Saúde

Adolescente: vida sexual precoce e sem proteção

Segundo o IBGE, em Maceió apenas 39% dos sexualmente ativos usaram preservativo na última relação

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 30/07/2022 11h58 - Atualizado em 31/07/2022 14h53
Adolescente: vida sexual precoce e sem proteção
Gessyca Melo, gerente do Programa de Combate às ISTs/Aids, cita a “falta de medo” das doenças - Foto: Assessoria

As estatísticas apontam que a vida sexual dos jovens brasileiros tem começado cada vez mais cedo e sem proteção. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 39% dos adolescentes maceioenses do 9° ano do ensino fundamental com vida sexual ativa usaram preservativo na última relação, este é o menor percentual do país (59%). Os dados preocupam órgãos de saúde no estado e especialistas consultados pela Tribuna. Além de maior exposição a doenças, o comportamento de risco revela a baixa efetividade das políticas públicas.

Ainda de acordo com o IBGE, entre os adolescentes sexualmente ativos, 65% tiveram a primeira relação antes dos 13 anos.

Os dados se contrapõem a outra estatística: o acesso a informação sobre os cuidados com a saúde sexual e reprodutiva nas escolas. 65% dos pesquisados afirma ter recebido informações sobre como adquirir camisinha de forma gratuita. Já 77% dos adolescentes afirmam ter recebido orientações sobre prevenção de gravidez e 82% sobre prevenção a doenças sexualmente transmissíveis.

Isto é, o conteúdo de caráter preventivo e educativo tem chegado na maior parte dos adolescentes e porque isto não tem se traduzido na prática? Segundo Gessyca Melo, gerente do Programa de Combate às ISTs/Aids e Hepatites Virais da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió dois fatores são preponderantes: a “falta de medo” das doenças, principalmente da AIDS que se tornou uma doença crônica nos dias atuais, e o entendimento sobre a gravidade de se contrair uma infecção sexualmente transmissível.

“Vemos um comportamento cada vez mais crescente no dia-a-dia, quando realizamos as ações in loco, nas escolas, nas universidades, vemos que esses jovens não tem aquela preocupação, aquele medo de que a AIDS mata, por exemplo. Na década de 1980, 1990, as pessoas morriam pela doença, era algo incurável, hoje com o avanço dos retrovirais, vemos a doença como crônica, em que as pessoas tem uma sobrevida e isso dá a falsa percepção de que não é grave. Quando conversamos com os adolescentes e até universitários eles dizem que estão se prevenindo e quando perguntamos as medidas dizem que é pílula, quer dizer, eles se preocupam com uma gravidez indesejada, mas não tem a preocupação com as doenças, que são silenciosas e podem afetar qualquer um, mesmo que só tenha um parceiro”, pontua a especialista.

Ainda de acordo com Gessyca, outro fator que tem preocupado é o avanço das IST’s neste público. Segundo ela, a maior concentração de novos casos de HIV está na faixa etária de 20 anos.

“Quando realizamos conscientização, realizamos também a testagem em jovens e encontramos doenças sexualmente transmissíveis e fazemos a orientação. Os novos casos de HIV estão no público de 20 anos, levando em consideração que as pessoas não descobrem de imediato, sempre leva algum tempo, percebemos que a exposição tem ocorrido cada vez mais cedo. E é fundamental que eles entendam que precisam cuidar da própria saúde e da saúde dos que estão a sua volta e uma forma de fazer isso é a prevenção”, diz.

Prevenção à saúde do adolescente

Ainda vista como um tabu por boa parte da população a educação sexual se constitui como uma ferramenta de prevenção à saúde dos adolescentes. A psicóloga Monysy Sarmento enfatiza que o diálogo é fundamental.

“Sabemos que a mídia, as redes sociais tem uma forte influência na vida dos jovens, com isso é importante acompanhar a influência dessas informações na vida deles, pois muitas vezes a sexualidade na adolescência é tratada com excesso de naturalidade e muitas vezes com informações distorcidas sobre o assunto. Diante disso é fundamental que a família esteja presente conversando, orientando, acompanhando e estabelecendo esse diálogo sem punição, sem cobrança, de forma clara e objetiva, bem como oportunizando a esse adolescente que expresse suas angústias e dúvidas sobre a sexualidade.

Monysy salienta que caso a família tenha dificuldade em tratar do assunto, é possível procurar ajuda por meio de rede de apoio, através de profissionais que podem auxiliar nesse processo.

“Falar sobre sexualidade é falar sobre relacionamento afetivo, saúde física e emocional, autocuidado e cuidado com outro, mostrando para esse adolescente as implicações que esse ato praticado de forma precoce e sem orientação pode não só trazer uma gravidez indesejada, Infecções Sexualmente Transmissíveis, mas também pode afetar os aspectos psicológicos e emocionais impactando no seu futuro e no que ele(a) busca para si mesmo, fazendo com que compreenda que o adolescente não está maduro o suficiente para assumir as consequências de seus atos”, pontua.

LEIA MAIS NAS VERSÕES IMPRESSA E DIGITAL DA TRIBUNA INDEPENDENTE