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Trabalhador rural consegue mudar nome de Aydes para Adilson

Aos 44 anos, ele conta que sofreu por muito tempo com piadas e chacotas. Após decisão da Justiça de Goiás, homem poderá trocar toda documentação: "Realizei um sonho".

Por G1 01/06/2017 09h56
Trabalhador rural consegue mudar nome de Aydes para Adilson
Reprodução - Foto: Assessoria

Um trabalhador rural de 44 anos conseguiu mudar seu nome após entrar com uma ação na Justiça, em Mozarlândia, região noroeste de Goiás. Batizado como Aydes (pronuncia-se Aides), ele agora passou a se chamar Adilson Nunes da Silva, de 44 anos. O homem , que se diz aliviado com a mudança, comemorou a decisão e disse que sofreu por anos com comentários pejorativos.

“Realizei um sonho que tinha desde adolescente. Era muito ruim, ouvia as pessoas dizerem que eu tinha nome de doença”, disse ao G1.

O lavrador conta que foi batizado com o nome do médico que realizou o parto, em 1972. No entanto, com cada vez mais conhecimento sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e o preconceito com a doença, ele passou a ser alvo de piadas ainda na escola. Adilson lembra que, mesmo na vida adulta, ouviu chacotas relacionadas ao seu nome.

“O pessoal pegava muito no meu pé. Já tinha tempo que eu queria trocar meu nome. Falavam que era feio, que era estranho. Eu ficava sem graça demais”, revelou.

Há cerca de quatro anos, Adilson decidiu que queria entrar na Justiça para fazer a alteração. Porém, procurou alguns advogados que não levaram o processo adiante. Até que em outubro do ano passado conseguiu a ajuda da defensora Célia Ribeiro de Araújo, que se dispôs a entrar com a ação de forma gratuita.

No último dia 23 de maio, a juíza Marianna de Queiroz Gomes determinou a alteração no nome dele. Ao saber da notícia, ele relata que ficou muito animado. “Fiquei feliz demais, muito satisfeito. Demorou, mas consegui. Dou graças a Deus de ter dado certo”, comemorou.

Processo

A advogada de Adilson conta que aceitou de imediato o pedido do lavrador. Ela lembra que ficou sensibilizada ao ouvir a história dele e se sentiu bem em poder contribuir.

“Quando ele me procurou eu expliquei que poderíamos fazer uma retificação para que ele pudesse adotar outro nome. Logo ele falou para os parentes e amigos e todos já começaram a chamar ele de Adilson. Ele contou que deixou de frequentar muitos lugares por causa do nome. Depois da decisão a esposa dele veio pessoalmente me agradecer. Eles ficaram muito felizes”, relatou.

A juíza que concedeu a alteração explicou que, ao se deparar com o caso, interpretou a situação como um processo sobre cidadania. Ela conta que dispensou a audiência e apresentação de testemunhas porque o problema era notório.

“Ao meu ver, o processo fala sobre dignidade. Lembrei dos anos 80, que foi quando começou o boom da Aids, imaginei com foi para ele o constrangimento de ter esse nome. Foram apresentadas as certidões negativas, atestando que ele não devia nada, consideramos que não tinha fraudes a terceiros e demos a sentença”, declarou.

A juíza ressalta que o processo transita em julgado e que, a partir da segunda semana de junho, o cartório que emitiu a certidão de nascimento dele será notificado para fazer novo documento. A partir da nova certidão ele poderá pedir a alteração de todos os demais documentos.