Saúde

Cresce atendimento a viciados em jogos

Psiquiatras alertam especialmente para o perigo que os jogos on line representam para as crianças e os adolescentes

Por Ana Paula Omena - Tribuna Independente 31/07/2024 08h40 - Atualizado em 31/07/2024 10h12
Cresce atendimento a viciados em jogos
Psiquiatras Jordana Farias (à esquerda) e Louise Eliziário (à direita) - Foto: Edilson Omena

Jogos de azar são considerados uma forma de exploração financeira e proibidos no Brasil desde 1946. Apesar da ilegalidade, alguns jogos online vêm se tornando populares nas redes sociais. É o caso do “jogo do tigrinho”, que não tem regulamentação ou permissão para atuar no país. Devido à falta de regra, os apostadores ficam vulneráveis a prejuízos e, na maior parte das vezes, perdem altas quantias.

O problema cresce no país e em Alagoas não é diferente. Na era dos telefones celulares, a tecnologia possibilita apostar 24 horas por dia, sete dias por semana, por meio de “cassinos virtuais móveis”. Embora muitas pessoas façam uso apenas recreativo da atividade, cresce o número de casos de dependência, com relatos de trágicas perdas financeiras e até mesmo tentativas ou suicídios.

Especialistas afirmam que o vício em apostas online avança no Brasil e observam a alta alarmante na busca por tratamento. Um fator de preocupação é o alcance crescente entre jovens e adolescentes.

Para falar sobre o assunto urgente, o TH Entrevista desta semana recebeu duas médicas psiquiatras: Jordana Farias e Louise Eliziário Rocha, que têm visto, com tristeza, o crescimento do problema nos consultórios.

No caso de crianças e adolescentes, os pais devem ficar atentos a certos comportamentos, e observar os sinais de alerta. A psiquiatra Jordana Farias, que atende o público infantojuvenil, destacou quais são os sinais perceptíveis de que uma pessoa está se viciando em jogos e apostas online.

Entre eles, ela enfatizou as mudanças de comportamento, ou seja, aquela criança ou adolescente que deixa de socializar para está jogando, deixa de comer junto com a família para jogar, deixa de ir para os aniversários para estar jogando, mudam de humor ficando com muita irritabilidade ou com euforia.

“Os sintomas ansiosos são muito frequentes e às vezes até repercussões clínicas, como problema na visão, na postura, na coluna, e as mães percebem a criança ficando cada vez mais isolada, escondidinha no quarto. São normalmente crianças que não dão tanto trabalho, então quando os pais ou algum responsável pela criança ou adolescente vem perceber já está no período bem mais preocupante”, frisou.

“Hoje há aplicativos que ajudam a bloquear o que a criança acessa. Um conselho que dou, é a família sempre se comunicar, porque o telefone hipnotiza, e a criança cada vez mais está num estímulo absurdo, e daí vem os riscos de cair em jogos de apostas e ficar dependente, o que é, o mais preocupante de todos”, alertou.

Louise Eliziário diz que atendimentos saltaram de forma alarmante (Foto: Edilson Omena)

“Pacientes têm taquicardia e chegam a não dormir”

Louise Eliziário Rocha, psiquiatra que atende o público adulto, enfatizou que os atendimentos psiquiátricos saltaram de forma alarmante nos consultórios de psiquiatria e outras áreas de saúde também.

“Os pacientes vêm com muitos sintomas, às vezes procuram o cardiologista, porque estão com taquicardia, porque a compulsão pelo jogo começa a trazer muitos prejuízos. O paciente passa a não dormir, então ele procura um médico porque ele não está dormindo, o que acaba trazendo todo esse prejuízo para o paciente. O paciente chegando no Clínico, porque não está dormindo é um sinal de alerta para que o profissional saiba o porque ele não está dormindo, entender qual é o x da questão, e as muitas vezes está relacionado com a questão de aumento do uso das telas, e principalmente dos jogos eletrônicos”, ressaltou.

A psiquiatra explicou que o cérebro de uma pessoa viciada funciona com o sistema de recompensa, então quanto mais exposição a determinadas coisas, o cérebro se acostuma com aquela situação, então quanto mais jogo mais dopamina, que é o principal neurotransmissor envolvido na questão dos jogos.
“A dopamina faz a recompensa e cada vez mais o paciente fica em busca de ter mais doses de prazer, é assim que funciona o vício mesmo sabendo que está sendo prejudicado, porque a pessoa passa a não ter controle, nem limite”, observou.

“O vício começa pelo experimentar, pela curiosidade, então o paciente vai cada vez se perdendo nessa ‘teia’. Ninguém joga para perder, a gente joga para ganhar, e se a gente perder a gente tenta novamente recuperar aquilo que foi perdido, e cada vez mais vai fazendo essa busca incansável por jogar”, reforçou.

Recentemente, a polícia alagoano realizou investigações e descobriu uma suposta rede de influenciadores que estariam usando suas redes sociais para supostamente viciar pessoas para a prática de jogos de azar. Alguns deles estão respondendo perante a Justiça e tiveram bens de alto valor apreendidos.
Assista a entrevista completa no canal Tribuna Hoje no Youtube.