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Brasil é o pior país da América do Sul para ser menina

O Brasil é o 4º país com o maior número de meninas, com até 15 anos, casadas, de acordo com a pesquisa

Por Correio Braziliense 12/10/2016 09h08
Brasil é o pior país da América do Sul para ser menina
Reprodução - Foto: Assessoria

O Brasil é o pior país da América do Sul para ser menina, de acordo com relatório divulgado ontem pela ONG Save the Children, dos Estados Unidos. Entre 144 países avaliados, o Brasil aparece na 102ª posição, à frente apenas de Guatemala e Honduras, no continente americano. Os indicadores avaliados são o casamento infantil, gravidez na adolescência, mortalidade materna, representatividade de mulheres no parlamento e conclusão do ensino médio. No dia internacional da menina, celebrado em 11 de outubro, estatísticas negativas descortinam as dificuldades enfrentadas por elas ao longo do processo de desenvolvimento. A gravidez na adolescência e o casamento infantil são os indicadores que mais preocupam.

De acordo com o relatório, a cada sete segundos, uma garota com menos de 15 anos se casa, na maioria das vezes, forçada. E a cada 12 meses, 70 mil adolescentes morrem por complicações na gravidez ou no parto. Saiba mais Acusado de matar mulher durante missa em Minas Gerais é preso em Goiás Acusado de matar mulher durante missa em Minas Gerais é preso em Goiás Um em cada três brasileiros culpa as mulheres por estupro, diz pesquisa Um em cada três brasileiros culpa as mulheres por estupro, diz pesquisa O Brasil é o 4º país com o maior número de meninas, com até 15 anos, casadas, de acordo com a pesquisa Ela vai no meu barco – Casamento na infância e adolescência no Brasil, realizada pelo Instituto Promundo em parceria com a Unicef, divulgada em 2015. E cerca de 88 mil meninas e meninos, de 10 a 14 anos, estão em casamentos consensuais civis ou religiosos, de acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Apenas três dos países com a maior proporção de mulheres deputadas são de alta renda — Suécia, Finlândia e Espanha. Ruanda está no topo da tabela com 64% de deputadas, seguido por Bolívia e Cuba. Apenas 19% dos deputados nos EUA são mulheres, e apenas 29%, no Reino Unido”, aponta o relatório. No mundo, 23% dos assentos parlamentares são ocupados por mulheres. Qatar e Vanuatu não possuem nenhuma mulher no parlamento. O Brasil está atrás de países com histórico de abusos contra mulheres como Irã, Sudão, Iraque, Índia e Síria. De acordo com a pesquisa, um dos indicativos que contribuem para a colocação é a falta de representatividade de mulheres no parlamento. Mas o relatório também chama atenção para os altos índices nos quesitos casamento infantil e gravidez na adolescência. Para a cientista política e coordenadora do Coletivo Feminino Plural Télia Negrão, o Brasil deixa a desejar no combate ao problema. “O resultado demonstra uma dívida do Estado brasileiro e da sociedade para com as meninas. As políticas públicas são contraditórias e falta enfoque. Vimos a retirada do Plano Nacional de Educação de questões de gênero e sexualidade com repercussão nacional e em municípios. Totalmente contrário às políticas da ONU sobre educação sexual, gravidez na adolescência e empoderamento das mulheres. Esses dados nos fazem pensar o quanto estamos distantes de compromissos internacionais para reduzir esses índices negativos”, afirma.

Segundo a especialista, o problema é mais profundo do que parece e é resultado das desigualdades que assolam o país. “Está relacionado à desigualdade social, econômica e racial. Existe uma relação entre casamento infantil e rota de turismo sexual, ambos presentes no Norte e Nordeste, e correspondem à baixa escolaridade, baixo acesso à informação e exercício da sexualidade sem autonomia. Milhares de meninas de 12 a 14 anos são casadas com homens mais velhos, como uma forma de sustento da família. Gravidez na adolescência é agravo de violência sexual, assim como casamento infantil”, diz.