Saúde

12 mil crianças não receberam nenhuma vacina DTP ao longo de 3 anos em Alagoas

Relatório global mostra que pandemia e sistemas de saúde sobrecarregados impactaram o número

Por Assessoria 21/04/2023 14h07 - Atualizado em 21/04/2023 20h43
12 mil crianças não receberam nenhuma vacina DTP ao longo de 3 anos em Alagoas
Para a vacina contra pólio, foram 13 mil no mesmo período - Foto: Tomaz Silva/Arquivo/Agência Brasil

No mundo, 48 milhões de crianças não receberam nenhuma dose da vacina DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche, entre 2019 e 2021. No Brasil, foram 1,6 milhão no mesmo período. É o que revela o relatório Situação Mundial da Infância 2023: Para cada criança, vacinação (The State of the World’s Children 2023: For Every Child, Vaccination – disponível somente em inglês), lançado pelo UNICEF nesta quinta-feira, 20 de abril. O relatório faz um alerta para a urgência de retomar as coberturas vacinais no mundo. No Brasil, para a vacina contra a pólio, os dados são semelhantes aos da DTP: 1,6 milhão não receberam nenhuma dose entre 2019 e 2021.


Em Alagoas, 12 mil crianças não receberam nenhuma dose da vacina DTP entre 2019 e 2021, e 13 mil não receberam nenhuma dose da vacina contra a pólio no mesmo período. “Essas crianças foram deixadas para trás, ficando desprotegidas de doenças sérias e evitáveis. As crianças nascidas pouco antes ou durante a pandemia agora estão ultrapassando a idade em que normalmente seriam vacinadas, ressaltando a necessidade de uma ação urgente para alcançar aquelas que perderam as vacinas e prevenir surtos e a volta de doenças já erradicadas no Brasil, como a pólio”, explica Youssouf Abdel-Jelil, representante do UNICEF no Brasil.

Para uma criança ser considerada imunizada, ela precisa tomar todas as doses recomendadas de cada imunizante e as doses de reforço, quando indicadas. O relatório global traz dados por país e usa como base a tríplice bacteriana (DTP), que conta com três doses. No Brasil, a DTP é oferecida como “pentavalente”, protegendo também contra hepatite B e contra a haemophilus influenza tipo b. Para complementar o estudo, o UNICEF no Brasil traz também uma análise dos indicadores nacionais e por Estado para a pólio, e números estaduais de DTP, com base nos dados do Programa Nacional de Imunização.

“Temos o grande desafio de retomar as altas coberturas vacinais em todo o Brasil após o retrocesso que vivemos nos últimos anos. Atualmente, o Brasil conta com uma cobertura vacinal das mais baixas da sua história desde a criação do Programa Nacional de Imunizações. Já tivemos 95% de cobertura em relação a vacinas como a da poliomielite, e agora não chegamos a 60% de crianças vacinadas. Esse quadro tem que mudar. Para isso, de uma maneira muito clara, temos de combater o negacionismo em relação a essa proteção dada pelas vacinas e às fake news que infelizmente têm sido veiculadas de uma forma irresponsável e criminosa”, afirma a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade.

Os números brasileiros fazem parte de um desafio global urgente. Segundo o relatório, o mundo vive o maior retrocesso contínuo na imunização infantil em 30 anos, alimentado pela pandemia de covid-19. Entre 2019 e 2021, as coberturas vacinais diminuíram em 112 países. A pandemia também exacerbou as desigualdades existentes. As crianças que não estão recebendo vacinas vivem nas comunidades mais pobres, remotas e vulneráveis. Nos domicílios mais pobres, uma em cada cinco crianças não recebeu nenhuma vacina, enquanto nos mais ricos apenas uma em 20. O relatório identificou ainda que crianças não vacinadas vivem frequentemente em comunidades de difícil acesso, tais como zonas rurais ou favelas urbanas.

Percepção sobre importância das vacinas


O relatório Situação Mundial da Infância 2023 revela, também, que a percepção sobre a importância e a confiança nas vacinas para crianças diminuiu em 52 dos 55 países pesquisados. No Brasil, embora os índices continuem altos, houve uma queda de 10 pontos percentuais – antes da pandemia, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis, e pós covid-19 são 88,8%. Diferentemente dos resultados globais, no Brasil a queda de confiança foi mais acentuada entre homens mais velhos (maiores de 65 anos). Na maioria dos países pesquisados, a queda foi maior entre mulheres e pessoas com menos de 35 anos.

Como reverter esse quadro? Para vacinar cada criança, é vital fortalecer a atenção primária à saúde e fornecer aos trabalhadores da linha de frente, em sua maioria mulheres, os recursos e o apoio de que precisam. O relatório global constata que as mulheres estão na linha de frente da distribuição de vacinas, mas recebem baixos salários, têm empregos informais e enfrentam falta de treinamento formal e oportunidades de carreira e ameaças à sua segurança.

O relatório está pedindo aos governos que:

Identifiquem e alcancem urgentemente todas as crianças, especialmente aquelas que perderam a vacinação durante a pandemia de covid-19;
Fortaleçam a demanda por vacinas, inclusive construindo confiança;
Priorizem o financiamento de serviços de imunização e atenção primária à saúde;
Reforcem os sistemas de saúde, incluindo investimento e valorização de profissionais de saúde, em sua maioria mulheres.
No Brasil, busca ativa vacinal e retomada da imunização de rotina Diante dos dados brasileiros, o UNICEF destaca duas linhas de ação complementares e fundamentais. Em curto e médio prazo, o País precisa investir para ampliar os percentuais de coberturas vacinais em todos os estados e municípios, em um esforço conjunto em nível federal, estadual e municipal para que todas as cidades retomem o patamar de mais de 95% de cobertura vacinal de rotina, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em paralelo, é urgente encontrar e vacinar cada uma dos 1,6 milhão de crianças que ficaram para trás e não receberam nenhuma vacina contra a pólio ou a DTP entre 2019 e 2021, e também aquelas que perderam outras vacinas do calendário ou estão com doses atrasadas. “Uma busca ativa dessas crianças, olhando para municípios e estados com maiores números absolutos de não vacinadas e não imunizadas, é essencial, pois elas já ficaram para trás, e correm o risco de nunca ser imunizadas e protegidas contra doenças evitáveis. É urgente, também, retomar as campanhas de vacinação e estratégias de comunicação voltadas a famílias e profissionais de saúde, mas de forma regionalizada, respeitando a situação específica de cada território”, defende Youssouf Abdel-Jelil.

Essas também são as prioridades do Ministério da Saúde. “O Movimento Nacional pela Vacinação lançado pelo Ministério da Saúde em fevereiro deste ano visa unir todo o País no propósito de recuperar as altas coberturas vacinais para que o Brasil volte a ser uma referência em todo o mundo. Vamos reconstruir a confiança da população brasileira nas vacinas e na ciência. É um movimento em defesa da saúde e da vida. Vacinas e água potável são responsáveis pelo aumento da expectativa de vida em todo o mundo. As vacinas salvam vidas”, reforça Nísia Trindade.

Para contribuir com esse esforço nacional, o UNICEF no Brasil conta com a estratégia de Busca Ativa Vacinal (BAV), desenvolvida para apoiar municípios para encontrar crianças não vacinadas ou com atraso vacinal, e tomar as medidas necessárias para que elas atualizem sua carteira de vacinação. A estratégia conta com capacitações para profissionais de saúde, educação e assistência social, e uma ferramenta tecnológica para auxiliar nesse trabalho intersetorial. Para a BAV, o UNICEF conta com a parceria estratégica da Pfizer e o apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.