Brasil
Frase "eu sou ladrão e vacilão" começa a sumir da testa de menor tatuado
Tatuador e pedreiro estão presos por crime gravado no ABC
O procedimento foi feito em Mairiporã, na clínica de reabilitação onde o menor faz tratamento contra o vício em crack e álcool. “O laser faz com que o organismo absorva a tinta”, confirmou Sérgio Castillo, diretor terapêutico da clínica Grand House, responsável por tratar gratuitamente do garoto na Grande São Paulo.
Segundo Castillo, uma clínica de estética de São Bernardo do Campo, no ABC, começou a remover de graça a tatuagem feita no adolescente. Como o menino está em abstinência, por questões de segurança, a recomendação foi que ele passasse pelas sessões de laser em Mairiporã.
Ao todo, ele deverá ser submetido a dez sessões, sendo uma por mês. A expectativa é a de que a inscrição seja removida até março de 2018. “A primeira resposta foi boa”, disse Sérgio.
A reportagem não conseguiu localizar a clínica de estética, a mãe e o advogado do menino para comentarem o assunto.
O adolescente foi internado no dia 13 de junho na clínica particular de Mairiporã. Ele deverá ficar até o fim deste ano para se reabilitar da dependência química. Ainda de acordo com a Grand House, a pedido da proprietária da clínica que cuida da remoção, o nome da empresa não está sendo divulgado.
Ele foi tatuado em 9 de junho, em São Bernardo, pelo tatuador e músico Maycon Wesley Carvalo dos Reis, de 27 anos. O vizinho dele, o pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, filmou.
Com a divulgação e compartilhamento do vídeo nas redes sociais, a Polícia Civil prendeu os dois homens em flagrante. Os dois confessaram ter tatuado e filmado como forma de punir o adolescente porque ele queria furtar a bicicleta adaptada de um deficiente físico.
Maycon e Ronildo foram indiciados por tortura, mas o Ministério Público (MP) não concordou com a investigação policial e denunciou os dois à Justiça pelos crimes de constrangimento ilegal, lesão corporal e ameaça. As defesas dos dois acusados deverá pedir a liberdade para que respondam soltos pelo que fizeram.
Os agressores e o dono da bike moram em uma pensão no centro de São Bernardo, onde o menor foi levado após desaparecer no dia 31 de maio. Ele só foi encontrado no dia 10 de junho, um dia após ter a testa tatuada.
Segundo o 3º Distrito Policial (DP) de São Bernardo, Maycon e Ronildo pegaram o adolescente na pensão da Rua Jurubatuba. Lá, prenderam o garoto numa cadeira. Rindo, Maycon tatuou a testa da vítima. Ronildo, que parecia se divertir com a situação, filmou.
Em seguida, o tatuador e o pedreiro soltaram o adolescente e passaram a divulgar o vídeo pelo WhatsApp. A imagem acabou sendo compartilhada diversas vezes pelo celular, chegando a viralizar no aplicativo.
PedreiroIronicamente, um dos dois homens que cometeram a tortura, sob a alegação de estarem fazendo justiça com as próprias mãos, já cumpriu pena de 5 anos e 4 meses por roubo, em regime semi-aberto.
O crime foi cometido por Ronildo no Butantã, na Zona Oeste de São Paulo e condenação promulgada em 22 de novembro de 2008. Naquela ocasião ele e um comparsa foram presos em flagrante após roubarem a bolsa de uma mulher "mediante grave ameaça", levando os cartões bancários, o telefone celular e objetos pessoas de uma mulher.
Adolescente Em entrevista ao G1, o rapaz de 17 anos negou que tenha tentado furtar a bicicleta de um deficiente físico, como alegaram Ronildo e Maycon. "Eu estava bêbado, esbarrei na bicicleta e ela caiu", afirmou ele, que disse ter tido "vontade de morrer" depois da tortura.O adolescente tem duas passagens por ato infracional, a primeira em 2012, quando teria entrado em um supermercado para furtar comida. A segunda, em 2017, ele teria entrado em um estabelecimento comercial. Sobre este ato infracional, ele deveria comparecer a uma audiência da Vara da Infância e da Juventude, mas o procedimento jurídico foi adiado por conta do caso.
DeficienteO ambulante Ademilson de Oliveira, de 31 anos, dono da bicicleta que seria pivô da agressão ao adolescente que teve a testa tatuada em uma pensão em São Bernardo do Campo, condenou a atitude do tatuador e seu comparsa. "Não consegui dormir pensando nisso. Fui dormir com medo, meu coração apertado, chorei nessa noite", afirmou Oliveira, que é deficiente físico e vive de vendas e do dinheiro que pede no semáforo.
TatuadorA mãe do tatuador Maycon, disse ao G1 que o filho está arrependido por ter tatuado a testa do menor. "Ele é um bom menino. Ele simplesmente, em uma atitude de nervosismo, agiu de maneira errada. Agiu por impulso, no calor da emoção."
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