Brasil
Escritor se defende e diz que nunca torturou família: "É uma armação"
Joselito Oliveira Rocha falou com exclusividade ao G1; Ele nega as acusações de agressão feitas pela filha Gloria, de 17 anos, revela desgosto por ela, mas afirma que vai perdoa-la e quer que a adolescente volte para casa
"Minha filha nunca levou um soco ou um tapa. Eu corrigia, mas sem agressão e não tenho nada para esconder. Tudo isso é uma armação que a Erika está fazendo". Assim, o escritor Joselito Oliveira Rocha, de 40 anos, se defende e nega as acusações contra ele feitas pela filha Gloria Maria de Souza Rocha, de 17 anos.
Eles moram em Santos, no litoral de São Paulo. Gloria fugiu de casa, ficou cinco dias desaparecida, foi localizada e voltou para a família contra a vontade. A jovem, entretanto, afirma ser vítima de violência doméstica e com a ajuda da irmã, Erika Cristina Carballo, de 23 anos, que também acusa Joselito de agressão, o denunciou à polícia.
"A minha filha teve um surto. Eu nunca espanquei ela. Ela inventou todas as histórias para ter a liberdade dela", afirmou o escritor, na noite de terça-feira (13), quando recebeu o G1 no apartamento onde mora. Ele estava incomunicável desde domingo, quando a adolescente decidiu ir à Central de Polícia Judiciária (CPJ).
Joselito disse que a família tem "regras" e isso foi o que motivou a filha a revelar uma "rebeldia" que até então ele e a esposa, Maria José de Souza Franklin, de 44 anos, dizem não ter conhecido. Segundo o escritor, as normas impostas por ele são de horários e de tarefas de casa, como ajudar a mãe e arrumar a própria cama.
Chorando, Maria José afirmou que ainda não consegue entender a atitude da filha. "Ela disse que eu era agredida. Isso nunca existiu e eu nunca fui agredida. Nem ela. O meu maior erro foi ter mimado ela demais. Meu coração hoje está sangrando e eu só quero que ela volte para a gente. Eu vou perdoá-la, sim", disse.
Gloria e Erika são irmãs por parte de mãe e se reencontraram após 16 anos, após um pedido de ajuda da adolescente na internet. A Justiça decidiu por tirar a guarda da primeira filha de Maria por maus-tratos. Uma queimadura com ferro de passar roupas, atribuída ao padrastro, foi o que motivou a decisão naquela ocasião.
O escritor afirma não ter agredido a enteada, mesmo com a decisão judicial. "A minha empregada estava passando roupa e o ferro estava ligado. Eu dei um tapa nela e ela caiu por cima desse ferro, com a mão no ferro. Não fui eu que botei o ferro em cima da mão dela. Essa é a verdadeira história desse caso", afirmou.
Ao saber do reencontro das duas, ele acusa Erika de ter armado toda a situação. "Por trás da minha filha tem a Erika e o marido dela. Ela está usando o que aconteceu no passado para o hoje, meio que para se vingar. Eu tenho meia culpa na correção rígida que dei nela [o tapa]". Maria não se pronunciou sobre a versão dele.
Entretanto, a mãe, ao ser questionada, afirmou a existência de mais um filho dela (além de Erika e Gloria), mais velho, cujo sumiço Erika também atribuiu ao padrasto na ocasião do início do relacionamento dele com a mãe. “Ele mora com o pai, o meu ex marido, mas eu não tenho contato com eles. Nunca tive, na verdade”, relatou.
Sobre a acusação de que ele tem um chicote em casa e que era utilizado para bater na família, ele garantiu que também é mentira. "Você pode procurar aqui que não vai encontrar esse chicote. Disseram que eu batia com ele nelas (mãe e filha) e nos meninos que vivem conosco, mas isso também não é verdade".
No imóvel também moram três rapazes, um deles menor de idade, que foram acolhidos por Joselito e Maria. Eles vendem livros do escritor na rua. "Falaram que se eu não atingisse a meta de venda, ele ma batia com chicote. Não é verdade. A meta quem faz sou eu", disse Erickson Pereira Cavalcante, de 29 anos.
Maria e Joselito disseram que passaram os últimos três dias com medo em São Paulo, onde foram abrigados na casa de um familiar. "Eu só quero que isso acabe logo", desafabou a mãe. "Como é que um pai que passa o dia todo estudando, faço nove cursos de pós-graduação, ainda pensa em bater na filha? Isso nunca aconteceu", finalizou.
