Saúde

Hospital Universitário nega atendimento a paciente falciforme

24/11/2023 09h41 - Atualizado em 25/11/2023 15h27
Hospital Universitário nega atendimento a paciente falciforme
HU era o hospital referência em para tratar pacientes em crise com doença falciforme - Foto: Assessoria

Portadora da Anemia Falciforme, uma doença genética e hereditária caracterizada por uma mutação no gene que produz a hemoglobina (HbA), Elifabiana Araújo, de 50 anos, está há dias com fortes dores e sem conseguir atendimento médico-hospitalar devido a negativa do Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes (HUPAA), parte alta de Maceió. Desde a semana passada, Elifabiana vivencia um verdadeiro jogo de empurra entre o HU e o Hemoal, e até que eles se decidam quem deverá atendê-la, a paciente sofre.

O HU era o hospital referência no Estado de Alagoas para tratar os casos de pacientes em crise com a doença falciforme, no entanto, após a mudança na gestão, no local são realizadas apenas as consultas (tratamento ambulatorial) e o tratamento das intercorrências nas crises falciforme foi interrompido. Logo, todos os pacientes foram orientados a procurar o Hemocentro de Alagoas (Hemoal).

Porém, a paciente Elifabiana Araújo, que desde os 11 anos de idade sofre com fortes dores nas articulações e crises intensas que culminaram em várias internações, possui as veias periféricas com dificuldade de acesso e para facilitar a administração de medicamentos na corrente sanguínea sem a necessidade de puncionar veias dos braços, foi preciso realizar a implantação total de um cateter, muito comum em casos de pacientes que precisam de um tratamento de longa duração. O fato é que esse cateter totalmente implantado não pode ser manuseado por todo profissional e nem em locais como Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou Unidade Básica de Saúde (UBS).

“O meu cateter não pode ser manipulado por qualquer pessoa, é um cateter que necessita de uma manipulação especial, por um enfermeiro habilitado e é preciso ter um material específico. A agulha que eu uso não vende em farmácia ou casa do médico, por exemplo, é uma agulha exclusivamente hospitalar e adquirida por Cacon. Por conta dessa particularidade, eles me mantiveram no Hospital Universitário para fazer a manutenção do cateter e receber o tratamento durante as crises. Mas, esse tratamento tem sido interrompido com frequência”, informou a paciente.

Nos últimos dias, Elifabiana procurou o HU e o Hemoal por diversas vezes, mas não obteve o tratamento médico-hospitalar necessário. O Hospital Universitário diz que, em casos de crise, ela deve procurar o Hemoal, e o Hemoal fala que não tem condições de atender a paciente devido a falta de pessoa especializada para manusear o cateter, e sem o tratamento adequado, a paciente não consegue sair da crise. Para se ter uma ideia, as dores da crise de um paciente falciforme são tão fortes que, muitas vezes, nem morfina consegue minimizar.

Diante dessa situação, a paciente encontra-se preocupada e inconformada com a falta de assistência médica. No momento, passa por uma nova crise e sem receber o atendimento devido. Vale ressaltar que a paciente ingressou com um mandado de segurança na Justiça Federal e recebeu parecer favorável do Ministério Público Federal devido à sua condição particular.

Em nota, o Hemoal esclareceu que o órgão é referência para a assistência aos 697 alagoanos acometidos pela doença falciforme, caracterizada pela mutação genética das hemácias, disponibilizando para isso equipe multidisciplinar formada por hematologistas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, odontólogos, nutricionistas, farmacêuticos e assistente sociais. Ressaltou que a paciente Elifabiana Araújo procurou atendimento no Núcleo Ambulatorial do Hemoal Maceió no último dia 15 deste mês e foi atendida. Ao relatar estar sentindo dores articulares em membros superiores e inferiores, recebwu medicação subcutânea, que resultou em melhora do seu quadro clínico, o que levou à sua liberação.

Conforme a direção do Hemoal, no dia seguinte, a paciente procurou novamente atendimento no Núcleo Ambulatorial da Unidade Via Expressa do Hemoal Maceió, relatando as mesmas queixas do dia 15 de novembro e foi novamente assistida. "Na ocasião, a equipe de enfermagem plantonista fez a punção de uma via de acesso periférico com êxito, procedendo com medicação à paciente, tendo sido ministrado analgésico, hidratação venosa, o que a levou a ser mantida internada durante a noite, quando também recebeu medicação subcutânea, e resultando na sua liberação no dia seguinte, atendendo a solicitação da própria usuária. Com relação ao fato de a paciente E.F.A. apresentar um cateter totalmente implantado (Port-a- cath), por dificuldades de acesso venoso periférico, a Direção do Hemoal informa que o Núcleo Ambulatorial já dispõe da Agulha de Huber e três enfermeiras estão devidamente treinadas para assistir aos pacientes com crises de doença falciforme e outras patologias hematológicas", ressalta o órgão.

Já o HUPAA informou, também por meio de nota, que não possui atendimento para emergências hematológicas e que, para essas situações, a referência hematológica em Alagoas é o Hemoal. "Em consulta à unidade, fomos informados de que a referida paciente foi atendida na emergência do local na semana passada", diz um trecho da nota do hospital.

O Hospital Universitário informou ainda que oferta, a pacientes adultos e pediátricos com doença falciforme, atendimentos ambulatoriais com consultas pré-agendadas para seguimento. "O HUPAA não dispõe de serviço de urgência para atendimento de intercorrências desses pacientes. Nessas situações, os pacientes devem procurar atendimento no Hemoal, que dispõe de urgência 24h para esse perfil de usuário, ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)", reforça a unidade.