Turismo

Quebrangulo: terra de cultura e serras

Museu possui um acervo completo sobre a história do escritor alagoano Graciliano Ramos, o filho mais ilustre da cidade

Por Claudio Bulgarelli - Sucursal Região Norte com Tribuna Independente 10/08/2019 09h56
Quebrangulo: terra de cultura e serras
Reprodução - Foto: Assessoria
O roteiro Circuito do Frio chega a Quebrangulo, município que fica a 115 quilômetros de Maceió, encravado na região do Vale do Paraíba e Mundaú, que por possuir clima quente e seco no verão e bastante frio no inverno, se candidata como local propício para veraneios e repousos. É de terra de cultura, tendo no Museu Histórico, um acervo completo sobe a história de Graciliano Ramos, seu filho mais ilustre. É terra também de pontes, por possuir tantas, passou a ser denominado como a segunda Veneza de Alagoas. E é também terra de pedras talhadas pela erosão, dando origem a uma das mais importantes reservas biológicas de Alagoas. Cidade de pontes, Quebrangulo se orgulha de ser chamada de a segunda Veneza de Alagoas. Tem ponte em seu principal acidente geográfico, o Rio Paraíba do Meio, que nasce em Bom Conselho-PE e corta o município, possuindo 30 quilômetros. Tem ponte no Rio Caçambinhas, que nasce em Quebrangulo e banha a sede do município, tendo o curso de 11 quilômetros, até sua foz em Viçosa e tem pontes sobre os riachos Dobrão, Seco, Caçambinha, Bálsamo e Lunga. Cidade de serras por possuir muitas onde o esporte preferido são as trilhas. As mais importantes são as Guaribas, na parte norte com 882 metros; Chorador com 730 metros, nas suas encostas estão as nascentes dos riachos Dobrão e Seco, Cajueiro, com 895 metros, que é a mais alta e dista 20 quilômetros da sede municipal. E a Talhada, onde fica a Reserva Biológica de Pedra Talhada, uma grande atração turística. Cidade de passado histórico, ao visitante, turista ou não, chama a atenção suas igrejas: a da Matriz do Senhor Bom Jesus dos Pobres, domina todo o centro da cidade e a Igreja do Rosário situada na parte mais alta, de onde se pode ter uma visão quase geral da cidade. Em seu passado, vale registrar que suas ruas seguem direção em forma de cruz, talvez devido à religiosidade de seu povo desde o início do povoamento. E cidade da cultura, tendo sido o berço de nascimento do Mestre Graça, o grande escritor Graciliano Ramos. Reserva biológica A Reserva Biológica de Pedra Talhada é um bioma de Mata Atlântica, criada em dezembro de 1989, cujo nome da unidade se deve as formações rochosas talhadas pela erosão das chuvas, com 30% da área representada por vegetação de caatinga. Além de proteger um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica do interior de Alagoas e Pernambuco, a reserva também é considerada um importante centro de endemismo de aves, dentre elas, algumas ameaçadas de extinção, como o gavião-pomba, o uru-do-nordeste e o pica-pau-anão-dourado. Tem 50 km2 entre os municípios de  Quebrangulo, Chã Preta, Lagoa do Ouro e Correntes, em Pernambuco. Trata-se hoje de um dos últimos resquícios florestais atlânticos deste tamanho em toda a região. O clima de Pedra Talhada é marcado por duas estações: uma estação seca, de setembro a fevereiro, e uma estação chuvosa, de março a agosto. A riqueza de espécies, tanto animal quanto vegetal, deve-se, principalmente, a três fatores determinantes: o tipo de relevo, que permite a diversidade da flora e da fauna, com uma variação de altitude de mais de 900 metros entre o fundo dos valões e o topo rochoso; a localização geográfica no ponto de convergência de três ecossistemas florestais: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga e a abundância de água fornecida pelas 165 nascentes que formam inúmeros riachos e brejos do topo da montanha até nas pastagens do entorno. A reserva biológica ainda tem segredos e descobertas. Em junho de 2017, a revista científica Herpetologia publicou a descrição oficial de uma nova espécie de anfíbio descoberta na região: a perereca Sphaenorhynchus cammaeus. Com tamanho entre 2,4 e 2,9 cm de comprimento, o nome científico da espécie significa “pedra esculpida preciosa de duas cores”, numa alusão à sua coloração esverdeada com pintas marrons e à unidade de conservação onde foi encontrada. Por enquanto, a espécie só é encontrada na lagoa do Junco, uma das áreas de vegetação mais conservada da unidade de conservação, a cerca de 850 metros de altitude. De acordo com os pesquisadores, a perereca se reproduz nos meses de junho e julho, no início da estação chuvosa. Mas até a presente data já foram registradas 43 espécies de anfíbios anuros na reserva, uma das áreas com maior riqueza de anfíbios na Mata Atlântica do Nordeste brasileiro. Mestre Graça nasceu no município no ano de 1892 Graciliano Ramos (Mestre Graça) foi escritor, romancista e político. Nasceu em Quebrangulo em 27 de outubro de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em março de 1953. É considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX e proeminente representante do Romance de 30. Em 1904, sai da casa humilde onde nasceu e vai morar em Viçosa. Lá, cria um jornalzinho dedicado às crianças, o “Dilúculo”. Posteriormente, redige o jornal “Echo Viçosense”, que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio. Em 1906 publica na revista carioca “O Malho” sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença. Já em 1909, passa a colaborar com o “Jornal de Alagoas”, de Maceió, publicando o soneto “Céptico” sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Em 1911, passa a colaborar com o “Correio de Maceió”, sob o pseudônimo de Soares Lobato. Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, trabalha nos jornais cariocas “Correio da Manhã”, “A Tarde” e “O Século” e colabora com o “Jornal de Alagoas” e com o fluminense “Paraíba do Sul”, sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta para Alagoas e consegue eleger-se prefeito de Palmeira dos Índios em 1927. Escreve e envia o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “Um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929. Em 1934 publica “São Bernardo”. Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é preso em Maceió com outras 115 pessoas. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Em agosto 1936, já preso, mas com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rêgo, consegue publicar “Angústia”, talvez sua melhor obra. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio “Lima Barreto”, concedido pela “Revista Acadêmica”. As experiências da cadeia, entretanto, ficariam gravadas em uma obra publicada postumamente, “Memórias do Cárcere” que viria a ser publicado em 1953, com um relato franco dos desmandos e incoerências da ditadura a que estava submetido o Brasil, mas que ele não chegou a concluir, por razão de sua morte no mesmo ano, tendo, assim, ficado sem o capítulo final.