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Professores de Universidade são presos por fraude em bolsas de estudo

Quatro docentes foram presos nesta sexta. Dinheiro recebido por bolsistas era repassado para docentes detidos.

Por G1 10/12/2016 09h02
Professores de Universidade são presos por fraude em bolsas de estudo
Reprodução - Foto: Assessoria

Três professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram presos na manhã desta sexta-feira (9) em uma operação da Polícia Federal contra desvios de dinheiro oriundos de programas federais de incentivo à pesquisa, como mostra o RBS Notícias (veja o vídeo acima). Uma professora da Unisinos e duas servidoras da UFRGS também foram presas na Operação PhD, que já apurou fraudes de R$ 5,8 milhões.

Delegados da PF detalharam o funcionamento do esquema em coletiva no final da manhã desta sexta, na Superintendência do órgão em Porto Alegre. O delegado Alexandre Isbarrola ressaltou que os professores presos usavam suas atribuições na universidade em benefício próprio.

Delegados detalharam operação em coletiva emPorto Alegre (Foto: Igor Grossmann/G1)

"Olhamos para o caso com preocupação e tristeza. Sempre pensamos que a educação pode salvar. No entanto, vemos pessoas nos mais altos cargos da academia usando recursos públicos para si", comentou Isbarrola.

O esquema consistia na inclusão de bolsistas sem qualquer vínculo com a UFRGS para o recebimento de valores de até R$ 6,2 mil. O dinheiro, então, seria repassado, em parte ou integralmente, para coordenadores dos programas. Mais de 100 pessoas foram beneficiadas com o recebimento de bolsas, investigadas pela Polícia Federal desde 2013. O número total de envolvidos, no entanto, não foi precisado pelos investigadores.

Conforme a investigação, iniciada há seis meses, o projeto SUS Educador era o principal alvo dos desvios protagonizados dentro da área de Educação em Saúde da UFRGS. Eram desviados recursos do Programa de Extensão em Saúde Coletiva, conforme a PF, dentro de atividades de educação continuada e pós-graduação.

PF realizou buscas em Porto Alegre, Canoas ePelotas (Foto: Divulgação/PF)

O dinheiro desviado foi usado, por exemplo, para custear a viagem da mãe de um dos presos à Europa. A PF não divulgou os nomes das pessoas detidas. Outro professor, por exemplo, incluiu uma arquiteta como bolsista de um programa de pós-graduação para que, com o valor da bolsa, fosse pago o serviço da reforma em seu imóvel.

Junto a isso, a PF apurou que o pagamento de diárias, recibos de pagamento autônomo (RPA), bem como outras despesas, também eram usadas para os desvios. Um aluno que recebeu o título de mestre sem ter frequentado cursos ou feito qualquer avaliação, o que evidenciou, segundo a polícia, o direcionamento de seleções.

Familiares dos professores presos, que coordenavam os programas de pós-graduação na área da saúde na UFRGS, amigos e pessoas próximas eram o perfil de beneficiados pelas bolsas, por se tratarem de "pessoas confiáveis". O delegado Alexandre Isbarrola também lamentou o fato de estudantes que poderiam receber as oportunidades para desenvolver pesquisas e estudos terem sido prejudicadas nas seleções para as vagas.

"Os requisitos eram flexibilizados pelos coordenadores. A seleção era subjetiva. Se verifica prejuízos a alunos que deixaram de ser beneficiados com as bolsas de estudo", ressaltou Isbarrola.

A investigação cruzou mais de 300 mil documentos para revelar o esquema de corrupção nos projetos investigados, que totalizam aproximadamente R$ 99 milhões, sendo que a PF apurou cerca de R$ 5,8 milhões em desvios. Os suspeitos são investigados pelos crimes de associação criminosa, estelionato, falsidade ideológica e inserção de dados falsos em sistema de informação.

Além de Porto Alegre, onde foram cumpridos oito mandados de busca, quatro de prisão, e um de condução coercitiva, operação também cumpriu duas ordens judiciais de busca e duas de prisão em Canoas, na Região Metropoliana, e uma condução coercitiva em Pelotas, no Sul do estado. Cerca de 70 agentes integraram as ações.ContrapontosEm nota, a UFRGS disse que foi "surpreendida" com a operação da Polícia Federal e salientou que as denúncias se limitam ao Programa de Extensão em Saúde Coletiva. A universidade informou ainda que não foi procurada "por nenhuma instância" mas que acompanha os desdobramentos das investigações com "muita atenção". "(A universidade) coloca-se à disposição para auxiliar em todos os esclarecimentos que se fizerem necessários para a elucidação dos fatos", observou a Ufrgs em nota.Já a Unisinos informou em nota que não tem vínculo com os projetos objeto da investigação. Observou ainda que a universidade não é alvo da PF. "Dentre as pessoas referidas na investigação, está uma pesquisadora da universidade que realizou seu mestrado e doutorado na UFRGS."