispersos, não prestam atenção. Eles falam: 'tia, tô com fome.' [...] A escola faz o que pode, chama a família, o Conselho Tutelar, não é omissão da escola", diz a professora.

[caption id="attachment_20120" align="aligncenter" width="300"] Estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal recebem pipoca e suco no horário da merenda (Foto: Samuel Fernandes/Divulgação)[/caption]