Saúde

Sesau analisa se morte de adolescente foi leptospirose

Se confirmada, será primeiro registro de óbito pela doença no semestre em Alagoas

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 26/06/2024 09h42 - Atualizado em 26/06/2024 15h55
Sesau analisa se morte de adolescente foi leptospirose
Contato com água contaminada pela urina do rato provoca doença - Foto: Reprodução

A Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) está investigando a morte de um adolescente de 13 anos com sintomas de leptospirose. Caso os exames conclusivos feitos no corpo do garoto Jakson Gabriel Félix da Silva indiquem a doença como a causa da morte, esse será o primeiro registro de óbito causado pela “doença do xixi do rato” nesse semestre em Alagoas. O garoto faleceu no último dia 22.

De acordo com informações do Programa de Zoonoses da Sesau, de janeiro deste ano até o último dia 24, foram registrados 11 casos da doença em Alagoas, sendo oito em Maceió, dois em Capela e um na cidade de Coité do Nóia. Até então, não houve nenhum óbito, conforme dados do Ministério da Saúde. O caso do adolescente Jackson Gabriel segue como investigado pelas autoridades de saúde do Estado.

Em Maceió, a Secretaria Municipal de Saúde notificou 33 casos de leptospirose, dos quais oito confirmados. No ano passado, foram notificados 75 casos, sendo 28 confirmados. A capital registrou cinco óbitos causados pela leptospirose no ano passado.

A ocorrência da doença está relacionada às condições precárias de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados.

A leptospirose apresenta elevada incidência em determinadas áreas além do risco de letalidade que pode chegar a 40% nos casos mais graves. As inundações comumente registradas no inverno propiciam a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos.

De acordo com a avó do adolescente, Maria do Socorro Félix, Jakson Gabriel Félix da Silva começou a reclamar de dores e a ter febre. Os sintomas tiveram início depois que ele caiu em um bueiro na Vila Emater, no bairro de Jacarecica, onde o menino morava com os avós. O óbito foi registrado no último sábado.

No dia seguinte ao início dos primeiros sintomas, Jackson Gabriel já não conseguia andar sem a ajuda de terceiros. Segundo Maria do Socorro Félix, o garoto não conseguia nem mesmo ir ao banheiro sozinho.

Ao antrar em contato com águas contaminadas é imprescindível usar botas, capas e luvas de borracha para não contrair leptospirose (Foto: Reprodução)

Ano passado foram 56 casos e oito óbitos pela doença

Ao ver a dificuldade do menino para realizar atividades corriqueiras, a família resolveu levá-lo a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Conforme parentes, Jackson Gabriel recebeu duas injeções, foi diagnosticado com Chikungunya e liberado de volta para casa.

Depois disso, foi só piorando e, ainda de acordo com a família, levado novamente à UPA. Novamente, medicado o menino não respondia ao tratamento. Ao ser levado à UPA no Trapiche, logo foi encaminhado à UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

Jackon Gabriel foi transferido para o Hospital Hélvio Auto, unidade referência em doenças infecciosas. A essa altura, o menino já apresentava um quadro de hemorragia e insuficiência respiratória. Na certidão de óbito do adolescente, uma das causas da morte é leptospirose.

Conforme as estatísticas do Ministério da Saúde, no ano passado, Alagoas registrou 56 casos da doença e oito mortes. Em 2022 foram notificados 104 pacientes suspeitos da doença em Maceió. Dentre estes, 44 notificações foram confirmadas, após a investigação epidemiológica, e 10 pacientes evoluíram a óbito por leptospirose, gerando uma taxa de mortalidade de 22,7%.

A doença

A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais, principalmente ratos, infectados pela bactéria Leptospira.

A bactéria entra na corrente sanguínea através de lesões na pele ou pelo órgão imerso por longos períodos em água contaminada ou por meio de mucosas.
O período de incubação, ou seja, intervalo de tempo entre a transmissão da infecção até o início das manifestações dos sinais e sintomas, pode variar de um a 30 dias e normalmente ocorre entre o sétimo e o 14° dia após a exposição a situações de risco.

Água de enchentes e esgoto, perto de lixo, bem como de transbordamento de rios e córregos, pode estar contaminada pela bactéria Leptospira (Foto: Reprodução)

Sintomas: febre alta, dores, calafrios, vômitos e diarreia

Os principais sintomas da doença são febre alta, mal-estar, dores de cabeça constantes e intensas, dores no corpo, principalmente, na panturrilha, cansaço, calafrios, dores abdominais, náuseas, vômitos, diarreia e desidratação.

Cerca de 15% dos pacientes com leptospirose, evoluem para manifestações clínicas graves que normalmente iniciam-se após a primeira semana de doença.

De acordo com a médica veterinária e assessora técnica da Sesau, Bianca Suruagy, a leptospirose é caracterizada como uma doença infecciosa febril, de início súbito, que pode variar desde um processo imperceptível até formas graves. Ela ressalta que a leptospirose é uma zoonose que está atrelada às precárias condições de infraestrutura sanitária.

“Ao entrar em contato com a água contaminada pela urina do rato, as pessoas podem contrair a doença. Por isso, é necessário evitar esse contato e, caso seja extremamente necessário, é imprescindível usar botas, capas e luvas de borracha”, recomenda Bianca Suruagy.

A médica orienta, também, que o uso de água tratada, tanto para ingestão, quanto para higienização dos alimentos, é uma boa medida de prevenção a ser tomada. “Os alimentos devem ser lavados com água limpa, potável e, se preciso, é necessário usar o hipoclorito de sódio, que é distribuído mensalmente para os municípios”, enfatiza.

O diagnóstico é realizado por meio de exames laboratoriais específicos. Ao identificar qualquer sintoma, é preciso procurar atendimento médico imediatamente. Para os casos leves, o atendimento é nas Unidade Básica de Saúde (UBS), gerenciadas pelas Secretarias Municipais de Saúde (SMSs) ou nas Unidade de Pronto Atendimento (UPA) municipais e estaduais. Já nos casos graves, a hospitalização deve ser imediata, visando evitar complicações e diminuir a letalidade.