Brasil
Justiça fecha o cerco em torno de Temer a três dias do julgamento no TSE
Rocha Loures é apenas um dos homens próximos a Temer a perder o cargo por conta da Lava Jato; Romero Jucá, José Yunes e Tadeu Filippelli também foram atingidos pela operação
"Eu duvido que ele faça uma delação. E duvido que ele vá me denunciar", especulou o presidente Michel Temer em entrevista publicada pela revista Istoé horas antes de o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures ser preso pela Polícia Federal em Brasília. Quando Temer concedeu a entrevista, Loures, a quem o presidente se referia como "uma pessoa decente", ainda não havia sido preso. O peemedebista, que completou em maio um ano no comando do país, disse que Loures não tem motivo para delatá-lo, "porque não seria verdade", mas emendou: "Nunca posso prever o que pode acontecer se eventualmente ele tiver um problema maior, e se as pessoas disserem para ele, como chegaram para o outro menino, o grampeador (Joesley): 'Olha, você terá vantagens tais e tais se você disser isso e aquilo'. Aí não posso garantir".
É nessa situação de incerteza que o presidente vai enfrentar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima terça-feira o processo que pode cassar a chapa em que foi eleito junto com a ex-presidenta Dilma Rousseff. Essa incerteza se soma à sensação de que os investigadores da Operação Lava Jato vão se aproximando cada vez mais de Temer, já constrangido publicamente pela divulgação de uma gravação em que manteve conversa pouco republicana com o empresário Joesley Batista, do grupo J&F
Tido como "homem de confiança" do presidente, Rocha Loures foi preso neste sábado após ser flagrado pela polícia correndo com uma mala de dinheiro, já entregue à polícia.
Loures não é o primeiro homem próximo a Temer a cair nas teias da Lava Jato. Desde o início de seu Governo, o presidente vem assistindo a assessores ou políticos próximos sucumbirem às investigações. O primeiro deles foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi forçado a deixar o Ministério do Planejamentologo nos primeiros dias de Governo, por conta da publicação de gravações feitas pelo ex-senador Sérgio Machado. Meses depois, seria a vez de Geddel Vieira Lima, muito próximo a Temer, deixar a Secretaria de Governo após polêmica com o então ministro da Cultura, Marcelo Calero. Essa baixa, pelo menos, não se pode atribuir à Lava Jato.
Apenas um mês depois de Geddel ser abatido por fogo amigo, o assessor especial da presidência José Yunes renunciaria ao seu posto Governo após seu nome ser citado em delação de um ex-diretor da Odebrecht. Mais recentemente outro assessor de Temer foi exonerado, mas apenas depois de ser preso. Tadeu Filippelli foi detido sob a acusação de participar de um esquema de corrupção nas obras de reforma do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para a Copa do Mundo. Esses dois foram diretamente afetados pela maior operação policial da história do Brasil.
É nessa situação, cercado por todos os lados, que o presidente, cuja investigação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin, enfrenta nesta semana o TSE. Para aqueles que acreditam que o veredicto da corte dependerá da força política do presidente no momento do julgamento, a notícia de que um dos assessores mais próximos de Temer foi preso não é alvissareira para o chefe do Palácio do Planalto. Ainda mais quando o próprio presidente demonstra receio em relação a uma possível delação premiada de Rocha Loures.
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