Versão dos pais
O estopim para que Gloria saísse de casa, ainda segundo o relato do pai, foi quando familiares encontraram vídeos no celular da adolescente. "O telefone dela [estava] cheio de arquivos com pornografia. Ela estava se prostituindo. Nós íamos sentar [para conversar] e eu ia recuperar ela dessa maldição", disse o escritor.
O sumiço de Gloria foi notado quando Maria foi buscá-la na escola, na segunda-feira (5). Um boletim de ocorrência foi feito, adolescente foi tratada como desaparecida e eles comunicaram a imprensa. Na sexta-feira (9), ele conta que foi avisado pelo Conselho Tutelar de Mongaguá (SP) que Gloria estava na cidade.
"Foi falado lá no Conselho Tutelar [sobre os vídeos e a prostituição], por isso eles entregaram ela de volta para gente", afirmou. Ao retornar para casa, na noite do mesmo dia, a filha, a mãe e o pai gravaram um vídeo que foi compartilhado em uma rede social para dizer que estavam bem e que Gloria havia retornado.
"A gente sentou ali [mostrou o computador] espontaneamente. Foi ela [Gloria] quem pediu para falar com todo mundo. Ela quis se aparecer", disse o pai. De maneira semelhante, ele justifica o boletim de ocorrência feito em seguida. "Ela [Gloria] acusou uma mulher de sequestro. Então fomos na delegacia".
No dia seguinte, domingo (11), a reviravolta. "Fui ameaçado por um homem armado dentro da minha própria casa enquanto eu via minha filha e minha mulher indo para a delegacia. Eu falei que iria também. Deixei eles irem, peguei o meu carro e passei pelo grupo no caminho. Chamei minha mulher e ela entrou no carro. Não obriguei ela".
Joselito e Maria, entretanto, decidiram não ir para o distrito policial "com medo de linchamento" já que "tudo estava armado". Eles seguiram para São Paulo, na casa de um parente, onde ficaram até terça, quando retornaram para o imóvel onde vivem. Além de verificarem a retirada de objetos da filha, eles a acusam de roubar R$ 63 mil.
O casal afirma que vai se apresentar à polícia nos próximos dias para esclarecer os fatos. Joselito disse que vai processar as pessoas que o "difamaram na internet". "Estou sentindo agora um desgosto pelo o que ela fez. Mas ela é minha filha e quero que ela se retrate publicamente. Vou perdoá-la e a quero em casa".
Versão das filhas
Gloria saiu da escola, relatou ter sido acolhida por um amigo e depois foi reencontrar a irmã em Mongaguá, após localizá-la em uma rede social. Em um pedido de socorro, Erika diz ter visto o mesmo que ela passou quando era pequena. Ambas foram pedir ajuda ao Conselho Tutelar da cidade, que decidiu por devolvê-la ao pai.
De volta para a casa, a adolescente afirmou à irmã que foi obrigada "sob ameçada" a gravar o vídeo dizendo que estava tudo bem e que, em seguida, foi à delegacia denunciar as pessoas que a tinham a ajudado. A atitude, segundo Erika, fez com que elas convencessem a adolescente a procurar a polícia no dia seguinte.
Erika e a coordenadora da escola onde ela estuda conseguiram encontrar com Gloria no domingo. Na versão de Erika, a mãe, Maria José, disse ter pedido desculpas e afirmou a ela que, pela primeira vez, "toparia falar a verdade" e concordou ir à delegacia. No trajeto, Joselito as surpreendeu em um carro e levou a esposa.
O caso foi registrado sob naturezas de ameaça (diante das acusações contra o pai), denunciação caluniosa e constrangimento ilegal (por alegar ter sido coagida a fazer um boletim com informações falsas). A partir daquele dia, Gloria foi colocada em segurança em lugar secreto e passou por audiência na promotoria.
Na Vara da Infância e Juventude, a Erika conseguiu a guarda provisória de Erika. No dia seguinte, as duas fizeram um novo boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher para relatar o desaparecimento da mãe e as agressões contra a jovem. O caso ficou sob responsabilidade da delegada Fernanda dos Santos Souza.
Na noite de terça, ambas foram recolher objetos pessoais de Gloria no apartamento do casal, em Santos. Erickson estava no local, acionou os advogados da família, que chamaram a polícia. Sete soldados acompanharam. Segundo o sargento Farias, "foi uma ocorrência simples, de família, que não teve problemas".
O advogado que representa as duas jovem, Dárcio Cesar Marques, afirmou que as novas acusações feitas por Joselito são inverídicas. "Não há vídeos que comprovem a fala dele, assim como não houve qualquer roubo no apartamento. Os policiais acompanharam tudo e até revistaram as mochilas das meninas", garantiu.
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