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Jovem decide colocar exame de HIV negativo em perfil do Facebook para negar boato

Mensagem dizia que ela estava "passando Aids para geral"; Ela teve de adotar uma outra conta nas redes sociais e mudar de cidade; autoria do crime continua desconhecida

Por G1 11/07/2017 11h49
Jovem decide colocar exame de HIV negativo em perfil do Facebook para negar boato
Reprodução - Foto: Assessoria

m ano após o boato que mudou sua vida, a Aninha Moura "real" ainda mantém em destaque em uma página no Facebook a imagem do exame de sangue que fez para provar que não tem o vírus HIV e que não é a personagem fictícia que criaram no WhatsApp. Moradora de Elesbão Veloso, cidade do Piauí de 14 mil habitantes, ela viu sua vida desmoronar em 2016 quando uma mensagem que a identificava como uma mulher que estava "passando Aids para geral" viralizou nas redes.

O autor da fraude colocou uma foto da jovem, hoje com 20 anos, para ilustrar um perfil falso no WhatsApp. Depois, montou um diálogo em que a falsa Aninha dizia que tinha o vírus HIV e que ia passá-lo para todos. O diálogo estava acompanhado de uma foto de uma mulher de biquíni, parecida com ela. Como se não bastasse, a cidade em que ela estava "atuando" mudava de acordo com quem passava a mensagem à frente, o que fez com que a falsa notícia se espalhasse por todo o país.

Aninha conta que soube dos boatos quando pessoas próximas a ela a questionaram sobre a mensagem. Ao saber, correu à delegacia e denunciou o crime, mas conta que até hoje não conseguiu descobrir a autoria do boato. "Não faço ideia de quem foi. Mas deve ser alguém que não queria ver meu bem porque todo mundo queria me matar", diz.

Depois do pesadelo, ela decidiu mudar de cidade, abandonar a conta original no Facebook e abrir uma outra na rede social. Antes, tomou uma atitude drástica: resolveu colocar um exame de sangue na capa de sua conta oficial para provar a todos que não tinha Aids e, portanto, não estava passando a doença a ninguém.

Após mudar para um local distante mais de 1.500 km de sua cidade natal, recomeçou a vida. Começou a namorar, se casou e teve um filho. "Na minha cidade não tinha como ficar. Não podia nem sair de cada. Resolvi mudar", conta.

"Na minha cidade não tinha como ficar. Não podia nem sair de cada. Resolvi mudar"

Apesar de todas as providências tomadas, o boato marcou sua vida e ela tenta evitar que uma nova onda venha a afetá-la. "As pessoas me olham como se eu estivesse doente. Isso de maneira geral, porque foi espalhado para o Brasil todo. Até pessoas do Rio de Janeiro mandavam mensagens para mim. Aqui, até o momento, não tive problema, não."

Evangélica, com hábitos conservadores, Aninha diz que frequentava a igreja em sua cidade, mas depois do boato tinha que chegar e sair escondida do local. "Depois que aconteceu isso, não podia ir para a igreja porque o povo ficava rindo da minha cara quando eu saía. Meu pai tinha que me deixar escondida. Eu só queria ficar dentro de casa. Chorar. Só. A única coisa que eu podia fazer era isso."

A jovem demorou a contar sobre o boato para o namorado, hoje marido. "Assim que eu cheguei, eu comecei a namorar. Só que ele não sabia desse boato. Veio a saber depois que a gente assumiu o namoro. Aí fui falar para ele. Só que ele nunca se importou com isso. Ele sabia que era mentira."

Aninha conta que a mulher de biquíni que aparece na mensagem falsa não é ela. "Quando eu estava aqui, passados uns dois meses, meu marido viu. Só que não era eu. Botaram a minha foto no WhatsApp e a foto dessa moça, só que eu não era eu", conta.

"Não faço ideia de quem foi. Mas deve ser alguém que não queria ver meu bem porque todo mundo queria me matar"

Apesar de já ter tentado de tudo, a jovem diz que não sabe como dar um fim a essa novela. "Queria que tivesse solução, descobrir pelo menos a pessoa que fez isso. O delegado não teve vontade de investigar. Porque se ele realmente quisesse descobrir, ele teria feito alguma coisa. Como foi pelo WhatsApp, tinha como rastrear o celular de algumas pessoas, como muitos fazem."

O delegado Paulo Gregório nega que tenha havido má vontade, diz que foram ouvidas duas pessoas na época, mas que não foi possível descobrir a autoria do crime. "Realizar a perícia nesses casos é muito complicado."

"O caso está em aberto até hoje. Fiquei de pedir a quebra de sigilo da conta de Facebook que criou esse perfil fake de onde partiu a informação. É difícil encontrar o autor, que usa essa artimanha para se esconder e acabar maculando a imagem das pessoas."